Meus vestidos especiais

01:18




No início de cada ano realizo alguma dinâmica com minhas pacientes para projeção do ano. Se não construirmos uma imagem à frente é certo que estamos sendo conduzidos pelas imagens do passado e portanto o resultado será mais do mesmo. Há um caminho para manifestação dessas imagens, e meticulosa que sou, traduzo cada passo  a elas, quantas vezes forem necessárias. Uma das etapas é que para avançar você precisa levar uma dor do passado para ser resolvida. Sem isso, não há continuidade de você e diligência no processo. 

Tenho uma satisfação genuína em trabalhar apenas com pacientes mulheres. Todo trabalho que realizamos no outro, invariavelmente realizamos em nós mesmos. Minha base religiosa ortodoxa, ao contrário da católica romana tem uma devoção mariana. Na prática material não representa que as mulheres tenham muito poder, mas na espiritual a essência do feminino é no mínimo reverenciada. Costumo conceber Eva, como a representante mitológica do feminino, humanizada. Não tivesse ela diabolicamente sussurrado no ouvido de Adão que ele existia, ele estaria até hoje como um bobão inconsciente, nu no paraíso. A psique surgiu pela ousadia de uma figura feminina. Como Psicóloga Junguiana, levo em consideração o inconsciente coletivo, o familiar, e não sei se um dia assimilarei ao certo o que veio antes: a ausência da minha mãe desde meu primeiro ano despertou o meu olhar para o feminino ou eu vim reequilibrar o meu feminino através da ausência da minha mãe?

No meu caso, havia dores mais entranhadas, mas foi quando meu marido faleceu que algo começou a se movimentar com mais vigor. Na volta para casa, já que amigos acolheram meus filhos, ainda pequenos, para brincar e se distrair, deitei-me sozinha no tapete da sala e assim me senti: sozinha, vazia, incapaz de permanecer em pé. Meu pai entrou por alguma porta,  pegou-me chorando copiosamente, olhando para o teto. Na tentativa de realmente me ajudar disse: levanta, você está sozinha e tem dois filhos pequenos para criar, você tem que ser forte. Como eu estava, fiquei, mas as lágrimas foram engolidas. Nada falei. Sensível, como a maioria dos homens, passou o recado e saiu. Meu próximo pensamento foi sobre minha mãe: “onde você está? Você precisa voltar para me salvar. Só uma mulher teria as palavras para preencher esse corpo com uma alma, mesmo uma que foi embora deixando uma filha com seu pai".  Paradoxalmente a admiro, e isso também me forma, tem que ter muita coragem para abandonar tudo e ir contra tudo aquilo que esperam que uma mulher cumpra.  Então. veio o próximo pensamento, sem um pouco de dó, jogou na minha cara sua objetividade: "você vai ter que salvar a si mesma". E depois de mais de quatro horas quando o teto já estava escuro eu tive a primeira luz. 

Se as pessoas ouvissem nossos pensamentos deduziriam que são desconexos, esquisitos, estúpidos porque o próximo que me recordo foi: “amanhã eu preciso comprar um vestido e caro”. Foi deitada naquele tapete, com dor, e em silêncio que minha mente construiu um plano para minha própria salvação. Eu compro vestidos caros, caros obviamente para cada condição que eu me encontre, porque o valor deles me cria pressão para eu entregar tudo que eu posso na conquista do meu objetivo. E vestidos que eu possa pagar, ainda que com esforço, mesmo que o plano não se materialize. São usados quando a materialização se efetiva. Materialização não é somente de coisas, objetos, é também de situações, comportamentos,  sentimentos. 

Meu primeiro vestido era para ser usado no dia da abertura do meu primeiro consultório, pois até então eu trabalhava às vezes na minha profissão, no consultório de uma amiga, e quase sempre no negócio do meu marido.  Esse período foi quando eu mais me aprofundei na Psicologia, me especializei, pesquisei, escrevi artigos, viajei para cursos em dezenas de lugares. Já, nosso negócio, eu não sabia como ficaria, após seu falecimento,  já que tinham sócios e inventário e tudo fica congelado até negociações, e esse incômodo  chega para potencializar a perda e  pode facilmente transformar-se na segunda maior dor do mundo. Hoje me agradeço tanto por ter aproveitado aquele período para me ampliar e não apenas me amparar numa vida cômoda. 

Decidi que o consultório seria num hospital, pelo fluxo de pessoas,  e porque naquela época não tinha rede social para divulgação, era o antigo boca a boca, um texto no jornal. Um médico, sócio do hospital me recebeu e comunicou-me que não havia salas de psicologia para sublocação. Faz tão pouco tempo, mas como nesses vinte anos a psicologia se propagou.” Que incrível. Que lindo”. Eu não saí da sala, apenas fiquei quieta pensando no que eu poderia argumentar e não queria me colocar como uma vítima que acabara de perder o marido e precisava sustentar dois filhos, nada disso comentei. Eu queria um argumento inteligente: “eu sei que vocês não precisam de mim, mas eu preciso de vocês. Me proponha quantos pacientes eu tenho que buscar fora para mostrar que eu posso ser vantajosa para vocês também.” Eu estava negociando tão bem e de repente, me saiu isso: “eu acabei de comprar um vestido, e ele é muito caro, e eu preciso pagar a fatura em menos de um mês, então eu preciso desse consultório.” Ele começou a rir e pediu para eu voltar em uma semana, que levaria o assunto para reunião. No meu retorno, ele me apresentou um consultório já pronto, tinha um divã de veludo bege, as cadeiras eram amarelas também em veludo, tudo de muito bom gosto. Usei o vestido no outro dia porque ele já havia me encaminhado paciente. Há duas semanas meu pai adoeceu e esteve internado e fui para aquela cidade. Como atualmente atendo on-line, perguntei se tinham alguma sala para me sublocar para aquele dia e eles gentilmente me cederam. Os médicos de vinte anos atrás batiam na minha porta, brincando: “quantos vestidos você comprou agora, que teve que voltar aqui?” Tenho muito orgulho de ter aberto as portas da psicologia naquele hospital. 

Foram dezenas de vestidos nesses vinte anos. Um deles foi quando comprei meu próprio espaço e então eu quem sublocava salas para outros profissionais. Meus vestidos especiais não são somente para questões profissionais, embora sim, no teste das deusas gregas sou mais Atenas, a filha que mais trabalha, nascida diretamente da cabeça do próprio pai. Meus vestidos são para quando todos os sonhos se realizam. Cada formatura dos meus filhos, do fundamental à faculdade, para as palestras que fiz e me divulgaram, para aquelas viagens especiais, para vitórias significativas. Para vida amorosa comprei apenas dois, até este momento.  E quando falamos de relações amorosas lembremos que o outro não pode ser manipulado. Manipulamos situações,  coisas,  elementos;  portanto, esses você compra, faz sua parte e fica na torcida. Só usei um deles. 

