Complexo Materno - Pontos Positivos e Negativos

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Por estar associado à psicopatologia, o complexo, qualquer complexo, carrega uma conotação negativa. No entanto, com um olhar mais amplo pode-se também, encontrar seus aspectos positivos. No caso do complexo materno temos o seguinte:

Quando há uma hipertrofia do instinto maternal, como aspecto negativo, tem-se uma mulher cujos interesses ficam restritos a conceber e parir. A relação com um homem fica em segundo plano, na qual este é apenas um instrumento para a procriação e alguém para ser cuidado junto com as crianças que forem geradas. Se não for apta para gerar filhos, cuidará de parentes, da casa, de animais, enfim, ocupar-se-á dos outros. Sua vida é vivida nos outros e as relações são estabelecidas sob a forma de poder. Por estar identificada com os outros permanece freqüentemente inconsciente de sua personalidade. Quanto mais inconsciente estiver sobre a sua personalidade maior e mais violenta será sua vontade inconsciente de poder.

Outra variedade possível de complexo materno na mulher é o que Jung chamou de exacerbação de Eros. Nesta categoria há uma diminuição importante do instinto materno, levando a filha a uma relação incestuosa com o pai e de repulsa com a mãe, situação que é provocada pela ênfase exagerada sobre a personalidade do outro. Na vida adulta, uma mulher que tenha desenvolvido esse tipo de complexo, tenderá a buscar relações com homens casados, não por eles, mas no sentido de perturbar o casamento. Ao conquistar seu objetivo, por falta de instinto materno, perde o interesse e uma nova busca é iniciada.

A identificação com a mãe é outra possibilidade do complexo materno. Nesse caso, devido a um bloqueio da própria iniciativa do feminino, a filha projeta sua personalidade sobre a mãe em razão de estar inconsciente de seu mundo instintivo materno e de seu eros. A filha tende a supervalorizar e a idealizar a mãe como modelo e, inevitavelmente, passa a experimentar sentimentos de inferioridade. Na vida adulta, são mulheres que vivem uma existência à sombra de alguém, inconscientes de si; no casamento captam as projeções masculinas para a total satisfação do homem em detrimento de suas necessidades pessoais.

Há, ainda, em um estágio intermediário, o que Jung chamou de defesa contra a mãe, isto é, uma defesa contra a supremacia da mãe, na qual, vale qualquer coisa, exceto ser como é a mãe. Esse é um caso típico do complexo materno negativo. A filha luta para não ser como a mãe, no entanto não sabe quem é ela própria e, nesse conflito, permanece inconsciente a respeito de sua própria personalidade. Seus instintos concentram-se na defesa contra a mãe e, desse modo, há prejuízo na construção de uma identidade autêntica e da autonomia. A resistência contra a mãe pode manifestar-se sob a forma de distúrbios da menstruação, dificuldades para engravidar ou repulsa pela gravidez, falta de interesse por tudo o que representa família e convenções. Em contrapartida, há uma compensação desta atitude para um investimento na vida racional, objetivando a criação de um espaço onde a mãe não possa existir, com a ênfase em seus masculinos e na ruptura do poder materno através da intelectualidade.

Conforme mencionado anteriormente, assim como todo o complexo, este também apresenta seus aspectos positivos. No caso da hipertrofia do instinto, o lado positivo do complexo pode expressar-se na forma de amor materno, que carrega força motriz e representa a raiz construtiva da transformação e da capacidade de cuidado consigo mesma e com o outro. Na exacerbação do eros, há a possibilidade de, como elemento perturbador, a mulher possa ser perturbada e, dessa forma, seja transformada, adquirindo consciência de si mesma. Já no tipo de mulher identificada com a mãe, quando desempenhar um papel para o marido (projeção da anima do marido), há a probabilidade de que, extrapolando seu limite, consiga descobrir quem realmente é. Jung afirma que um complexo é superado quando a vida o esgota até o fim.

O perigo do complexo materno ocorre quando a mulher não consegue transformar sua inconsciência em consciência de sua feminilidade e de sua personalidade. Quando uma mulher fica presa na inconsciência, torna-se inimiga do que for desconhecido e ambíguo e tenta organizar sua vida em um plano seguro, objetivo e na clareza de julgamento. Essa atitude fere o mundo instintivo, pois quando nega a mãe, repudia tudo o que está em sua esfera inconsciente. Evidencia-se, então, a importância da relação estabelecida entre mãe e filha na construção da personalidade.

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