Autodesenvolvimento

Trauma e Reaprendizado Emocional

16:38


Os atos de violência são mais traumatizantes do que catástrofes naturais, como um terremoto por exemplo. Um acidente, estupro, assalto, incidentes ocorridos apenas uma vez não são superiores, mas se equiparam às situações de maus tratos na infância, abusos verbais, abandono, de forma constante, e até mesmo situações que não parecem como a persistente falta de dinheiro gerando brigas e inseguranças podem ser traumatizantes. São situações que geram trauma porque a mente entendeu que a pessoa foi escolhida para viver aquele sofrimento, ao contrário das catástrofes naturais, mesmo que em ambos tenha sido gerado o fator principal para ser trauma: a impotência em agir. 

Essa impotência, confirmada em muitas pesquisas é responsável por alterações bioquímicas no cérebro ficando desreguladas substâncias como adrenalina e noradrenalina, e fazendo com que o corpo se mobilize para uma emergência, mesmo quando é uma situação normal. No trauma qualquer situação ligada à ele também pode trazer essa sensação de urgência, alterando todo o corpo e emoção, pois evoca o trauma original.

Quero exemplificar com uma situação muito comum e que as pessoas nem tem ideia que vem de um trauma. Uma criança acompanha os pais desde muito cedo ao supermercado na compra do mês e sente a aflição deles ao pagar a conta, a resistência em pegar o dinheiro, o olhar constante para a tela de digitação de valores, o suor no rosto pela ansiedade dos pais, a espera do caixa do mercado, enfim a resistência em dar o dinheiro em troca da alimentação. Se essa criança viveu uma situação dessas, e normalmente não acontecia só para a alimentação, mas para pagar o aluguel, a luz, o gás, o material da escola, suas necessidades de roupa, tudo enfim, ela, até pela sensibilidade infantil foi assimilando aquilo e fazendo associações. Lidar com dinheiro quando adulta tornou-se traumático, e ela faz isso com angústia, nunca ficando dinheiro na sua mão. Ela precisa gastar, passar para frente, criar problemas, principalmente porque ela tem dificuldade de ganhar dinheiro já que associou ele a uma coisa horrível, que traz problemas para uma família. Ficando só na situação do supermercado, nos dias atuais essa pessoa pode ficar angustiada, ter falta de ar, acelerar o coração só de entrar num supermercado ou pensar que precisa ir, ou olhar para a caixa e ficar tremendo e confusa mentalmente ao pegar o dinheiro. E até ouvir música após as compras pode remeter ao trauma e lhe causar irritabilidade porque após as compras os pais voltavam ouvindo o rádio. Se voltavam brigando, na atualidade qualquer briga pode hoje gerar uma angústia terrível pois a leva ao trauma, a falta de dinheiro. 

A situação em si e tudo à volta pode ser contaminado quando um trauma vai se formando. Estas situações aparentemente inocentes são o motivo hoje de muitas pessoas não conseguirem ganhar o que desejam, pois apesar de desejarem muitíssimo o associaram a falta, de uma forma traumatizante. No tratamento psicoterápico quando encontramos a causa raiz conseguimos desamarrar o nó e liberar a emoção represada. Essa causa é responsável por nossas crenças, limitações, complexos e ao desatar o nó principal todas as associações feitas também são liberadas e a energia antes inconsciente que atuava prejudicando, agora fica disponível na consciência para criar uma nova realidade. Vejam, não é criada uma nova realidade após desatar, ela precisa ser construída após a liberação. Mas enquanto presa essa energia comandava a falta de dinheiro na vida da pessoa. 

É importante salientar que pessoas que sofreram traumas na infância estão suscetíveis a sofrer outros traumas. No processo psicoterápico após a liberação da causa raiz que pode ser rápida, se faz necessário o reaprendizado emocional e cerebral, pois apesar da emoção ter sido liberada os caminhos neurais ainda estão fortalecidos e podem agir sem nossa consciência. Essa reeducação é o que fortalece o senso de domínio sobre aquele traumático momento de impotência.

Há vários passos para estar no estado natural, consciente, e o primeiro deles é a conscientização de que não é preguiça ou resistência em mudar, só não sabemos o caminho para isso. Não estamos conseguindo sozinhos, apesar de sabermos que somos totalmente responsáveis pela mudança. Buscar auxílio profissional é sinal de que se está pronto para lidar com o trauma e com vontade de mudar. Esse é o início da mudança.

Luciana Sereniski
CRP 12/06912

Autodesenvolvimento

Estar no Agora

22:02


O pensamento é um aspecto para tomada de consciência. Mas podemos tomar consciência sem o pensamento. O estado de mente vazia, a entrega, o soltar é a consciência sem o pensamento. Com isso não ouso rebaixar o pensamento, apenas que deveríamos nos abster de ser controlados por ele. Precisamos aprender a pensar conscientemente.

Uma emoção é a representação de um pensamento energizado. A emoção quer assumir o controle e na maioria das vezes consegue porque nos identificamos com ela. Se os pensamentos e as emoções fossem somente positivos seria perfeito, mas na grande maioria das vezes o que produzimos são pensamentos e emoções negativos, doentios, destrutivos, e pior, de forma inconsciente. O que isso significa? Não tivemos nenhum poder de escolher o que pensar ou sentir, fomos escolhidos, e eles chegam para dominar.

Medo, raiva, ciúmes, inveja, tristeza, angústia, ansiedade, culpa, são alguns dos nossos visitantes. Atire a primeira pedra aquele que não sentiu um desses hoje. Mas se nos mantivermos Presentes, vivendo no Agora, olhando para o Momento essas invasões vão perder força. Se observarmos a emoção, se nos mantivermos atentos à elas no nosso corpo, e por segundos que seja dermos atenção, elas nos mostrarão o pensamento que as desencadeou. 

