Relacionamento

Por que posso estar sofrendo por amor

13:28


Os homens pensam e julgam apenas como homens, as mulheres pensam e julgam apenas como mulheres, mas os fatos psicológicos mostram que todo ser humano é andrógino, o que significa que uma pessoa combina na sua personalidade tanto elementos masculinos quanto femininos. Calma. Já chegarei no quesito sofrimento.

Os médicos primitivos, os xamãs, possuíam um espírito protetor que os assistia na obra da cura. Quando o curandeiro era masculino, o espírito protetor era feminino e quando a curandeira era feminina o espírito protetor era masculino. Era a união desses dois aspectos que dava ao xamã a condição de curar a outros, sendo que também nesse tempo ele era visto como um sacerdote e se esperava que ele próprio fosse divino. Divindade essa que só era possível quando essa união com o feminino e masculino acontecia.

Jung chamou os opostos existentes no homem e na mulher, respectivamente, de anima e animus. O termo saído do latim significa animare, que quer dizer animar, avivar. A anima e o animus aparecem nos sonhos, nos contos de fadas, mitos, na literatura, e mais importante, nos variados fenômenos do comportamento humano. A anima e o animus são os PARCEIROS INVISÍVEIS, presentes em todos os relacionamentos humanos e em toda busca de plenitude individual. Jung também os chamou de arquétipos, porque são blocos de comportamentos essenciais de construção na estrutura psíquica. Se algo é arquetípico é típico, próprio, inato no ser humano. Sendo assim formam a base dos padrões de comportamentos instintivos e não aprendidos. Agimos de determinadas formas porque já nascemos com essas tendências. 

O que essa explanação nos revela acerca dos relacionamentos? 

O quase total, ou o parcial desconhecimento de componentes desse aspecto que vive dentro de cada Ser humano, faz com que haja a necessidade da projeção. A projeção é um mecanismo psíquico que ocorre sempre que um aspecto vital da nossa personalidade, que desconhecemos, é ativado. Quando algo é ativado, vemo-lo fora de nós, como se fizesse parte de outra pessoa e nada tivesse a ver conosco. A projeção é inconsciente, não decidimos projetar algo. Se tivéssemos consciência não haveria projeção. No momento que me torno consciente de uma projeção, ela cessa.

Ao projetar em outro, num parceiro afetivo, temos a possibilidade de descobrir, no caso da mulher, quem é e como age o aspecto masculino que nos acompanha, e, quando a ideia que idealizei do outro se desfaz e me deparo com sua própria face, e o sofrimento, esse terrível professor, vem como visita, mas também para salvar o dia, abre-se a possibilidade de consciência de quem também sou.

Projetamos esses “seres internos”, por milênios, nos deuses e deusas, nos príncipes e princesas dos contos de fadas, nos herois, nas mocinhas e vilãs das novelas e filmes, nos santos e santas das religiões. E é por esse motivo que trabalhamos, na psicologia Junguiana, com mitos, conto de fadas, lendas. Conseguimos encontrar a projeção em segundos, quando descobrimos seus personagens preferidos e os aversivos, seus livros lidos, seu tipo de filme, como são seus amigos, seus ídolos. Projeções podem ser descobertas até pelo nome que você deu ao seu animal de estimação. 

Quando a anima e o animus são projetados em outras pessoas, a percepção que temos delas fica profundamente alterada. No caso do animus na mulher é como se ela levasse para o homem a imagem viva de sua alma. Isso tem levado a consequências desastrosas, já que tais realidades vivas dentro de nós mesmos frequentemente tem efeito particularmente forte e irritante. E é por não aceitar aspectos que consideramos irritantes do nosso aspecto oposto que não fazemos esforço para tomar consciência e preferimos acusá-los num parceiro, que pensamos, estarmos dedicando somente amor. Isso ajuda a explicar porque nos sentimos atraídos, algumas vezes por pessoas que em alguns momentos nos parecem mais inimigos do que o amor da nossa vida.