Vestidos especiais são usados por mim para manipular minha própria mente para eu conseguir o que determino.  Não faz parte do método para a manifestação que passo à minhas pacientes, é um "plus" que funciona para mim. Cada um pode encontrar esse estímulo maior de acordo com sua personalidade. Um fato importante. Esses vestidos são doados depois de lavados, porque eles são como que magnetizados para aquele momento. Eu não posso usá-los novamente porque são meses ou anos preparando-os na minha mente para estarem prontos para determinada situação e essa situação repetidas vezes passaria a mensagem de que não saí do lugar. Na verdade, me preparando, visualizando-me com eles para determinado momento, assim como fazem os médicos para controlar todas as variáveis  numa cirurgia, os atletas que treinam na sua mente antes de uma jogada.  Eu levo meses ou anos para uma jogada, tudo no mais santo silêncio. Às vezes me pego pensando: vocês nem imaginam o que está sendo construído dentro de mim. 

Apenas um adendo, minha filha que é uma Atenas com Afrodite, me fala que quando tem algum problema com um relacionamento ou algo de estudo ou trabalho, ela encara a pessoa no silêncio, quase que com indiferença e pensa: "quer me humilhar, é sua hora, porque você não sabe o que eu estou construindo dentro de mim".  Ironia ou não, minha filha é estilista. 

Logicamente nem todo vestido foi usado, mesmo depois de meses sendo programados. Cerca de 15% a 20% foram doados sem uso. Considero que falhei em alguma coisa e não que era para ser assim. Não quis tanto, não fiz tanto, não me concentrei, não me dediquei, não acreditei. Considero os que não se manifestam, fracasso. Gostaria de manifestar tudo, isso possibilitaria a escolha, mesmo que fosse para olhar e dizer: “não era isso, não quero mais.”  Uso esses fracassos para rememorar a minha humanidade. Ainda que eu fizesse tudo que sei, não sei nada, não controlo todas as variáveis. Mas, sou a pessoa mais esmerada que conheço tentando controlar as possíveis. Se para conseguir algo eu preciso acordar e correr às quatro da manhã por um ano, com certeza vou falhar todo dia, mas vou tentar todo dia. 

Estou com um vestido aqui do meu lado que preciso doar e não foi usado. Fracassei neste. É fruto de uma imagem mental do ano passado, mais especificamente realizada na metade do ano. Estou com dorzinha porque alguns vestidos ficam perfeitos no corpo e alguns são de desejos mais importantes. Mas é isso,  para quem já viveu o luto da perda total, a perda parcial pode não significar o fim. Como diriam nossas avós: “vão-se os aneis, ficam os dedos”. 

Meu marido havia me proporcionado muita coisa, oferecido atos amabilíssimos, Demonstrou amor numa intensidade que às vezes também me perturbava.  Mas, ainda que ele existisse e as flores de todo sábado continuassem chegando, ele nunca teria conseguido me salvar como eu me salvei, com apenas alguns desafios, um pouco de pressão e bons vestidos.

Luciana Sereniski
CRP 12/06912


OBS: Uma paciente, após ler o texto, me perguntou algo que acho interessante esclarecer. Se eu acho que o médico se abriu para a possibilidade de levar o assunto para a reunião, pela vontade que eu demonstrei em trabalhar ou porque eu falei do vestido e uma conta a pagar. Ou, se ele pode ter se interessado por mim.
R: Porque a terapia é algo que tem média e longa duração? Porque não podemos apontar uma direção, ter uma análise apurada, entender algo com o que está na superfície. São muitas variáveis que influenciam uma questão, e causam os movimentos. Uma das minhas formações foi em Psicologia Comportamental. Na faculdade fiz experimentações com apenas um rato, e inclusive não nos demos bem porque ele me mordeu já no início. Já na pós, manipulei comportamentos com muitos ratos. Essas experimentações nos ensinam a manipular a mente para desenvolver comportamentos desejados. 
A psicologia trabalha com duas frentes. Uma, é acompanhar o desenvolvimento natural do paciente, sem interferir, para que ele chegue no Self, o Si Mesmo, a instância psíquica da totalidade, constatando por ele mesmo sua luz e sua sombra. Outra, é interferir no processo quando a mente pega atalhos errôneos. Então, manipulamos a mente para enfrentar a sombra, para redirecionar desvios de comportamento que sejam prejudiciais e também manipular a mente para manifestar uma realidade desejada. Lembremos que essa realidade desejada pode não ser a melhor escolha, mas se for reprimida transformar-se-á em sombra, que vai perturbar em silêncio.  Saber o que falar, para quem falar, como responder, como pedir são aprendizados que um psicólogo treina arduamente. E, os ratos são as cobaias. Quando dizemos algo para influenciar, sabemos que aquilo pode trazer determinado comportamento do outro, no outro, porque já treinamos muitas variáveis nos ratinhos. Algumas são para mudança imediata, algumas coisas ditas ou as não ditas são para plantar sementes. Portanto, no mínimo temos ideia do resultado, embora sem conhecer bem uma pessoa, desconhecemos variáveis específicas. Focamos no arquétipo que está a nossa frente.
Os machos alfas precisam de fêmeas mais frágeis, adoecidas, com sede, para na gaiola cederem sua vez na alimentação, doar sua água. Quando a fêmea é muito saudável eles disputam de igual para igual, não conseguem levar em consideração a diferença de gênero. Se eu tivesse dito que estava fragilizada pela perda do meu marido e etc... eu teria mais chances naquele momento, porque é como se eu precisasse sobreviver, e aquela pessoa tivesse me devolvido a vida como um Deus. Mas, se após eu me reerguer eu ousasse me sentir de igual para igual eu seria retaliada, como se eu não tivesse sido grata. Quando alguém te salva para sobrevivência você precisa se manter submissa. 
Eu iniciei levemente submissa, mostrando que precisava deles, mas me mostrei forte dizendo que também poderia contribuir. Então fiz o meio-termo. Essa fala foi consciente. A fala do vestido veio inconscientemente, mas o aprendizado de manipulação eu tenho automatizado, então minha mente inconsciente pode ter avaliado que para aquela figura à minha frente eu teria que me fragilizar um pouco mais, afinal era um Senhor, quase um avô, que minha mente deve ter interpretado que seria mais conservador, portanto ele seria sensível a uma fragilidade maior. (Mas a percepção inconsciente é objetiva e se percebeu algo e manipulou foi para manter a vida). Mas pagar um vestido não seria sobreviver, então eu poderia gradualmente ir me colocando lado a lado, sem ser retaliada, mas, gradualmente, e sem perder a gratidão. 
Para que eu receba eu preciso me abrir, isso significa que preciso ter vazios, não ser, não saber, não conseguir algumas coisas. Por outro lado, para receber eu preciso ser vista como alguém que também sabe dar, porque isso equilibra as relações. Ninguém te dá nada, sem receber na medida. 
Quando  nos dão para sobrevivência é como se não esperassem nada de nós, exceto o poder "divino", que vão sentir por nos devolverem a vida, e nesse caso vão querer nos manter no chão. 
Fechando, eu fiz o meio-termo, o meio-termo que é levemente diferenciado para cada um. No caso de alguém mais conservador o precisar dele precisa no início ficar mais evidente. Respondi consciente e inconsciente aquela figura específica. Ele me viu como uma neta praticamente. Com um homem mais jovem eu poderia ter equilibrado mais. Mas, se eu não tivesse demonstrado muita vontade e não tivesse um bom currículo, mesmo que eu tentasse manipular uma situação, não conseguiria. 
A manipulação não se fecha em si mesma. Ainda que se saiba como realizar, ela só acontece quando outras variáveis são levadas em consideração, como a inteligência apresentada, a imagem e força física, o status, os vínculos desta pessoa. Essas variáveis podem ajudar ou atrapalhar o processo de manipulação. Mas, ter a inteligência, a boa imagem física, o status, os vínculos sem saber manipular também não funciona. É aquela pessoa muitas vezes linda, inteligente, sem carisma algum, sem sal.  Nossa "graça", nossa "beleza", nosso "poder de atração" não está em ter as coisas, mas em como manipulamos as coisas que temos. 
Essa pergunta poderia se alongar por páginas e páginas porque manipular não é enganar e sim saber usar os ingredientes para realizar cada feito, assim como manipulamos os ingredientes para um prato apetitoso, um aroma inebriante, manipulamos comportamentos para transitar no mundo com menos pedras no caminho. 
Luciana Sereniski
CRP 12/0912

