Quais os principais Tipos de Sofrimento e sua Finalidade?

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Existem basicamente 4 tipos de Sofrimento:

1 - Sofrimento que gera sofrimento - exemplo: uma dor psicológica que gera uma dor física ou vice versa.

2 - Sofrimento pela forma incorreta de encararmos a vida - sofrimento gerado pelos nossos apegos: meu carro, meu trabalho, minha casa, meu filho - e não  aceitação da impermanência das coisas.

3 - Sofrimento pelos falsos desejos, por aquilo que não consigo alcançar.

4 - Sofrimento resultante do Condicionamento - ele abarca a educação incorreta, a convivência social pouco saudável que propicia agregados físicos e mentais contaminados: crenças sobre a vida, morais, religiosos, entre outros.

A necessidade do sofrimento é devido a falta de consciência dos conteúdos inconscientes, que só conseguem se pronunciar para serem resolvidos em nós e para nós quando situações negadas, temidas, recusadas vêm à tona. Sofrimento não tem a finalidade de trazer prejuízo, ao contrário, quer a evolução do Ser em sua totalidade. Pessoas que já se tornaram inteiras, podem passar pelas mesmas situações caóticas, mas sem o sofrimento. Além da aceitação da situação, aprenderam a usar todas as capacidades para resolver as questões e não lutar contra elas.

Pessoas inteiras não são pessoas perfeitas, mas pessoas que tomaram consciência de seus aspectos, positivo e dito negativo, e buscam se melhorar constantemente. Tomar consciência do seu lado negativo, sua “feiura”, não é dizer: “eu sei que sou egoísta”, mas mergulhar no seu egoísmo sem mecanismos de defesa e assumir, quando assim é: “Sim, sou egoísta, sou capaz de prejudicar o outro, fazer maldades para ter isso só para mim. Já fiz isso, aquilo, aquilo, quero fazer aquele outro, etc... . Ou não fiz porque meus valores não permitem, mas é meu desejo”. Sem justificar , apenas assumir, seja lá o que for, e em que nível for. Assumir para Si Mesmo e perceber a influência disso nos seus problemas e buscar uma forma de à partir de então fazer diferente. 

Assumir que sua inveja não é "branca", mas de um "escuro" reluzente, que sua desonestidade é a mesma de um político corrupto ou até mais, mas que você prefere manter a farsa de bem sucedido. Enfim, é olhar no espelho e se enxergar. Não é publicar nas redes sociais, estampar nos jornais. O que vale é nosso próprio reconhecimento. E então a energia que estava represada na ânsia de me esconder de mim volta a estar disponível na consciência para eu tentar resolver a questão. 


Julgar-se, culpar-se não faz parte do caminho da consciência e resolução das questões que trazem sofrimento ou iriam trazer se não viessem à tona por livre vontade. Seria somente agregar mais sofrimento. Ação e transformação é necessário. 

O sofrimento que temos quando por desejo tomamos consciência, frustra nosso ego, faz com que ele seja obrigado a se transformar. O sofrimento que temos quando a feiura que foi impedida de sair, cresceu se transformando num monstro e irrompeu no ego, não frustra, mas destrói totalmente o ego, como se ele se transformasse num quebra cabeças com as peças jogadas ao alto. Como montar uma figura que num primeiro e talvez extenso tempo não terá a imagem compreendida?

O excesso de sofrimento, por algo que foi muito tempo negado pode impedir a reconstrução de um ego saudável e da possibilidade de autodesenvolvimento. O sofrimento por algo se mantém porque ou não queremos, ou não conseguimos perceber a realidade que está subjacente, o aprendizado que está batendo a porta.  Demos aval ao ego para ser o dono da casa e nos impusemos a função de mordomos.

O ego frustrado diminui seu poder, enquanto nosso Eu verdadeiro encontra espaço para surgir, até o momento total de consciência, onde o sofrimento desaparece. Pessoalmente não conheço alguém sem sofrimento algum, mas conheço muitas pessoas com grande controle e consciência, manipulando a sua própria vida, como deve ser. 

Dos quatro tipos de sofrimento, o que pode ser o mais difícil de resolver é o resultante do condicionamento. Aquele que aprendemos com as pessoas que um dia confiamos, ou ainda confiamos. Jung dizia que a consciência é passível de ser domesticada como um papagaio, mas isso não se dava com o inconsciente: “SE EU SOFRER TUDO ACABARÁ BEM”. Um exemplo de uma crença inconsciente e de difícil modificação: uma pessoa querida sai em viagem e enquanto ela não chega e avisa você fica ansioso, incomodado, atento, se a pessoa liga da estrada pelo telefone já se altera esperando que seja uma notícia ruim. Enfim, fica inteiramente preocupado. Quando a pessoa chega e avisa que está tudo ok a preocupação se dissipa e tudo volta ao normal. Você foi ensinado que precisa ficar angustiado quando alguém que você ama entra em alguma situação desconhecida e quando você recebe a notícia que nada de ruim aconteceu, inconscientemente associou a tudo ter saído bem, à sua preocupação. E então se preocupa para que tudo vá bem, toda vez que a situação acontece. E assim cria uma crença de que se preocupar (Sofrer) é o que faz tudo dar certo. Só que não. É uma crença absurda e equivocada, já que o sofrimento que você fica é o que de fato poderia emanar uma energia negativa para a situação e para você.

Como mudar uma crença, entre tantas, como a de ficar com medo (sofrer) por algo como se isso diminuísse a possibilidade de algo temido acontecer ou não acontecer? São muitas crenças aprendidas dizendo que sofrer é bom. E alterar isso depende de consciência e ação. 

Nosso ego não querendo mudar essas crenças, como uma criança birrenta, nos impõe que continuemos a executar os mesmos rituais de sofrimento que aprendemos e forja situações para continuarmos a acreditar. Se enfrentamos o ego, sofremos, mas de uma forma diferente da que nos foi ensinada, sofremos agora conscientemente, com a finalidade de se posicionar como o dono da casa. 

O sofrimento não é agradável, mas ainda é essencial. Quanto mais sofrimento mais estamos enfrentando nosso ego para existir na totalidade, no caso das crenças. Quanto mais sofremos pelos desejos não realizados e pela não aceitação da realidade, mais estamos perto de aceitar que somos mais do que o ego nos impõe. Mas que tal mudar a crença de que o que se passa até a resolução da questão não é um sofrimento? E sim uma grande oportunidade de mudança para melhor? 

Pouco sofrimento mostra duas coisas: Ou já somos seres vivendo na Totalidade Consciente ou estamos evitando entrar nessa brincadeira chamada Vida, onde a Vida só começa de fato quando encaramos o espelho e nos deparamos com nosso Eu Total. Até lá é tudo uma grande ilusão.

Luciana Sereniski
CRP 12/06912

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