Caso o fenômeno da projeção seja reconhecido, se compreendermos que o que estamos vendo é reflexo dos nossos próprios conteúdos psíquicos, essas imagens da projeção, podem até certo ponto, ser recolocadas dentro de nós. O elemento contrasexual dentro de nós é psicologicamente tão esquivo que escapa à nossa percepção completa, por isso ele é projetado, pelo menos em parte. Pelos estudos Junguianos não pareceu possível que se possa chegar a um conhecimento tão completo de tal realidade a ponto de nunca mais haver projeção.

Importante acrescentar a essa explicação dos Parceiros Invisíveis que nos trazem sofrimento, que sempre que ocorre uma projeção, a pessoa que carrega a imagem projetada ou é muitíssimo valorizada ou muitíssimo subvalorizada. Em ambos os casos, a realidade humana do indivíduo que carrega uma projeção, para nós, fica obscurecida pela imagem projetada. Como consequência, essa pessoa possui um efeito magnético sobre nós, causando em nós atração ou repulsa em alto grau.

E quando uma mulher traz consigo uma poderosa projeção de anima do seu parceiro, à princípio gosta disto, e passa a gozar de um sentimento de força considerável. Uma pessoa que recebe uma imagem psíquica projetada por outra, fica tendo força sobre essa pessoa. Todavia se ela consegue perceber a tempo a situação, evita que experimente dele o sufocamento, pois quando a projeção é positiva, de acordo com o olhar do outro, ele espera que a mulher esteja sempre a sua disposição, dificultando a esta desenvolver, dentro desta relação uma personalidade individual. Sentir prazer na vida com outras pessoas, que não ele, pode ser considerado um ato ofensivo. E esta projeção, que no início pode ter feito a mulher se sentir poderosa, pode ser a mesma que impulsionará o homem a tentar tirar-lhe a vida no final. E desta mesma forma, quando a mulher projeta tão fortemente seu animus no homem, quando da descoberta da realidade humana e falha deste outro,  ela pode também tentar destruí-lo, caso não tome consciência que parte são aspectos seus ali manifestados. No caso da mulher, por ter menos força física, a opressão pode vir causando um estrago na vida deste, que consequentemente será tristeza na sua própria. 

Esta explanação acerca da projeção é generalizada, mas pode trazer a ideia do que acontece nas relações afetivas e alguns motivos de sofrimento, que aparentemente não tem explicação. Mas, o funcionamento psíquico é feito da mistura de detalhes, o que torna cada situação ímpar. De qualquer forma existe um canal que pode no mínimo amenizar possíveis projeções em nós, e de nós nos outros, que é o autoconhecimento. Em geral, somente quando nos achamos num estado de grande sofrimento ou confusão, é que nos dispomos a arriscar nossas estimadíssimas ideias a respeito daquilo que sentimos ser, quando postos diante da verdade. E, mesmo assim, muitas pessoas preferem viver uma vida sem sentido a ter de passar pelo processo, não raro, desagradável, que as leva ao conhecimento de si próprias.

Ainda assim, temos o livre-arbítrio e cada um pode escolher entre viver o que é de fato vida ou continuar vivendo no limbo, apenas respirando, trabalhando, pagando conta, e sofrendo por amor.

Luciana Sereniski
CRP 12/06912
 

Autodesenvolvimento

Principal queixa em Psicoterapia

12:39


Solicitei pelo Instagram que me enviassem qual seria a principal queixa, caso realizasse uma consulta Psicoterápica. E o resultado foi um dos maiores sintomas das mulheres: a baixa autoestima, a mesma que impossibilita homens e mulheres de realizar o que dizem desejar.

O que está por trás de um sintoma tão limitante?


Vou responder e esmiuçar um pouco, deixando claro que não tenho a intenção de gerar culpa, nem responsabilizar ninguém, apenas trazer à consciência comportamentos que estamos reproduzindo há muito tempo, alguns talvez, centenas e centenas de anos. 