Relacionamento

Quando um homem salva uma mulher, ele cobra o preço

12:21


Malcolm e Marie é um filme que acaba de estrear na Netflix e fala de um casal que lava a roupa suja, depois de certo evento. Provavelmente usarei o filme para escrever muitos textos ainda, visto que ele é “riquíssimo” em apontamentos sobre relacionamentos. Por agora vou me deter no que pode acontecer quando um homem salva uma mulher. 

No filme, Malcolm, um cineasta, acaba de lançar um filme que fala de uma mulher que lutava contra o vício em drogas. A história tinha como base a luta que sua esposa, Marie, venceu com a ajuda dele. A discussão sobre a relação se inicia logo após o lançamento do filme, quando Malcolm no seu discurso não cita Marie nos seus agradecimentos.

Para começar, é incrível o que podemos fazer com um relacionamento em 1 hora e meia, tempo do filme, já que ele se passa apenas nesse período pós lançamento do filme, no retorno do casal à casa. Podemos demonstrar um amor imenso e chegar a um ódio profundo em apenas 10 minutos, se ele já existir enclausurado. Quando Marie consegue expressar sua dor e raiva por não ter sido citada no discurso, após ver sua história revelada no filme, Malcolm começa a fazê-la duvidar de sua sanidade. Dá a entender que ela quem deveria agradecer-lhe por estar ao lado dele, após ele suportar situações vexatórias no período do vício e ajudá-la a sair do caos.

Isso me remeteu à pacientes que foram salvas por seus “homens” quando se uniram à eles levando dívidas financeiras, dores de abusos, discriminações familiares, filhos de outras relações, e até uma “simples” baixa autoestima. Num primeiro momento sentiram-se gratas por terem sido acolhidas, como se fosse um favor, e pouco a pouco se tornaram tripé para a ascensão de seus parceiros, que ao salvá-las estavam na verdade buscando sua própria redenção. 

Enquanto essas mulheres, assim como mostra o filme, rendem-lhes glórias e améns elas são mantidas, mas, se ousarem mostrar que já não são mais dependentes deles, podem encontrar as mais duras palavras e noutras vezes ações, tudo, para manterem-se no pódio do heroísmo. Não é incorreto dizer que ainda é esperado pela grande maioria das mulheres que um homem se porte como heroi, mas desconsideram que um ego muito rígido pode se transformar numa arma. 

No filme ela é atacada logo após mostrar à ele que já consegue perceber seu valor. Mas ele argumenta que quer que ela tenha uma vida para não mais depender da dele, só que ela é incapaz de controlar sua vida, diz ele. Quando na verdade ele a controla quando rouba sua história. O argumento dele é válido, mas é nesse momento, quando ela começa a ter voz que um homem que salvou uma mulher deve se mostrar feliz. É quando a endividada começa a produzir seu próprio dinheiro e fazer sucesso, a abusada e tímida começa a ousar nas atitudes, a com baixa autoestima melhora a ideia sobre si mesma, a que só oferecia começa a querer receber. Homens que as salvaram para ter sua própria redenção não ficarão satisfeitos com a evolução de suas parceiras e começarão a pisar-lhes para que voltem a posição anterior, normalmente jogando na "cara" suas situações de início.

Quando a mulher se supera eles sentem que terão que transpor seus próprios limites, continuar seu processo de autodesenvolvimento, que ficou estável enquanto eram suficientes para uma mulher machucada. No filme, Marie reclama da falta de ciúmes dele, e no quanto isso mostra seu narcisismo, já que ter ciúmes mostra também que temos a consciência de que há no mundo alguém melhor que nós. Mas ele sente que já atingiu seu auge. Marie, como muitas de minhas pacientes alegam que elas, por terem sido salvas, ficam todo o tempo buscando ser melhor para eles: melhor namorada, parceira, amante, amiga; e eles as acusam de ingratas quando desejam que eles também tenham esses pensamentos e consequentes ações. Relatam que são "amadas" enquanto não saudáveis e que depois de um tempo precisam se mostrar problemáticas, ainda doloridas se quiserem manter a relação. 

