A Busca da Identidade Feminina

12:18


A busca da Identidade Feminina começa com um doloroso vaivém, que fecha-se sobre Si Mesma, e então há incompreensões e equívocos de todos os lados. Longo tempo se passa entre a solidão, a dúvida e o despertar, mas depois de certo tempo tateando no escuro e na penumbra, surge uma nova figura e o diálogo se torna possível. Esse despertar, descobrimento de Si, abre acessos a dons e possibilidades criativos, até então desconhecidos. No processo do despertar, da busca ou retorno à sua identidade muitas vezes pessoas são feridas, mas que isso não seja interpretado como rejeição da mulher, apenas como uma viagem necessária ao seu mundo mais profundo para que sua vida seja mantida. Para uma vida plena com outros, uma mulher necessita rever sua história coletiva e pessoal de desvalorização devido a sua identidade ter sido entendida por todos apenas em comparação com a identidade masculina. 

Para esse despertar a mulher precisa evocar a vida da alma feminina, este grande mistério que fascina, e, as mulheres tem demonstrado que não estão fugindo deste processo, estão abrindo seus corações, ousando saltar ainda que trêmulas para sua natureza instintiva, abrindo mão muitas vezes de um relacionamento, de um trabalho, de um ideal, que lhes impeça de constituir sua própria alma, revelando assim a própria identidade.

Algo está nascendo após um nível crescente de descontentamento feminino, e a mulher tem ficado presente. Ela descobre que é mais do que a santa protetora, a procriadora, a administradora da casa, também é, mas descobre que naquele canto escuro de Si Mesma também está a mulher culta, a inteligente, a ativa, a visionária, a aventureira, a líder, a que gosta de sexo tanto quanto de romance. 

Mesmo as mulheres mais reprimidas têm uma vida secreta com pensamentos ocultos que são exuberantes e naturais. Mesmo a mulher presa com a máxima segurança  sabe que um dia haverá uma saída, uma abertura, e ela poderá escapar e demonstrar que tem talento, criatividade, brilhantismo. Ela busca e encontra sua identidade autônoma exigindo mais espaço de liberdade, respeito à sua opinião e competência, mas também o direito de permanecer o tempo necessário na sua solidão, em contato com o que tem de mais arcaico, úmido, estranho, antigo em Si, sem ser considerada louca. Aos poucos a mulher está deixando de representar um papel,  para simplesmente “Ser”.

A mulher transformada é a mulher que caminha consciente de Si Mesma, que desembarca pelo menos interiormente dos trilhos que os outros lhe apontaram, que busca e acha sua própria voz. É a mulher que se liberta. É como se ela engravidasse dela mesma, sofresse as dores do parto de Si Mesma, e nascesse ela própria outra mulher que procura seu próprio mundo e escolhe seus próprios valores, para os quais se obriga por livre convicção. Coloca e aceita limites por conta própria. Aprende a dizer Eu, para que possa aprender a dizer com liberdade Tu.

Precisa-se constantemente orientar-se para dentro de Si Mesma, porque o barulho exterior abafa a voz interior. Precisa-se calar para ouvir e enquanto isso não acontecer a mulher estará repetindo os mesmos padrões das criticadas avós.

Reencontrar com o local da sua feminilidade, onde mora a sua identidade Total é reencontrar-se com a alma, aquela parte que foi expurgada e no instante em que houver sido reconhecida a existência dessa energia não se pode mais recuar. Mas para se chegar à ela é necessário dispor-se a ser sugada, apagada, cancelada, tornada nada e afundada no esquecimento. Caso a mulher não se disponha, pouco ou nada mudará na sua vida, mas se ela aceitar a visita ao local do vazio, onde há o nada e se encontra o Todo, uma nova oportunidade de ser uma Mulher Inteira se apresentará. E então ela estará livre.

Luciana Sereniski
CRP 12/06912

You Might Also Like

0 comentários