Pense antes de Falar
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Sequestrar pode significar retirar alguém de sua condição de liberdade e colocá-lo sob o controle de outro. O sequestro ocorre à revelia do sequestrado e este pouco pode fazer para evitar o acontecido, já que é sempre tomado de surpresa e não dispõe de tempo para se defender.
Pois bem, o cérebro humano com frequência é palco de um tipo de sequestro, que é a palavra médica utilizada para designar aquele momento crítico em que a razão é superada por forte emoção em uma situação difícil. Quando a razão recupera o controle, instantes depois, o estrago pode já ter sido feito.
A parte do cérebro humano responsável pela lógica e que normalmente controla as decisões e atitudes das pessoas chama-se neocórtex. Trata-se daquela parte superficial, enrugada e cinzenta que forma a porção visível do cérebro quando se olha para sua figura inteira. O nome neocórtex significa algo como "casca nova". É a parte superficial do cérebro, que surgiu por último durante o processo de evolução. Só os seres humanos possuem neocórtex.
Mas é claro que o cérebro não surgiu com nossa espécie. Muito antes de o neocórtex surgir e nos diferenciar das outras formas de vida como um "ser pensante", já havia espécies com cérebro. Mais simples, sem dúvida, mas ainda assim um cérebro. O curioso é que, embora nossa massa encefálica tenha se aperfeiçoado ao longo dos milênios, as estruturas básicas, que formavam os cérebros mais primitivos, se mantiveram. Ou seja, nosso cérebro humano contém um cérebro de réptil. A estrutura mais primitiva é o tronco cerebral, responsável pelos instintos mais básicos. Depois disso, surgiu o sistema límbico, que é onde se processam as emoções. E foi dele que evoluiu o cérebro pensante - o neocórtex.
Lá no sistema límbico existe um componente chamado amígdala - que não tem nenhuma relação com as da garganta. Apenas o nome é o mesmo, só porque ambas lembram "amêndoas" em sua forma. A função da amígdala cerebral é funcionar como uma espécie de alarme que desencadeia reações de proteção em caso de alguma emergência. Ao perceber algum perigo, logo imagina o pior e trata de desencadear uma reação, que sempre será de fuga ou de agressão, porque essa é a maneira animal de manter a vida.
O curioso é que a amígdala recebe a informação do perigo antes do neocórtex. Por isso, a reação começa antes mesmo que a pessoa tome consciência do perigo. Muitas vezes nem há risco de verdade, mas até o raciocínio perceber isso o alerta já está dado. Parece incoerente, mas esse mecanismo garante uma percepção rápida do perigo. A natureza prefere errar por excesso de zelo.
Quando a amígdala toma conta da situação e provoca reações às vezes desproporcionais ao fato, dizemos que aconteceu o "sequestro" da razão. O neocórtex foi superado e controlado pela amígdala por alguns instantes. Muitas vezes isso é bom, porque aumenta a velocidade da resposta diante de um perigo. É o que faz uma pessoa saltar ao perceber um carro aproximando-se em alta velocidade. A percepção da tragédia não é cortical, racional. É amigdaliana, instintiva.
O problema é que a amígdala interfere também quando há outro tipo de perigo, não físico, mas emocional. Durante uma divergência de opinião, por exemplo, você pode perceber, repentinamente, uma espécie de perigo causado pelo rumo da discussão. Isso se dá de modo inconsciente e você não nota que está sendo tomado pelo sentimento de preservação de sua vida, ainda que seja a vida emocional. Sente apenas uma sensação de desconforto e medo, seguido da necessidade de agredir. De repente, pode acontecer o sequestro da razão e você terá, com certeza, uma reação violenta, por palavras ou atos, desproporcional ao fato que a causou. Faltou contar até dez.
Se o sequestro da razão ocorre de maneira espontânea, comandada apenas por nossa biologia, podemos fazer algo para controlar esse fenômeno? Tudo indica que sim, que podemos aumentar o controle da lógica sobre a resposta emocional. Aumentar esse controle significa, na prática, aumentar a inteligência, aquela que é chamada de inteligência emocional.
SEM INTELIGÊNCIA EMOCIONAL NÃO HÁ RELAÇÃO QUE SOBREVIVA. COMECE A TREINAR. MÃOS A OBRA.
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Luciana Sereniski
CRP 12/06912
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