Salvar uma mulher é ter algo contra ela, que poderá ser usado por "homens salvadores", já que normalmente são os que possuem a mais baixa autoestima. Os narcisistas são exemplo típico dessa fragilidade interior, potencializando um porte exterior como compensação. Salvar uma mulher pode também ser entendido por eles como passaporte para trair, já que nada melhor do que uma mulher ferida, para ter segurança de sua devoção e permanência. Salvar uma mulher é certeza do aval delas,  todas as manhãs, de heroi do dia, quando saem para seus negócios e precisam enfrentar homens de fato seguros. Salvar uma mulher pode ser uma desculpa para se sentir superior quando foram inferiorizados por suas próprias famílias, quando foram desacreditados por seus chefes, amigos enfim, por si mesmos.

Salvar uma mulher não é difícil, mas isso não é amar uma mulher. Ser salva por um homem também não deve ser motivo de orgulho, alívio ou a ideia de esperteza. Salvar é a busca de controlar alguém, que pode chegar a se transformar em amor sim se forem amadurecendo juntos, mas  na maioria das vezes isso acaba nos tribunais. Se houver duas opções no momento da dor: ser salva por um homem ou enfrentar o desconhecido, acredite, o desconhecido te cobrará e te envelhecerá menos. 


Luciana Sereniski

CRP 12/06912


Autodesenvolvimento

Retirando as Máscaras

11:30


De repente cai a máscara e então se percebe que ela não era adequada para o futuro, tampouco para o presente. Somente estava preparada enquanto se encenava, enquanto havia a ilusão social, enquanto era observada pelas pessoas que estavam sempre dispostas a aplaudir, a mostrar admiração. Ninguém percebia a vergonha, o quanto se estava dura por tentar vencer, não na vida, mas da vida, ninguém via o quanto se era rude por trás do personagem, apenas uma palhaça a mais, no vasto teatro da vida.

Quando cai a máscara, a sensação de vazio começa a tomar conta. As máscaras vivem caindo e constantemente com qualquer coisa e sem pensar, nem tentar ser melhor dessa vez, vamos preenchendo rapidamente esse espaço para que ninguém perceba o quanto somos mornos, insossos, sem graça. Vestimo-nos de chefes, de mãe, de pai, de um grande amigo, um exímio amante, tudo na tentativa de manter a platéia sorrindo com nossas peripécias. Que quadro angustiante e cheio de desespero, depressivo talvez, imperando a infelicidade.

Ninguém acreditaria que atrás dos seus lindos olhos coloridos, tudo é escuridão. E não adianta insistir com as lembranças: o primeiro amor, o primeiro beijo, uma grande aventura, a melhor noitada, a viagem à Paris, a primeira conta paga por si mesmo, a primeira sensação de liberdade. Muita emoção, mas são somente lembranças e chega o dia em que não se consegue mais manter a cara pintada, o sorriso falso, o nariz vermelho no lugar porque uma verdade explosiva anuncia que é chegada a hora de aposentar o personagem, retirar a máscara, ao menos essa que não era saudável, e encarar com todo o medo a plateia decepcionada por ter visto a realidade.

Por tantas vezes em nossa vida, em diferentes situações, as máscaras vão sendo construídas e constantemente adaptadas para nos proteger. Criamos personagens diferentes, de acordo com cada situação, se tornam tão profundos que mesmo no mundo mais íntimo e particular, ao olharmos no espelho não nos reconhecemos.

Bendita seja a hora, se vier a existir, que ao se olhar e não enxergar nada, ao menos se perceba que não se é mais feliz assim, que os sonhos hoje construídos e as máscaras se confundem e te confundem, não combinando mais com a realidade. Tomara haja tempo para que essa reflexão não aconteça, nos vários dias que depois de tanto sentir o que também não se sabe o que é, numa cama de hospital. Tomara haja tempo ao menos para lavar o rosto e sorrir para você pela primeira vez mostrando os dentes. Tomara não dê tempo para preparar rapidamente outra máscara e que você se dê a oportunidade de estar inteira ainda nesta noite, longe da angústia de se proteger de si mesma.

Luciana Sereniski
CRP 12/06912

Autodesenvolvimento

Quer Ouro? Transforme-se nele, pela Alquimia Interior

17:44


Qualquer ideia que temos sobre algo é transformado em um corpo sólido, que foi por nós modelado de determinada maneira, e se torna uma matéria que se fixou no nosso Ser. Isto se torna um fato e agimos no mundo exterior conforme este fato. Mas, e se este Ser fixado for algo negativo para mim, como altero?

Tomemos como exemplo o fato de certa pessoa ter um ego, que é o centro da nossa consciência, acreditando que o sentido da vida consiste em ganhar dinheiro. Ele é motivado pela necessidade de ganhar dinheiro e basicamente nada além disso. A pessoa com esse ego deixa de lado filhos, casamento, saúde, para satisfazer sua necessidade. A atitude perante o dinheiro é uma “Substância Sólida”. Como tal não pode ser alterada.

Segundo a alquimia, a única forma de uma substância sólida ser alterada é se adicionada ao mercúrio, que na Psicologia Junguiana é o Mundo da Imaginação, que só acontece no contato com o Eu Interior e que nada tem a ver com desejos fantasiosos. Se o ego admite que talvez não esteja agindo de maneira muito correta e pergunta ao seu Eu Interior qual o real sentido da vida, nesse momento aquilo que era uma substância sólida, terá sido reduzido a mercúrio líquido.

Nesse estado é possível que a atitude, a crença, possa ser alterada e acomode agora o ponto de vista não mais do ego, mas do Eu Interior, o Si-Mesmo. Para os alquimistas, um corpo dissolvido em mercúrio deixa de ser físico e torna-se espírito (energia pura). 

Digamos que a atitude perante o dinheiro, que era uma substância sólida tenha a forma interior de um empresário ganancioso. É com essa figura que o ego vai interagir, através da Imaginação, para realizar a mudança. 

Quando você adiciona um corpo ao mercúrio, você ativa o enxofre. Teríamos aqui dois tipos de enxofre, o interior e o exterior. O exterior é negativo e cria barreiras que impedem o desenvolvimento natural ou a criação da pedra filosofal, que seria a relação saudável que se deveria ter com o dinheiro, permitindo que ele se manifestasse naturalmente sempre que fosse necessário. Esse enxofre simboliza influências que não fazem parte do Si-Mesmo, do Eu Interior, e que dão ao indivíduo uma forma que não corresponde ao que ele realmente é. Acontece em decorrência da influência da sociedade, da pressão dos pais, e força a pessoa a agir de um modo não condizente com sua verdadeira natureza.

O enxofre ativado pela união entre o corpo e o mercúrio é o enxofre interior. Quando o ego pergunta para o Eu Interior sobre o sentido da vida, ativa o poder que o Eu Interior tem de criar experiências imaginárias, fazendo com que o próprio Eu Interior se manifeste. O enxofre interior é o Si-Mesmo se manifestando para imaginar. Com o poder do enxofre o Eu Interior aparece em uma Imaginação Ativa como uma figura interior que ensina ao ego aquilo que julga ser o sentido da vida. 
Interagindo com essa figura interior o ego pode descobrir para sua vida um propósito muito mais coerente com sua verdadeira natureza.

