Perdão: O abandono da dívida - Parte 4

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Existem muitos meios e proporções com os quais se perdoa uma pessoa, uma comunidade, uma nação, por uma ofensa. É importante lembrar que o perdão final não é uma capitulação. É uma decisão consciente de deixar de abrigar ressentimento, o que inclui o perdão da ofensa e a desistência da determinação de retaliar. É você quem decide quando perdoar e o ritual a ser usado para assinalar esse evento. É você quem resolve qual é a dívida que você agora afirma que não precisa ser mais paga.

Algumas pessoas optam pelo perdão total: liberando a pessoa de qualquer de reparação para sempre. Outras pessoas preferem interromper a reparação no meio, abandonando a dívida, alegando que o que está feito está feito e que a compensação já é suficiente. Outro tipo de perdão consiste em isentar a pessoa sem que ela tenha feito qualquer reparação emocional ou de outra natureza.

O perdão é onde vão culminar toda a abstenção, o controle e o esquecimento. Não significa abdicar da própria proteção, mas da própria frieza. Uma forma profunda de perdão é deixar de excluir o outro, o que significa deixar de mantê-lo à distância, de ignorá-lo, de agir com frieza, condescendência e falsidade. É melhor para a psique da alma restringir ao máximo o tempo de exposição às pessoas que são difíceis para você do que agir como um robô insensível. 

O perdão é um ato de criação. Você pode escolher entre muitas formas de proceder. Você pode perdoar por enquanto, perdoar até que, perdoar até a próxima vez, perdoar mas não dar outra chance, Você pode dar só mais uma chance, dar mais algumas, dar muitas chances, dar chances só se... Você pode perdoar uma ofensa em parte, pela metade ou totalmente. Você pode pode dar um perdão abrangente. Você decide.

Como você sabe que perdoou? Você passa a sentir tristeza a respeito da circunstância, em vez de raiva. Você passa a sentir pena da pessoa em vez de irritação. Você passa a não se lembrar de mais nada a dizer a respeito daquilo tudo. Você compreende o sofrimento que provocou a ofensa. Você prefere se manter fora daquele meio. Você não espera por nada. Você não quer nada. Não há no seu tornozelo nenhuma armadilha de laço que se estende desde lá longe até aqui. Você está livre para ir e vir. Pode ser que tudo não tenha acabado em "Viveram Felizes para Sempre", mas sem a menor dúvida existe de hoje em diante um novo "Era uma vez" à sua espera.

Extraído do livro Mulheres que correm com os lobos – Clarissa Pinkola Estés

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