A construção de uma Persona “coletivamente” adequada significa uma considerável concessão ao mundo exterior, um verdadeiro auto-sacrifÃcio, que força o Eu a identificar-se com a Persona. Persona, na visão Junguiana é uma espécie de máscara destinada a, por um lado, produzir determinado efeito sobre os outros e por outro, ocultar a verdadeira natureza do indivÃduo. Ela é benéfica até o ponto onde houver uma identificação com essa máscara, impedindo não só “Ser Você Mesmo”, como não conseguir mais “conhecer 'O' Si Mesmo”.
Quem constrói uma Persona boa demais, sofrerá crises de irritabilidade. Essas identificações com o papel social (profissional, pai, mãe, filho, amigo, homem, mulher, etc...), são fontes abundantes de neuroses. Jamais conseguiremos nos desembaraçar de nós mesmos em benefÃcio de uma personalidade artificial. Mas estamos adoecendo, como nunca, de tanto tentar. A simples tentativa de fazê-lo desencadeia em todos os casos, reações inconscientes. O “forte” no contexto social, frequentemente é uma criança na vida particular, no tocante a seus estados de espÃrito. Sua “disciplina e moral pública”, quase sempre “sem mácula”, tem um aspecto estranho atrás da máscara.
Nem sempre é percebido a partir dos seus atos, porque uma persona bem colada consegue enganar, por um tempo, até a si mesmo, imagina então as pessoas mais Ãntimas. Mas na terapia conseguimos saber o que tem atrás da máscara observando as fantasias. Um homem pode ser um impecável advogado especialista em famÃlia, mas, fantasia, sonhando ou acordado com relações “imorais”. Uma mulher aparenta ser uma mãe extremamente dedicada, vive dizendo que dá a vida pelos seus filhos, mas sonha que os está matando, ou de forma “delicada” os culpa por não ter se desenvolvido profissionalmente.
Somos forçados a nos identificar com a Persona, pela pressão do mundo exterior, mas também por influências que atuam de dentro. Assim, o inconsciente oprime o Eu, com a mesma pressão que a Persona exerce sobre ele. A falta de resistência exterior contra a sedução da Persona corresponde a uma fraqueza interior relativa à s influências do inconsciente. O papel desempenhado fora é atuante e forte, ao passo que dentro vai se desenvolvendo uma fraqueza contra as influências do inconsciente: estados de espÃrito momentâneos (hoje rotulados de bipolaridade); afetos exagerados (dependências amorosas e da opinião do outro); ideias obsessivas (TOC, déficit de atenção e outras patologias afins); fraquezas (depressões); angústias (pânico, fobias); vÃcios (drogas, bebidas, sexo).
A boa notÃcia é que, pouco a pouco, ao deixarmos de ser nós mesmos, num ato de salvação, essas fraquezas vem para o primeiro plano. Quando chegam é porque internamente já não havia mais condições de sobreviver com um estranho sendo “Eu”. E então temos a oportunidade de trazer à tona nosso conteúdo “particular”, nossas forças e fraquezas, nossos reais desejos, clarear a escuridão e conhecer suas verdadeiras intenções, aprendendo assim a aceitar o que aparece e desenvolver-se à partir disso, agora sem as ilusões. A realidade é tudo que temos. A intensidade do sofrimento vem de acordo com o quanto estávamos aprisionados.
As mais conhecidas patologias desse momento da nossa história existem porque desde muito cedo estamos sendo ensinados a negar “quem somos”.
Luciana Sereniski
CRP 12/06912