Nesse momento o que de fato acontece? A Solutio, uma operação alquímica, que opera de forma a assimilar um conteúdo de valor inferior a outro de valor superior. Para a alquimia esse valor superior significa “mais perto do ouro”. Assim se duas substâncias são misturadas em uma solução, aquela que estiver mais próxima do ouro transformará a outra, mais distante, nela mesma. Dessa forma um metal originalmente inferior pode progredir pela escala metálica até atingir o ouro.

Isso significa que se duas atitudes ou ideias unem-se na imaginação por meio do diálogo, a que estiver mais próxima do Eu Interior assimilará a outra. Se me conscientizo que tenho uma crença que está afetando minha habilidade de viver livremente, o primeiro passo para transformar essa crença consiste em personifica-la na imaginação, como uma figura qualquer, assim como "um empresário ganancioso" foi a figura representativa para aquele que só acreditava que o sentido da vida era buscar dinheiro. Ao lidar com essa figura, realizar diálogos entre ela e o Eu Interior, através da Imaginação Ativa, técnica Junguiana, mais cedo ou mais tarde ela é transformada em algo mais próximo ao Si-Mesmo ou Eu Interior. 

A elaboração das nossas “Substâncias Sólidas”,  segundo diziam os alquimistas, o que corroborou Jung, transformando-nos ao final na própria pedra filosofal, nos proporcionaria saúde duradoura, ouro, prata, pedras preciosas, força e beleza imortal, juventude, além de destruir toda raiva, a tristeza, a pobreza e todas as fraquezas. No final deste processo nenhuma alegria lhe seria negada. Portanto para se ter o dinheiro não precisaria deixar filhos, relacionamentos, saúde, de lado, somente mudar com a orientação do Si-Mesmo, nosso ouro Interior.

Luciana Sereniski
CRP 12/06912

Relacionamento

Por que posso estar sofrendo por amor

13:28


Os homens pensam e julgam apenas como homens, as mulheres pensam e julgam apenas como mulheres, mas os fatos psicológicos mostram que todo ser humano é andrógino, o que significa que uma pessoa combina na sua personalidade tanto elementos masculinos quanto femininos. Calma. Já chegarei no quesito sofrimento.

Os médicos primitivos, os xamãs, possuíam um espírito protetor que os assistia na obra da cura. Quando o curandeiro era masculino, o espírito protetor era feminino e quando a curandeira era feminina o espírito protetor era masculino. Era a união desses dois aspectos que dava ao xamã a condição de curar a outros, sendo que também nesse tempo ele era visto como um sacerdote e se esperava que ele próprio fosse divino. Divindade essa que só era possível quando essa união com o feminino e masculino acontecia.

Jung chamou os opostos existentes no homem e na mulher, respectivamente, de anima e animus. O termo saído do latim significa animare, que quer dizer animar, avivar. A anima e o animus aparecem nos sonhos, nos contos de fadas, mitos, na literatura, e mais importante, nos variados fenômenos do comportamento humano. A anima e o animus são os PARCEIROS INVISÍVEIS, presentes em todos os relacionamentos humanos e em toda busca de plenitude individual. Jung também os chamou de arquétipos, porque são blocos de comportamentos essenciais de construção na estrutura psíquica. Se algo é arquetípico é típico, próprio, inato no ser humano. Sendo assim formam a base dos padrões de comportamentos instintivos e não aprendidos. Agimos de determinadas formas porque já nascemos com essas tendências. 

O que essa explanação nos revela acerca dos relacionamentos? 

O quase total, ou o parcial desconhecimento de componentes desse aspecto que vive dentro de cada Ser humano, faz com que haja a necessidade da projeção. A projeção é um mecanismo psíquico que ocorre sempre que um aspecto vital da nossa personalidade, que desconhecemos, é ativado. Quando algo é ativado, vemo-lo fora de nós, como se fizesse parte de outra pessoa e nada tivesse a ver conosco. A projeção é inconsciente, não decidimos projetar algo. Se tivéssemos consciência não haveria projeção. No momento que me torno consciente de uma projeção, ela cessa.

Ao projetar em outro, num parceiro afetivo, temos a possibilidade de descobrir, no caso da mulher, quem é e como age o aspecto masculino que nos acompanha, e, quando a ideia que idealizei do outro se desfaz e me deparo com sua própria face, e o sofrimento, esse terrível professor, vem como visita, mas também para salvar o dia, abre-se a possibilidade de consciência de quem também sou.

Projetamos esses “seres internos”, por milênios, nos deuses e deusas, nos príncipes e princesas dos contos de fadas, nos herois, nas mocinhas e vilãs das novelas e filmes, nos santos e santas das religiões. E é por esse motivo que trabalhamos, na psicologia Junguiana, com mitos, conto de fadas, lendas. Conseguimos encontrar a projeção em segundos, quando descobrimos seus personagens preferidos e os aversivos, seus livros lidos, seu tipo de filme, como são seus amigos, seus ídolos. Projeções podem ser descobertas até pelo nome que você deu ao seu animal de estimação. 

Quando a anima e o animus são projetados em outras pessoas, a percepção que temos delas fica profundamente alterada. No caso do animus na mulher é como se ela levasse para o homem a imagem viva de sua alma. Isso tem levado a consequências desastrosas, já que tais realidades vivas dentro de nós mesmos frequentemente tem efeito particularmente forte e irritante. E é por não aceitar aspectos que consideramos irritantes do nosso aspecto oposto que não fazemos esforço para tomar consciência e preferimos acusá-los num parceiro, que pensamos, estarmos dedicando somente amor. Isso ajuda a explicar porque nos sentimos atraídos, algumas vezes por pessoas que em alguns momentos nos parecem mais inimigos do que o amor da nossa vida.

Caso o fenômeno da projeção seja reconhecido, se compreendermos que o que estamos vendo é reflexo dos nossos próprios conteúdos psíquicos, essas imagens da projeção, podem até certo ponto, ser recolocadas dentro de nós. O elemento contrasexual dentro de nós é psicologicamente tão esquivo que escapa à nossa percepção completa, por isso ele é projetado, pelo menos em parte. Pelos estudos Junguianos não pareceu possível que se possa chegar a um conhecimento tão completo de tal realidade a ponto de nunca mais haver projeção.