Já citei em outros textos que nosso primeiro amor, seja para meninos ou meninas é nossa mãe ou a figura que a representa. Ela tem praticamente a missão de, no nosso primeiro ano de vida proporcionar a sensação de segurança e retirar o medo. Exemplificando: quando sentimos necessidade de nos alimentar e ela nos nutre, sentimos essa segurança; quando acordamos assustados, ou temos cólicas e ela nos acolhe, ela retira nosso medo. É ela quem realiza esse feito, porque até por volta dos nossos 7 meses não temos consciência da nossa individualidade. Para nós, bebês, ela e nós somos uma só pessoa. O mundo para nós é representado por ela, portanto o que ela sente, como ela enxerga o mundo é como nós passamos a nos referenciar. Uma mãe que está psicologicamente fragilizada em algum aspecto, provavelmente não será capaz de passar a segurança e retirar o medo de um novo Ser que está se desenvolvendo. E qual mulher está apta a repassar a ideia de um mundo amável para seu filho, depois de termos sido usurpadas do nosso poder? Depois de terem inferiorizado nossas principais habilidades, características? Portanto, homens e mulheres terminam seu primeiro ano de vida com defasagem emocional, o que vai influenciar seu desenvolvimento mental. Essa primeira fase chamamos de Matriarcal.


Passamos para a segunda, após nosso primeiro ano, a fase Patriarcal, levando conosco fardos de questões mal resolvidas. Essa fase serve para nos impulsionar para o mundo. Aquele mesmo mundo que sentimos quando sentimos nossa mãe. E nessa fase é aguardado que sejamos espertos, atentos, que busquemos nossos objetivos, começando por um pequeno objeto que nos apontam, quando engatinhamos e posteriormente damos nossos primeiros passos. E essa fase é muito valorizada. Quando tocamos o objeto, as pessoas à nossa volta comemoram como se esse fosse nosso objetivo de vida: buscar objetos, alcançar “coisinhas” do mundo externo. 


A questão é que nesse período nos diferenciam, em homens e mulheres. Até então éramos apenas bebês, e então começa nossa saga,  a de reproduzir comportamentos. Homens, mesmo não tendo sido retirado o medo e proporcionado segurança, devem dominar o mundo, “vencer na vida”. Mulheres, mesmo não tendo sido retirado o medo e proporcionado segurança, devem proporcionar segurança e retirar o medo dos seus filhos. Como? Se nem sabemos que comportamentos realizar e que sensação é essa? E no momento atual também é cobrado que as mulheres “vençam na vida”. 


Descartando todas as outras consequências, devido à nossa incapacidade de proporcionar a outro Ser a nutrição emocional (matriarcal) e mental (patriarcal), para seu bom desenvolvimento, foquemos na baixa autoestima. Herdamos essa condição. Ela não é tão diferente no Ser que está ao nosso lado, falando melhor do que nós, ganhando mais dinheiro, estando mais perto de construir uma família que beire o que consideramos saudável. De forma alguma. Todos crescemos e estamos propagando em parte essa condição: um certo "desvalor", uma visão equivocada da nossa força, da verdade do que somos, a mesma que usamos para julgar os nossos atos e sentimentos, e de todos os outros. Mas alguns se saem melhor sim, mesmo crescendo em meio a erros propagados. Sabem por quê?


Quando alguém investe tempo, afeto e dinheiro em você, você acredita que tem valor.  Mas a quantidade de dinheiro é a que tem a menor importância, porque ela tem relação com a condição da família em que se nasce. Não é ter a condição para estudar no melhor colégio, ter a melhor roupa, mas que, ainda que o dinheiro seja pouco, o filho seja visto como um “bom investimento”, usando um termo rude para dar clareza. E como “bom investimento” se pensa com seriedade na sua alimentação, na sua educação, na sua saúde. Exemplificando: mesmo precisando o colocar num colégio que se sabe que não é bom, busca ajudá-lo nos estudos, valoriza o que o filho mostra que aprendeu, compra um livro. Não pode levar ao dentista, mas foca na prevenção, como escovar ou cobrar a escovação. 


