O caminho da cura da depressão, na mulher
18:47Na sociedade que nos foi apresentada, mulheres e homens foram defraudados na sua própria identidade e integridade. E as mulheres foram as mais prejudicadas, já que a elas coube o papel das belas adormecidas da vida, impedindo assim o desenvolvimento da real força. Neste sentido, explicaria em parte a depressão acontecer duas vezes mais em mulheres. Isso se não contarmos os casos em que as mulheres não diagnosticadas são vistas como filhas raivosas, esposas e ex-mulheres malucas e agressivas, mães cansadas, profissionais frias, afinal as mulheres são assim mesmo: “temperamentais, complicadinhas”.
As que se identificam com a força masculina encontram um lugar de destaque e ao se identificarem param de buscar conscientemente sua própria força: O Yang feminino.
Os homens perderam sua conexão com o mundo interior, mas parecem de fato mais à vontade no mundo, embora escravizados pela percepção objetiva, são consumidos pela rivalidade e competição, e com isso perdem o contato com sua alma, deixando de ser receptivos, sensíveis e criativos. Fazendo justiça, alguns estão buscando realmente mudar.
O que isso tem a ver com depressão? Perdemos nossas almas. Estamos vivendo às custas da força do nosso corpo e o adoecendo. Estamos nos forçando a ser boas e competentes. Os homens estão despencando, perdendo o jogo dos herois, estão cansados. É uma cobrança cruel para eles, mas ao menos tem a vantagem de serem vistos como mais potentes e isso gera mais confiança e facilita algumas coisas. Já as mulheres, precisam usar de mais energia, fazer mais esforço, para conseguir o mesmo reconhecimento.
As mulheres que se julgam “super poderosas”, são as que se identificaram com a força masculina e fazem a busca deles, mas essa não é a natureza delas, e estas quando são chamadas para suas profundezas, terão mais dificuldade em lidar com as mudanças
A psicologia Junguiana, a mais profunda teoria da Psicologia, possibilita às mulheres a descoberta da causa real da depressão, assim como a descoberta da força feminina, a real força. O tratamento desta situação acontece como um passeio aos lugares mais profundos do Ser, e, nesse passeio além de se descobrir as causas das dores, encontramos o caminho de recuperação da alma de todo ser humano. É uma ilusão ficar treinando a mente para pensar diferente, agir diferente, o que faz com que uma bela Persona possa ser formada, e se negue a deixar o território quando descoberta. Estas ferramentas e técnicas auxiliam, mas isso nem de longe é o tratamento que cura.
A ideia mais básica que se tem da Psicologia é que apenas 1/10 da psique humana é consciente. Outros 9/10 são inconscientes. Isso significa que não sabemos 90% do que vive em nós. Por isso queremos, programamos, desejamos uma realidade, acreditando que esses 10% serão capazes de materializar, e quanto ao materializar, me refiro tanto a coisas físicas, quanto a relações, vivências; mas, não temos ideia que 90% pode jogar contra tudo que planejamos, mesmo que esse planejamento seja exato. Esses 90% também somos nós e exigem coisas de nós. Se estivermos indo contra o que querem(os) simplesmente não avançamos, ou pior, regredimos e nos distanciamos do nosso Ser real. E é no Ser real que se encontra a energia da vida, dos fins e recomeços. Sem ela, usamos a energia que mantém um corpo vivo, mas não uma alma, e na depressão é a energia da alma que se esgota.
Enquanto estudiosos modernos ficam estudando os 10%, acreditando somente no que vêem, no que o corpo apresenta, aquilo que a ciência comprova em laboratório, os antigos se dedicavam a trabalhar nos 90%, olhando para o mundo obscuro dos arquétipos, as matrizes inconscientes não só das pessoas, mas também dos comportamentos. E eles nos deixaram nas religiões, mitos, nas lendas, nas cosmovisões(profetas, apóstolos), espelhos que de forma projetada e simbólica, podemos neste momento contemplar a complexidade humana. Eles analisavam seus problemas, angústias, buscas, dúvidas e concretizavam caminhos para a solução. Não conseguimos entender como há tanto tempo, sem aparente instrução e meios tecnológicos puderam saber coisas sobre os astros, o futuro, construir mundos que até hoje não conseguimos admitir que fosse possível. Nós nos acostumamos a olhar o outro a partir do que ele quer mostrar. Desenvolvemos bem instâncias psíquicas que enganam os outros, e nos enganam, impossibilitando enxergar a realidade. Por exemplo, perceber a dor que está por trás de alguém tão íntimo, enxergar nossa própria dor, já que o corpo aparentemente não tem doença diagnosticada e problemas aparentes não se apresentam.
Jung foi o teórico que estudou esses mitos, lendas, religiões e descobriu que é no inconsciente coletivo, que é um inconsciente comum a toda a humanidade que estão as estruturas básicas da psique, a natureza da psique, a matéria (não a energia que forma a matéria, essa vem de algo ainda antes do inconsciente coletivo) que nos forma.