Importante acrescentar a essa explicação dos Parceiros Invisíveis que nos trazem sofrimento, que sempre que ocorre uma projeção, a pessoa que carrega a imagem projetada ou é muitíssimo valorizada ou muitíssimo subvalorizada. Em ambos os casos, a realidade humana do indivíduo que carrega uma projeção, para nós, fica obscurecida pela imagem projetada. Como consequência, essa pessoa possui um efeito magnético sobre nós, causando em nós atração ou repulsa em alto grau.

E quando uma mulher traz consigo uma poderosa projeção de anima do seu parceiro, à princípio gosta disto, e passa a gozar de um sentimento de força considerável. Uma pessoa que recebe uma imagem psíquica projetada por outra, fica tendo força sobre essa pessoa. Todavia se ela consegue perceber a tempo a situação, evita que experimente dele o sufocamento, pois quando a projeção é positiva, de acordo com o olhar do outro, ele espera que a mulher esteja sempre a sua disposição, dificultando a esta desenvolver, dentro desta relação uma personalidade individual. Sentir prazer na vida com outras pessoas, que não ele, pode ser considerado um ato ofensivo. E esta projeção, que no início pode ter feito a mulher se sentir poderosa, pode ser a mesma que impulsionará o homem a tentar tirar-lhe a vida no final. E desta mesma forma, quando a mulher projeta tão fortemente seu animus no homem, quando da descoberta da realidade humana e falha deste outro,  ela pode também tentar destruí-lo, caso não tome consciência que parte são aspectos seus ali manifestados. No caso da mulher, por ter menos força física, a opressão pode vir causando um estrago na vida deste, que consequentemente será tristeza na sua própria. 

Esta explanação acerca da projeção é generalizada, mas pode trazer a ideia do que acontece nas relações afetivas e alguns motivos de sofrimento, que aparentemente não tem explicação. Mas, o funcionamento psíquico é feito da mistura de detalhes, o que torna cada situação ímpar. De qualquer forma existe um canal que pode no mínimo amenizar possíveis projeções em nós, e de nós nos outros, que é o autoconhecimento. Em geral, somente quando nos achamos num estado de grande sofrimento ou confusão, é que nos dispomos a arriscar nossas estimadíssimas ideias a respeito daquilo que sentimos ser, quando postos diante da verdade. E, mesmo assim, muitas pessoas preferem viver uma vida sem sentido a ter de passar pelo processo, não raro, desagradável, que as leva ao conhecimento de si próprias.

Ainda assim, temos o livre-arbítrio e cada um pode escolher entre viver o que é de fato vida ou continuar vivendo no limbo, apenas respirando, trabalhando, pagando conta, e sofrendo por amor.

Luciana Sereniski
CRP 12/06912
 

Autodesenvolvimento

Principal queixa em Psicoterapia

12:39


Solicitei pelo Instagram que me enviassem qual seria a principal queixa, caso realizasse uma consulta Psicoterápica. E o resultado foi um dos maiores sintomas das mulheres: a baixa autoestima, a mesma que impossibilita homens e mulheres de realizar o que dizem desejar.

O que está por trás de um sintoma tão limitante?


Vou responder e esmiuçar um pouco, deixando claro que não tenho a intenção de gerar culpa, nem responsabilizar ninguém, apenas trazer à consciência comportamentos que estamos reproduzindo há muito tempo, alguns talvez, centenas e centenas de anos. 


Já citei em outros textos que nosso primeiro amor, seja para meninos ou meninas é nossa mãe ou a figura que a representa. Ela tem praticamente a missão de, no nosso primeiro ano de vida proporcionar a sensação de segurança e retirar o medo. Exemplificando: quando sentimos necessidade de nos alimentar e ela nos nutre, sentimos essa segurança; quando acordamos assustados, ou temos cólicas e ela nos acolhe, ela retira nosso medo. É ela quem realiza esse feito, porque até por volta dos nossos 7 meses não temos consciência da nossa individualidade. Para nós, bebês, ela e nós somos uma só pessoa. O mundo para nós é representado por ela, portanto o que ela sente, como ela enxerga o mundo é como nós passamos a nos referenciar. Uma mãe que está psicologicamente fragilizada em algum aspecto, provavelmente não será capaz de passar a segurança e retirar o medo de um novo Ser que está se desenvolvendo. E qual mulher está apta a repassar a ideia de um mundo amável para seu filho, depois de termos sido usurpadas do nosso poder? Depois de terem inferiorizado nossas principais habilidades, características? Portanto, homens e mulheres terminam seu primeiro ano de vida com defasagem emocional, o que vai influenciar seu desenvolvimento mental. Essa primeira fase chamamos de Matriarcal.


Passamos para a segunda, após nosso primeiro ano, a fase Patriarcal, levando conosco fardos de questões mal resolvidas. Essa fase serve para nos impulsionar para o mundo. Aquele mesmo mundo que sentimos quando sentimos nossa mãe. E nessa fase é aguardado que sejamos espertos, atentos, que busquemos nossos objetivos, começando por um pequeno objeto que nos apontam, quando engatinhamos e posteriormente damos nossos primeiros passos. E essa fase é muito valorizada. Quando tocamos o objeto, as pessoas à nossa volta comemoram como se esse fosse nosso objetivo de vida: buscar objetos, alcançar “coisinhas” do mundo externo. 


A questão é que nesse período nos diferenciam, em homens e mulheres. Até então éramos apenas bebês, e então começa nossa saga,  a de reproduzir comportamentos. Homens, mesmo não tendo sido retirado o medo e proporcionado segurança, devem dominar o mundo, “vencer na vida”. Mulheres, mesmo não tendo sido retirado o medo e proporcionado segurança, devem proporcionar segurança e retirar o medo dos seus filhos. Como? Se nem sabemos que comportamentos realizar e que sensação é essa? E no momento atual também é cobrado que as mulheres “vençam na vida”. 


Descartando todas as outras consequências, devido à nossa incapacidade de proporcionar a outro Ser a nutrição emocional (matriarcal) e mental (patriarcal), para seu bom desenvolvimento, foquemos na baixa autoestima. Herdamos essa condição. Ela não é tão diferente no Ser que está ao nosso lado, falando melhor do que nós, ganhando mais dinheiro, estando mais perto de construir uma família que beire o que consideramos saudável. De forma alguma. Todos crescemos e estamos propagando em parte essa condição: um certo "desvalor", uma visão equivocada da nossa força, da verdade do que somos, a mesma que usamos para julgar os nossos atos e sentimentos, e de todos os outros. Mas alguns se saem melhor sim, mesmo crescendo em meio a erros propagados. Sabem por quê?