Estamos saturados de filhos que ganham muito dinheiro dos pais, que estão no melhor colégio, podem comprar a melhor roupa e a autoestima é o verdadeiro caos, pois a autoestima não está, no que concerne ao dinheiro, relacionado a quantidade, mas a forma que é entregue ou empregado.


Quis explicitar a questão financeira para deixar mais nítido que quantidade em termos financeiros tem valor muito reduzido quando falamos em autoestima. A pessoa com maior autoestima que conheci na minha vida era funcionária de uma casa, chegava de bicicleta e chinelo, exalava uma alegria de viver, e conseguiu parar a propagação de comportamentos inadequados ao bom desenvolvimento, mesmo com uma mãe que a rejeitou, pois quando nasceu o seu próprio filho, um filho programado, já tinha condições de um plano de saúde, uma alimentação melhor, e ainda que não pudesse pagar um colégio, estudava com o filho toda lição de casa. A melhora na condição financeira desta família aconteceu gradualmente e com honestidade, proporcionando vivências mais complexas, como a delícia de uma viagem ou a compra de um bem, mas a autoestima, que proporciona uma alegria imensa, já era de uma beleza que muitos viajantes de Dubai não tem a mínima ideia, portanto se enrolam em tecidos caros e usam armaduras com rodas, para pensar e fazer outros pensar, que eles têm valor. 


Finalizando, podemos concluir que sim é necessário gradualmente sermos mulheres mais aptas a proporcionar segurança e retirar o medo dos nossos filhos, e quando eles forem para o mundo, pararmos de os colocar em caixinhas de comportamento de “homens e mulheres”, que precisam alcançar apenas objetos externos e que isso é poder. E este poder mantém a vida e nos faz mais felizes, é o que aprendemos e ensinamos. Manter a vida é a função básica da mente, ela sempre vai nos direcionar para tal, porque essa vida dentro de um corpo pode nos autodesenvolver. E autodesenvolvimento tem relação direta com o valor que você acredita Ser, pois Ter é meio e não fim.


Por isso, se tem algo que você pode e deve realizar, mesmo que não tenham feito isso com você é  doar dentro das suas possibilidades para que outro se desenvolva; ame seu filho ou seu próximo, foque em desenvolver afetos saudáveis; e dedique tempo às relações que verdadeiramente podem contribuir com seu amor próprio. Esse é caminho da melhora da sua autoestima. Mas vamos além, esse é o caminho para se chegar a um mundo melhor, o mundo real, que se tomada consciência pode ser hoje, mesmo que o restante da humanidade insista em continuar não aderindo ao amor próprio.


Luciana Sereniski
CRP 12/06912


Autodesenvolvimento

O caminho da cura da depressão, na mulher

18:47


Na sociedade que nos foi apresentada, mulheres e homens foram defraudados na sua própria identidade e integridade. E as mulheres foram as mais prejudicadas, já que a elas coube o papel das belas adormecidas da vida, impedindo assim o desenvolvimento da real força. Neste sentido, explicaria em parte a depressão acontecer duas vezes mais em mulheres. Isso se não contarmos os casos em que as mulheres não diagnosticadas são vistas como filhas raivosas, esposas e ex-mulheres malucas e agressivas, mães cansadas, profissionais frias, afinal as mulheres são assim mesmo: “temperamentais, complicadinhas”.

As que se identificam com a força masculina encontram um lugar de destaque e ao se identificarem param de buscar conscientemente sua própria força: O Yang feminino.

Os homens perderam sua conexão com o mundo interior, mas parecem de fato mais à vontade no mundo, embora escravizados pela percepção objetiva, são consumidos pela rivalidade e competição, e com isso perdem o contato com sua alma, deixando de ser receptivos, sensíveis e criativos. Fazendo justiça, alguns estão buscando realmente mudar.