Se ao nos depararmos com o pensamento que originou esse mal estar, uma raiva por exemplo, ele perceber que foi descoberto, e se ele apenas for observado, sem confrontação, no controle da situação, ele não vai se sentir ameaçado e vai seguir o caminho que o originou, então saberemos o que está dentro de nós escondendo-se em grande parte por meses, ou anos, e provocando sofrimento para nós e para as pessoas envolvidas.

Estar no Agora para poder tomar consciência de pensamentos e sentimentos é estar abrindo os olhos para enxergar, porque por melhores coisas que haja no inconsciente, se não vierem à tona, é uma força agindo contra a Vida porque é sentido como impulso e não escolha, portanto sempre sendo contestado, duvidado e podendo assim ao invés de certezas gerar apenas mais insegurança. 

Luciana Sereniski
CRP 12/06912

Autodesenvolvimento

Resistência e Procrastinação

12:19


Aonde mais resistimos encontra-se nosso maior desafio. Aonde mais temos problemas é aonde mais nós precisamos evoluir. Por isso se torna tão difícil agir em determinadas situações, exatamente nas quais está o maior aprendizado, àquele que nos levará à próxima fase. Mas quando paramos para observar nossos comportamentos percebemos que não são em muitas situações que resistimos e procrastinamos. Mas nas que fazemos ficamos quase que inúteis física e psicologicamente. Resistimos tantas vezes em resolver a questão que a questão torna-se maior do que nós, e assim criamos um monstro com uma boa estrutura que parece querer nos devorar quando ousamos chegar perto. 

Todos nós já passamos por cães desconhecidos nas ruas, aqueles acompanhados por seus donos, mas soltos, latindo e nos provocando. Se seguimos em frente, não ligamos, não corremos, apenas seguimos, ele imediatamente para. Eles fazem isso por medo de nós. Mas há cães e cães. E não sabemos exatamente quais mordem. Com nossas questões resistentes e procrastinadoras também não sabemos exatamente que nível de agressividade elas têm quando vamos chegando perto. Mas não temos outro caminho. Precisamos contar com a autoridade do dono do cão, assim como na nossa capacidade de correr, se necessário. Também ajudaria a capacidade de acalmar o cão, mas aí eu sei, já é pedir demais para quem procrastina. 

Não arriscamos a: deixar uma relação abusiva, parar de fumar, buscar ou mudar de trabalho, parar de trair, mentir, parar de resistir à falar em público, parar de se alimentar descompensadamente, porque achamos que não estamos preparados para a causa que está abaixo desses sintomas. A questão é que nunca estamos preparados. Se percebermos aonde resistimos, como procrastinamos será um grande mérito, e já mostra nossa elevada consciência. Mas prontos. Não, nunca estamos. 

Sair de situações aonde haja a resistência é saltar no escuro, é voar com medo, é gritar sem voz, mas é agir. E as pessoas que mais avançam, evoluem e são felizes são as que vão direto para seus objetivos. E vão com as pernas trêmulas, engasgadas, com o coração saindo pela boca, mas vão. E normalmente começam fazendo mais ou menos o que se propuseram, mas, avançam incrivelmente. Matar um monstro interno é uma vitória que não acontece todo dia, mas quando acontece, todo o Universo se redireciona e olha para nós nos perguntado: Eu sei para onde você quer ir. Como posso ajudar?


Luciana Sereniski
CRP 12/06912

Autodesenvolvimento

Medo

16:42


Precisamos, para limpar a alma das nossas inquietações, imperfeições, dificuldades, fraquezas: focar, iluminar, dar atenção à isso. Ao colocarmos luz a “coisa” fica evidente e então podemos examinar e ajustar àquilo em nós. Caso isso não aconteça e insistamos em correr a vida sem essa varredura, seremos perseguidos pelo que impedimos de se manifestar, e sentiremos medo de nós. Esse medo das nossas sombras precisa vir à tona, pois a energia gasta para esconder algo é demasiadamente alta. Para nos manter vivos, já que não assumimos a sombra, o inconsciente dá seu jeitinho de nos fazer buscar àquela energia que a sombra agrupa, e joga a história para fora de nós, projetando. É quando começamos a sentir medo das coisas e das pessoas.

Colocar a atenção na sombra não é morar por lá. Muitas vezes por passarmos muito tempo no nosso escuro temos dificuldade para voltar, arrumamos uma depressão por exemplo, ou nem voltamos. Ficar parado focalizando apenas nos conflitos internos, nas dificuldades, deixando a vida girar em torno delas, colocá-las como peças centrais da nossa vida, acaba apenas alimentando mais àquilo, aumentando o medo, e se tornando perigoso para nós. 

O tempo certo é: se preparar, entrar, colocar luz, analisar, e ter uma ação imediata. Quando se coloca luz e se analisa se chega a conclusão de que a sombra sempre foi luz e agora participa do seu Todo. Mas o ajustamento dela após a primeira ação pode acontecer em 1 minuto, 1 hora, 1 dia, 1 mês, 1 ano, 10, 20...conforme seja necessário e dependerá da vontade colocada em resolver e do preparo emocional do momento. Embora só se enxerga como desajuste quando já se tem um certo preparo interno.

O medo de olhar para o que há em nós de “pouco amável e pouco belo”, terá como resultado a perda do nosso poder de pensar e agir com espontaneidade. A forma de nunca mas ter medo é nunca mais se dividir entre minha parte boa e minha parte má negada, e entender que esses dois lados e suas nuances nos tornam inteiros. Ao não ter mais essa divisão eu me reintegro e não existe mais o mal ou o bem, apenas o EU em processo de autodesenvolvimento. E o medo sem alimento não sobrevive.

Luciana Sereniski
CRP 12/06912