Quando alguém investe tempo, afeto e dinheiro em você, você acredita que tem valor.  Mas a quantidade de dinheiro é a que tem a menor importância, porque ela tem relação com a condição da família em que se nasce. Não é ter a condição para estudar no melhor colégio, ter a melhor roupa, mas que, ainda que o dinheiro seja pouco, o filho seja visto como um “bom investimento”, usando um termo rude para dar clareza. E como “bom investimento” se pensa com seriedade na sua alimentação, na sua educação, na sua saúde. Exemplificando: mesmo precisando o colocar num colégio que se sabe que não é bom, busca ajudá-lo nos estudos, valoriza o que o filho mostra que aprendeu, compra um livro. Não pode levar ao dentista, mas foca na prevenção, como escovar ou cobrar a escovação. 


Estamos saturados de filhos que ganham muito dinheiro dos pais, que estão no melhor colégio, podem comprar a melhor roupa e a autoestima é o verdadeiro caos, pois a autoestima não está, no que concerne ao dinheiro, relacionado a quantidade, mas a forma que é entregue ou empregado.


Quis explicitar a questão financeira para deixar mais nítido que quantidade em termos financeiros tem valor muito reduzido quando falamos em autoestima. A pessoa com maior autoestima que conheci na minha vida era funcionária de uma casa, chegava de bicicleta e chinelo, exalava uma alegria de viver, e conseguiu parar a propagação de comportamentos inadequados ao bom desenvolvimento, mesmo com uma mãe que a rejeitou, pois quando nasceu o seu próprio filho, um filho programado, já tinha condições de um plano de saúde, uma alimentação melhor, e ainda que não pudesse pagar um colégio, estudava com o filho toda lição de casa. A melhora na condição financeira desta família aconteceu gradualmente e com honestidade, proporcionando vivências mais complexas, como a delícia de uma viagem ou a compra de um bem, mas a autoestima, que proporciona uma alegria imensa, já era de uma beleza que muitos viajantes de Dubai não tem a mínima ideia, portanto se enrolam em tecidos caros e usam armaduras com rodas, para pensar e fazer outros pensar, que eles têm valor. 


Finalizando, podemos concluir que sim é necessário gradualmente sermos mulheres mais aptas a proporcionar segurança e retirar o medo dos nossos filhos, e quando eles forem para o mundo, pararmos de os colocar em caixinhas de comportamento de “homens e mulheres”, que precisam alcançar apenas objetos externos e que isso é poder. E este poder mantém a vida e nos faz mais felizes, é o que aprendemos e ensinamos. Manter a vida é a função básica da mente, ela sempre vai nos direcionar para tal, porque essa vida dentro de um corpo pode nos autodesenvolver. E autodesenvolvimento tem relação direta com o valor que você acredita Ser, pois Ter é meio e não fim.


Por isso, se tem algo que você pode e deve realizar, mesmo que não tenham feito isso com você é  doar dentro das suas possibilidades para que outro se desenvolva; ame seu filho ou seu próximo, foque em desenvolver afetos saudáveis; e dedique tempo às relações que verdadeiramente podem contribuir com seu amor próprio. Esse é caminho da melhora da sua autoestima. Mas vamos além, esse é o caminho para se chegar a um mundo melhor, o mundo real, que se tomada consciência pode ser hoje, mesmo que o restante da humanidade insista em continuar não aderindo ao amor próprio.


Luciana Sereniski
CRP 12/06912


Autodesenvolvimento

O caminho da cura da depressão, na mulher

18:47


Na sociedade que nos foi apresentada, mulheres e homens foram defraudados na sua própria identidade e integridade. E as mulheres foram as mais prejudicadas, já que a elas coube o papel das belas adormecidas da vida, impedindo assim o desenvolvimento da real força. Neste sentido, explicaria em parte a depressão acontecer duas vezes mais em mulheres. Isso se não contarmos os casos em que as mulheres não diagnosticadas são vistas como filhas raivosas, esposas e ex-mulheres malucas e agressivas, mães cansadas, profissionais frias, afinal as mulheres são assim mesmo: “temperamentais, complicadinhas”.

As que se identificam com a força masculina encontram um lugar de destaque e ao se identificarem param de buscar conscientemente sua própria força: O Yang feminino.

Os homens perderam sua conexão com o mundo interior, mas parecem de fato mais à vontade no mundo, embora escravizados pela percepção objetiva, são consumidos pela rivalidade e competição, e com isso perdem o contato com sua alma, deixando de ser receptivos, sensíveis e criativos. Fazendo justiça, alguns estão buscando realmente mudar.

O que isso tem a ver com depressão? Perdemos nossas almas. Estamos vivendo às custas da força do nosso corpo e o adoecendo. Estamos nos forçando a ser boas e competentes. Os homens estão despencando, perdendo o jogo dos herois, estão cansados. É uma cobrança cruel para eles, mas ao menos tem a vantagem de serem vistos como mais potentes e isso gera mais confiança e facilita algumas coisas. Já as mulheres, precisam usar de mais energia, fazer mais esforço, para conseguir o mesmo reconhecimento.

As mulheres que se julgam “super poderosas”, são as que se identificaram com a força masculina e fazem a busca deles, mas essa não é a natureza delas, e estas quando são chamadas para suas profundezas, terão mais dificuldade em lidar com as mudanças

A psicologia Junguiana, a mais profunda teoria da Psicologia, possibilita às mulheres a descoberta da causa real da depressão, assim como a descoberta da força feminina, a real força. O tratamento desta situação acontece como um passeio aos lugares mais profundos do Ser, e,  nesse passeio além de se descobrir as causas das dores, encontramos o caminho de recuperação da alma de todo ser humano. É uma ilusão ficar treinando a mente para pensar diferente, agir diferente, o que faz com que uma bela Persona possa ser formada, e se negue a deixar o território quando descoberta. Estas ferramentas e técnicas auxiliam, mas isso nem de longe é o tratamento que cura. 

A ideia mais básica que se tem da Psicologia é que apenas 1/10 da psique humana é consciente. Outros 9/10 são inconscientes. Isso significa que não sabemos 90% do que vive em nós. Por isso queremos, programamos, desejamos uma realidade, acreditando que esses 10% serão capazes de materializar, e quanto ao materializar, me refiro tanto a coisas físicas, quanto a relações, vivências; mas, não temos ideia que 90% pode jogar contra tudo que planejamos, mesmo que esse planejamento seja exato. Esses 90% também somos nós e exigem coisas de nós. Se estivermos indo contra o que querem(os) simplesmente não avançamos, ou pior, regredimos e nos distanciamos do nosso Ser real. E é no Ser real que se encontra a energia da vida, dos fins e recomeços. Sem ela, usamos a energia que mantém um corpo vivo, mas não uma alma, e na depressão é a energia da alma que se esgota.

