Autodesenvolvimento

Retirando as Máscaras

11:30


De repente cai a máscara e então se percebe que ela não era adequada para o futuro, tampouco para o presente. Somente estava preparada enquanto se encenava, enquanto havia a ilusão social, enquanto era observada pelas pessoas que estavam sempre dispostas a aplaudir, a mostrar admiração. Ninguém percebia a vergonha, o quanto se estava dura por tentar vencer, não na vida, mas da vida, ninguém via o quanto se era rude por trás do personagem, apenas uma palhaça a mais, no vasto teatro da vida.

Quando cai a máscara, a sensação de vazio começa a tomar conta. As máscaras vivem caindo e constantemente com qualquer coisa e sem pensar, nem tentar ser melhor dessa vez, vamos preenchendo rapidamente esse espaço para que ninguém perceba o quanto somos mornos, insossos, sem graça. Vestimo-nos de chefes, de mãe, de pai, de um grande amigo, um exímio amante, tudo na tentativa de manter a platéia sorrindo com nossas peripécias. Que quadro angustiante e cheio de desespero, depressivo talvez, imperando a infelicidade.

Ninguém acreditaria que atrás dos seus lindos olhos coloridos, tudo é escuridão. E não adianta insistir com as lembranças: o primeiro amor, o primeiro beijo, uma grande aventura, a melhor noitada, a viagem à Paris, a primeira conta paga por si mesmo, a primeira sensação de liberdade. Muita emoção, mas são somente lembranças e chega o dia em que não se consegue mais manter a cara pintada, o sorriso falso, o nariz vermelho no lugar porque uma verdade explosiva anuncia que é chegada a hora de aposentar o personagem, retirar a máscara, ao menos essa que não era saudável, e encarar com todo o medo a plateia decepcionada por ter visto a realidade.

Por tantas vezes em nossa vida, em diferentes situações, as máscaras vão sendo construídas e constantemente adaptadas para nos proteger. Criamos personagens diferentes, de acordo com cada situação, se tornam tão profundos que mesmo no mundo mais íntimo e particular, ao olharmos no espelho não nos reconhecemos.

Bendita seja a hora, se vier a existir, que ao se olhar e não enxergar nada, ao menos se perceba que não se é mais feliz assim, que os sonhos hoje construídos e as máscaras se confundem e te confundem, não combinando mais com a realidade. Tomara haja tempo para que essa reflexão não aconteça, nos vários dias que depois de tanto sentir o que também não se sabe o que é, numa cama de hospital. Tomara haja tempo ao menos para lavar o rosto e sorrir para você pela primeira vez mostrando os dentes. Tomara não dê tempo para preparar rapidamente outra máscara e que você se dê a oportunidade de estar inteira ainda nesta noite, longe da angústia de se proteger de si mesma.

Luciana Sereniski
CRP 12/06912