Principal queixa em Psicoterapia

12:39


Solicitei pelo Instagram que me enviassem qual seria a principal queixa, caso realizasse uma consulta Psicoterápica. E o resultado foi um dos maiores sintomas das mulheres: a baixa autoestima, a mesma que impossibilita homens e mulheres de realizar o que dizem desejar.

O que está por trás de um sintoma tão limitante?


Vou responder e esmiuçar um pouco, deixando claro que não tenho a intenção de gerar culpa, nem responsabilizar ninguém, apenas trazer à consciência comportamentos que estamos reproduzindo há muito tempo, alguns talvez, centenas e centenas de anos. 


Já citei em outros textos que nosso primeiro amor, seja para meninos ou meninas é nossa mãe ou a figura que a representa. Ela tem praticamente a missão de, no nosso primeiro ano de vida proporcionar a sensação de segurança e retirar o medo. Exemplificando: quando sentimos necessidade de nos alimentar e ela nos nutre, sentimos essa segurança; quando acordamos assustados, ou temos cólicas e ela nos acolhe, ela retira nosso medo. É ela quem realiza esse feito, porque até por volta dos nossos 7 meses não temos consciência da nossa individualidade. Para nós, bebês, ela e nós somos uma só pessoa. O mundo para nós é representado por ela, portanto o que ela sente, como ela enxerga o mundo é como nós passamos a nos referenciar. Uma mãe que está psicologicamente fragilizada em algum aspecto, provavelmente não será capaz de passar a segurança e retirar o medo de um novo Ser que está se desenvolvendo. E qual mulher está apta a repassar a ideia de um mundo amável para seu filho, depois de termos sido usurpadas do nosso poder? Depois de terem inferiorizado nossas principais habilidades, características? Portanto, homens e mulheres terminam seu primeiro ano de vida com defasagem emocional, o que vai influenciar seu desenvolvimento mental. Essa primeira fase chamamos de Matriarcal.


Passamos para a segunda, após nosso primeiro ano, a fase Patriarcal, levando conosco fardos de questões mal resolvidas. Essa fase serve para nos impulsionar para o mundo. Aquele mesmo mundo que sentimos quando sentimos nossa mãe. E nessa fase é aguardado que sejamos espertos, atentos, que busquemos nossos objetivos, começando por um pequeno objeto que nos apontam, quando engatinhamos e posteriormente damos nossos primeiros passos. E essa fase é muito valorizada. Quando tocamos o objeto, as pessoas à nossa volta comemoram como se esse fosse nosso objetivo de vida: buscar objetos, alcançar “coisinhas” do mundo externo. 


A questão é que nesse período nos diferenciam, em homens e mulheres. Até então éramos apenas bebês, e então começa nossa saga,  a de reproduzir comportamentos. Homens, mesmo não tendo sido retirado o medo e proporcionado segurança, devem dominar o mundo, “vencer na vida”. Mulheres, mesmo não tendo sido retirado o medo e proporcionado segurança, devem proporcionar segurança e retirar o medo dos seus filhos. Como? Se nem sabemos que comportamentos realizar e que sensação é essa? E no momento atual também é cobrado que as mulheres “vençam na vida”. 


Descartando todas as outras consequências, devido à nossa incapacidade de proporcionar a outro Ser a nutrição emocional (matriarcal) e mental (patriarcal), para seu bom desenvolvimento, foquemos na baixa autoestima. Herdamos essa condição. Ela não é tão diferente no Ser que está ao nosso lado, falando melhor do que nós, ganhando mais dinheiro, estando mais perto de construir uma família que beire o que consideramos saudável. De forma alguma. Todos crescemos e estamos propagando em parte essa condição: um certo "desvalor", uma visão equivocada da nossa força, da verdade do que somos, a mesma que usamos para julgar os nossos atos e sentimentos, e de todos os outros. Mas alguns se saem melhor sim, mesmo crescendo em meio a erros propagados. Sabem por quê?


Quando alguém investe tempo, afeto e dinheiro em você, você acredita que tem valor.  Mas a quantidade de dinheiro é a que tem a menor importância, porque ela tem relação com a condição da família em que se nasce. Não é ter a condição para estudar no melhor colégio, ter a melhor roupa, mas que, ainda que o dinheiro seja pouco, o filho seja visto como um “bom investimento”, usando um termo rude para dar clareza. E como “bom investimento” se pensa com seriedade na sua alimentação, na sua educação, na sua saúde. Exemplificando: mesmo precisando o colocar num colégio que se sabe que não é bom, busca ajudá-lo nos estudos, valoriza o que o filho mostra que aprendeu, compra um livro. Não pode levar ao dentista, mas foca na prevenção, como escovar ou cobrar a escovação. 


Estamos saturados de filhos que ganham muito dinheiro dos pais, que estão no melhor colégio, podem comprar a melhor roupa e a autoestima é o verdadeiro caos, pois a autoestima não está, no que concerne ao dinheiro, relacionado a quantidade, mas a forma que é entregue ou empregado.


Quis explicitar a questão financeira para deixar mais nítido que quantidade em termos financeiros tem valor muito reduzido quando falamos em autoestima. A pessoa com maior autoestima que conheci na minha vida era funcionária de uma casa, chegava de bicicleta e chinelo, exalava uma alegria de viver, e conseguiu parar a propagação de comportamentos inadequados ao bom desenvolvimento, mesmo com uma mãe que a rejeitou, pois quando nasceu o seu próprio filho, um filho programado, já tinha condições de um plano de saúde, uma alimentação melhor, e ainda que não pudesse pagar um colégio, estudava com o filho toda lição de casa. A melhora na condição financeira desta família aconteceu gradualmente e com honestidade, proporcionando vivências mais complexas, como a delícia de uma viagem ou a compra de um bem, mas a autoestima, que proporciona uma alegria imensa, já era de uma beleza que muitos viajantes de Dubai não tem a mínima ideia, portanto se enrolam em tecidos caros e usam armaduras com rodas, para pensar e fazer outros pensar, que eles têm valor. 


Finalizando, podemos concluir que sim é necessário gradualmente sermos mulheres mais aptas a proporcionar segurança e retirar o medo dos nossos filhos, e quando eles forem para o mundo, pararmos de os colocar em caixinhas de comportamento de “homens e mulheres”, que precisam alcançar apenas objetos externos e que isso é poder. E este poder mantém a vida e nos faz mais felizes, é o que aprendemos e ensinamos. Manter a vida é a função básica da mente, ela sempre vai nos direcionar para tal, porque essa vida dentro de um corpo pode nos autodesenvolver. E autodesenvolvimento tem relação direta com o valor que você acredita Ser, pois Ter é meio e não fim.


Por isso, se tem algo que você pode e deve realizar, mesmo que não tenham feito isso com você é  doar dentro das suas possibilidades para que outro se desenvolva; ame seu filho ou seu próximo, foque em desenvolver afetos saudáveis; e dedique tempo às relações que verdadeiramente podem contribuir com seu amor próprio. Esse é caminho da melhora da sua autoestima. Mas vamos além, esse é o caminho para se chegar a um mundo melhor, o mundo real, que se tomada consciência pode ser hoje, mesmo que o restante da humanidade insista em continuar não aderindo ao amor próprio.


Luciana Sereniski
CRP 12/06912


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