Enquanto estudiosos  modernos ficam estudando os 10%, acreditando somente no que vêem, no que o corpo apresenta, aquilo que a ciência comprova em laboratório, os antigos se dedicavam a trabalhar nos 90%, olhando para o mundo obscuro dos arquétipos, as matrizes inconscientes não só das pessoas, mas também dos comportamentos. E eles nos deixaram nas religiões, mitos, nas lendas, nas cosmovisões(profetas, apóstolos), espelhos que de forma projetada e simbólica, podemos neste momento contemplar a complexidade humana. Eles analisavam seus problemas, angústias, buscas, dúvidas e concretizavam caminhos para a solução. Não conseguimos entender como há tanto tempo, sem aparente instrução e meios tecnológicos puderam saber coisas sobre os astros, o futuro, construir mundos que até hoje não conseguimos admitir que fosse possível. Nós nos acostumamos a olhar o outro a partir do que ele quer mostrar. Desenvolvemos bem instâncias psíquicas que enganam os outros, e nos enganam, impossibilitando enxergar a realidade. Por exemplo, perceber a dor que está por trás de alguém tão íntimo, enxergar nossa própria dor, já que o corpo aparentemente não tem doença diagnosticada e problemas aparentes não se apresentam.

Jung foi o teórico que estudou esses mitos, lendas, religiões e descobriu que é no inconsciente coletivo, que é um inconsciente comum a toda a humanidade que estão as estruturas básicas da psique, a natureza da psique, a matéria (não a energia que forma a matéria, essa vem de algo ainda antes do inconsciente coletivo) que nos forma.

Na minha experiência clínica, utilizo o mito de Inana , um mito de 5.000 a.C, ou possivelmente mais antigo, para  descobrir a real natureza da paciente “depressiva”, aquilo que a fragiliza, a ponto de  causar tamanha dor e desânimo. E este mesmo mito proporciona todo o conhecimento para a cura desta doença que atinge principalmente a população feminina.

A pessoa redimida, que volta da profundeza, que nos encaminha o mito, é a única que está preparada para encontrar  e viver um amor com uma alma que o complemente, para ganhar o dinheiro que precisa, para curar-se inclusive de uma doença se assim quiser. Uma mulher curada da dor de uma depressão, quando deseja ter, encontra naturalmente um homem livre como ela. E qualquer criação que venha dos dois:  filhos, projetos, têm vida e luz própria. O que eles geram é da própria natureza do divino. 

A depressão numa mulher,  vai além  do término de relacionamentos, fracassos profissionais e financeiros, e muito longe de um problema biológico, fisiológico ou químico do corpo. Esses deixam de funcionar ou fluir normalmente porque é uma maneira desesperada da mente de nos obrigar a buscar a alma perdida. A desculpa é manter a vida, mas vai além disso. As perdas emocionais são meios usados para que façamos a busca dos 90% de nós que está disponível, mas não consciente.

Lógico que vão existir tratamentos para cada campo deste, que se fecha em si mesmo. Há excelentes medicamentos, técnicas diversas que vão melhorar ou até curar as doenças que atingem o físico e regular o corpo, o que vai ajudar e muito, pois precisamos de um corpo para a alma existir. Até mesmo a alma com terapias mais segmentadas e algumas técnicas,  pode ser relaxada. Mas a cura está na profundeza das profundezas, lá onde a matéria criou forma, lá onde está a cura integral do  Ser, na origem da vida em forma de energia. Energia esta disponível a qualquer tempo e em qualquer quantidade, para alguém que deseje realmente se reconstruir.

Houve o tempo em que as mulheres demonstraram parte da sua natureza, e então, os homens as queimaram, as chamaram de bruxas. Hoje quando uma ex-mulher grita de dor é chamada de bruxa; uma mãe não consegue ser a mãe perfeita, ela é a terrível; uma mulher que não está afim de estar se matando para ter o corpo perfeito, pode ser denominada um dragão. E ela só estava querendo um tempo no descanso no seu Ser profundo, sem precisar conquistar tudo e todos, porque isso cansa, mas mais importante, não é necessário. Conquistar tudo e todos não é propósito de vida, não tem sentido.  Reprimimos essas representações porque elas são consideradas feias. Se gritamos ficamos feias, se não nos arrumamos também, se seduzimos somos bruxas, más, prostitutas

Só que essas forças reprimidas tem mais força que os 10% conscientes, e fazem pressão para existir, e enquanto não adaptadas à nossa consciência são responsáveis pelo que não conseguimos realizar, materializar, ganhar, e consequentemente, viver. Esse nosso aspecto escuro aprisiona nossa energia, até as últimas consequências, e às vezes só vamos perceber quando a própria morte se aproxima

Mulheres que não foram bem cuidadas e amadas pelas suas mães vão ter mais dificuldade de aceitar olhar nos olhos da mulher interna que habita nelas. Elas vão odiá-la e ao odiá-la por tabela se odiar, assim como a todas as outras mulheres. São essas mulheres que sempre estão ao lado do pai e do marido, criticando e julgando outras. E também são as que têm mais probabilidade de viverem identificadas na força masculina, longe delas mesmas. Mas, para descer onde está a cura, elas vão ter que sacrificar algo: a identidade enquanto filhas do pai.

A abordagem Junguiana não tem o péssimo hábito de rotular o Ser, portanto para nós ninguém é depressivo, ansioso, com déficit de atenção, embora sigamos sim para referência todos os roteiros para psicodiagnóstico dos Transtornos de Humor, do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM e CID - Classificação dos Transtornos Mentais e de Comportamento. São padrões internacionais, e sugestões da divisão da Saúde Mental da Organização Mundial da Saúde - OMS.  Os nomes servem para nos orientar, não para definir, para considerar alguém doente. Analistas Junguianos, se importam com o que está por trás de nomes e sintomas, para que se  possa compreender, à nível arquetípico, o que acontece.

Uma análise Junguiana, mesmo que se inicie com a queixa de “depressão”, não traz à tona apenas a cura desta. Quando seguimos o caminho da dor, inevitavelmente encontraremos, no mesmo lugar da matéria negativa a energia capaz de regenerar tudo que foi criado até então. A depressão pode ser profunda, mas o lugar que podemos levar o paciente é mais profundo ainda. E lá tudo é dissolvido. Somente assim poderemos começar uma nova vida, não mais com as ideias herdadas, mas sim com a verdade individual vislumbrada durante o percurso. 

Luciana Sereniski
CRP 12/06912