O que isso tem a ver com depressão? Perdemos nossas almas. Estamos vivendo às custas da força do nosso corpo e o adoecendo. Estamos nos forçando a ser boas e competentes. Os homens estão despencando, perdendo o jogo dos herois, estão cansados. É uma cobrança cruel para eles, mas ao menos tem a vantagem de serem vistos como mais potentes e isso gera mais confiança e facilita algumas coisas. Já as mulheres, precisam usar de mais energia, fazer mais esforço, para conseguir o mesmo reconhecimento.

As mulheres que se julgam “super poderosas”, são as que se identificaram com a força masculina e fazem a busca deles, mas essa não é a natureza delas, e estas quando são chamadas para suas profundezas, terão mais dificuldade em lidar com as mudanças

A psicologia Junguiana, a mais profunda teoria da Psicologia, possibilita às mulheres a descoberta da causa real da depressão, assim como a descoberta da força feminina, a real força. O tratamento desta situação acontece como um passeio aos lugares mais profundos do Ser, e,  nesse passeio além de se descobrir as causas das dores, encontramos o caminho de recuperação da alma de todo ser humano. É uma ilusão ficar treinando a mente para pensar diferente, agir diferente, o que faz com que uma bela Persona possa ser formada, e se negue a deixar o território quando descoberta. Estas ferramentas e técnicas auxiliam, mas isso nem de longe é o tratamento que cura. 

A ideia mais básica que se tem da Psicologia é que apenas 1/10 da psique humana é consciente. Outros 9/10 são inconscientes. Isso significa que não sabemos 90% do que vive em nós. Por isso queremos, programamos, desejamos uma realidade, acreditando que esses 10% serão capazes de materializar, e quanto ao materializar, me refiro tanto a coisas físicas, quanto a relações, vivências; mas, não temos ideia que 90% pode jogar contra tudo que planejamos, mesmo que esse planejamento seja exato. Esses 90% também somos nós e exigem coisas de nós. Se estivermos indo contra o que querem(os) simplesmente não avançamos, ou pior, regredimos e nos distanciamos do nosso Ser real. E é no Ser real que se encontra a energia da vida, dos fins e recomeços. Sem ela, usamos a energia que mantém um corpo vivo, mas não uma alma, e na depressão é a energia da alma que se esgota.

Enquanto estudiosos  modernos ficam estudando os 10%, acreditando somente no que vêem, no que o corpo apresenta, aquilo que a ciência comprova em laboratório, os antigos se dedicavam a trabalhar nos 90%, olhando para o mundo obscuro dos arquétipos, as matrizes inconscientes não só das pessoas, mas também dos comportamentos. E eles nos deixaram nas religiões, mitos, nas lendas, nas cosmovisões(profetas, apóstolos), espelhos que de forma projetada e simbólica, podemos neste momento contemplar a complexidade humana. Eles analisavam seus problemas, angústias, buscas, dúvidas e concretizavam caminhos para a solução. Não conseguimos entender como há tanto tempo, sem aparente instrução e meios tecnológicos puderam saber coisas sobre os astros, o futuro, construir mundos que até hoje não conseguimos admitir que fosse possível. Nós nos acostumamos a olhar o outro a partir do que ele quer mostrar. Desenvolvemos bem instâncias psíquicas que enganam os outros, e nos enganam, impossibilitando enxergar a realidade. Por exemplo, perceber a dor que está por trás de alguém tão íntimo, enxergar nossa própria dor, já que o corpo aparentemente não tem doença diagnosticada e problemas aparentes não se apresentam.

Jung foi o teórico que estudou esses mitos, lendas, religiões e descobriu que é no inconsciente coletivo, que é um inconsciente comum a toda a humanidade que estão as estruturas básicas da psique, a natureza da psique, a matéria (não a energia que forma a matéria, essa vem de algo ainda antes do inconsciente coletivo) que nos forma.

Na minha experiência clínica, utilizo o mito de Inana , um mito de 5.000 a.C, ou possivelmente mais antigo, para  descobrir a real natureza da paciente “depressiva”, aquilo que a fragiliza, a ponto de  causar tamanha dor e desânimo. E este mesmo mito proporciona todo o conhecimento para a cura desta doença que atinge principalmente a população feminina.