Na minha experiência clínica, utilizo o mito de Inana , um mito de 5.000 a.C, ou possivelmente mais antigo, para descobrir a real natureza da paciente “depressiva”, aquilo que a fragiliza, a ponto de causar tamanha dor e desânimo. E este mesmo mito proporciona todo o conhecimento para a cura desta doença que atinge principalmente a população feminina.
A pessoa redimida, que volta da profundeza, que nos encaminha o mito, é a única que está preparada para encontrar e viver um amor com uma alma que o complemente, para ganhar o dinheiro que precisa, para curar-se inclusive de uma doença se assim quiser. Uma mulher curada da dor de uma depressão, quando deseja ter, encontra naturalmente um homem livre como ela. E qualquer criação que venha dos dois: filhos, projetos, têm vida e luz própria. O que eles geram é da própria natureza do divino.
A depressão numa mulher, vai além do término de relacionamentos, fracassos profissionais e financeiros, e muito longe de um problema biológico, fisiológico ou químico do corpo. Esses deixam de funcionar ou fluir normalmente porque é uma maneira desesperada da mente de nos obrigar a buscar a alma perdida. A desculpa é manter a vida, mas vai além disso. As perdas emocionais são meios usados para que façamos a busca dos 90% de nós que está disponível, mas não consciente.
Lógico que vão existir tratamentos para cada campo deste, que se fecha em si mesmo. Há excelentes medicamentos, técnicas diversas que vão melhorar ou até curar as doenças que atingem o físico e regular o corpo, o que vai ajudar e muito, pois precisamos de um corpo para a alma existir. Até mesmo a alma com terapias mais segmentadas e algumas técnicas, pode ser relaxada. Mas a cura está na profundeza das profundezas, lá onde a matéria criou forma, lá onde está a cura integral do Ser, na origem da vida em forma de energia. Energia esta disponível a qualquer tempo e em qualquer quantidade, para alguém que deseje realmente se reconstruir.
Houve o tempo em que as mulheres demonstraram parte da sua natureza, e então, os homens as queimaram, as chamaram de bruxas. Hoje quando uma ex-mulher grita de dor é chamada de bruxa; uma mãe não consegue ser a mãe perfeita, ela é a terrível; uma mulher que não está afim de estar se matando para ter o corpo perfeito, pode ser denominada um dragão. E ela só estava querendo um tempo no descanso no seu Ser profundo, sem precisar conquistar tudo e todos, porque isso cansa, mas mais importante, não é necessário. Conquistar tudo e todos não é propósito de vida, não tem sentido. Reprimimos essas representações porque elas são consideradas feias. Se gritamos ficamos feias, se não nos arrumamos também, se seduzimos somos bruxas, más, prostitutas
Só que essas forças reprimidas tem mais força que os 10% conscientes, e fazem pressão para existir, e enquanto não adaptadas à nossa consciência são responsáveis pelo que não conseguimos realizar, materializar, ganhar, e consequentemente, viver. Esse nosso aspecto escuro aprisiona nossa energia, até as últimas consequências, e às vezes só vamos perceber quando a própria morte se aproxima
Mulheres que não foram bem cuidadas e amadas pelas suas mães vão ter mais dificuldade de aceitar olhar nos olhos da mulher interna que habita nelas. Elas vão odiá-la e ao odiá-la por tabela se odiar, assim como a todas as outras mulheres. São essas mulheres que sempre estão ao lado do pai e do marido, criticando e julgando outras. E também são as que têm mais probabilidade de viverem identificadas na força masculina, longe delas mesmas. Mas, para descer onde está a cura, elas vão ter que sacrificar algo: a identidade enquanto filhas do pai.
A abordagem Junguiana não tem o péssimo hábito de rotular o Ser, portanto para nós ninguém é depressivo, ansioso, com déficit de atenção, embora sigamos sim para referência todos os roteiros para psicodiagnóstico dos Transtornos de Humor, do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM e CID - Classificação dos Transtornos Mentais e de Comportamento. São padrões internacionais, e sugestões da divisão da Saúde Mental da Organização Mundial da Saúde - OMS. Os nomes servem para nos orientar, não para definir, para considerar alguém doente. Analistas Junguianos, se importam com o que está por trás de nomes e sintomas, para que se possa compreender, à nível arquetípico, o que acontece.
Uma análise Junguiana, mesmo que se inicie com a queixa de “depressão”, não traz à tona apenas a cura desta. Quando seguimos o caminho da dor, inevitavelmente encontraremos, no mesmo lugar da matéria negativa a energia capaz de regenerar tudo que foi criado até então. A depressão pode ser profunda, mas o lugar que podemos levar o paciente é mais profundo ainda. E lá tudo é dissolvido. Somente assim poderemos começar uma nova vida, não mais com as ideias herdadas, mas sim com a verdade individual vislumbrada durante o percurso.
Luciana Sereniski
CRP 12/06912
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