A pessoa redimida, que volta da profundeza, que nos encaminha o mito, é a única que está preparada para encontrar  e viver um amor com uma alma que o complemente, para ganhar o dinheiro que precisa, para curar-se inclusive de uma doença se assim quiser. Uma mulher curada da dor de uma depressão, quando deseja ter, encontra naturalmente um homem livre como ela. E qualquer criação que venha dos dois:  filhos, projetos, têm vida e luz própria. O que eles geram é da própria natureza do divino. 

A depressão numa mulher,  vai além  do término de relacionamentos, fracassos profissionais e financeiros, e muito longe de um problema biológico, fisiológico ou químico do corpo. Esses deixam de funcionar ou fluir normalmente porque é uma maneira desesperada da mente de nos obrigar a buscar a alma perdida. A desculpa é manter a vida, mas vai além disso. As perdas emocionais são meios usados para que façamos a busca dos 90% de nós que está disponível, mas não consciente.

Lógico que vão existir tratamentos para cada campo deste, que se fecha em si mesmo. Há excelentes medicamentos, técnicas diversas que vão melhorar ou até curar as doenças que atingem o físico e regular o corpo, o que vai ajudar e muito, pois precisamos de um corpo para a alma existir. Até mesmo a alma com terapias mais segmentadas e algumas técnicas,  pode ser relaxada. Mas a cura está na profundeza das profundezas, lá onde a matéria criou forma, lá onde está a cura integral do  Ser, na origem da vida em forma de energia. Energia esta disponível a qualquer tempo e em qualquer quantidade, para alguém que deseje realmente se reconstruir.

Houve o tempo em que as mulheres demonstraram parte da sua natureza, e então, os homens as queimaram, as chamaram de bruxas. Hoje quando uma ex-mulher grita de dor é chamada de bruxa; uma mãe não consegue ser a mãe perfeita, ela é a terrível; uma mulher que não está afim de estar se matando para ter o corpo perfeito, pode ser denominada um dragão. E ela só estava querendo um tempo no descanso no seu Ser profundo, sem precisar conquistar tudo e todos, porque isso cansa, mas mais importante, não é necessário. Conquistar tudo e todos não é propósito de vida, não tem sentido.  Reprimimos essas representações porque elas são consideradas feias. Se gritamos ficamos feias, se não nos arrumamos também, se seduzimos somos bruxas, más, prostitutas

Só que essas forças reprimidas tem mais força que os 10% conscientes, e fazem pressão para existir, e enquanto não adaptadas à nossa consciência são responsáveis pelo que não conseguimos realizar, materializar, ganhar, e consequentemente, viver. Esse nosso aspecto escuro aprisiona nossa energia, até as últimas consequências, e às vezes só vamos perceber quando a própria morte se aproxima

Mulheres que não foram bem cuidadas e amadas pelas suas mães vão ter mais dificuldade de aceitar olhar nos olhos da mulher interna que habita nelas. Elas vão odiá-la e ao odiá-la por tabela se odiar, assim como a todas as outras mulheres. São essas mulheres que sempre estão ao lado do pai e do marido, criticando e julgando outras. E também são as que têm mais probabilidade de viverem identificadas na força masculina, longe delas mesmas. Mas, para descer onde está a cura, elas vão ter que sacrificar algo: a identidade enquanto filhas do pai.

A abordagem Junguiana não tem o péssimo hábito de rotular o Ser, portanto para nós ninguém é depressivo, ansioso, com déficit de atenção, embora sigamos sim para referência todos os roteiros para psicodiagnóstico dos Transtornos de Humor, do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM e CID - Classificação dos Transtornos Mentais e de Comportamento. São padrões internacionais, e sugestões da divisão da Saúde Mental da Organização Mundial da Saúde - OMS.  Os nomes servem para nos orientar, não para definir, para considerar alguém doente. Analistas Junguianos, se importam com o que está por trás de nomes e sintomas, para que se  possa compreender, à nível arquetípico, o que acontece.

Uma análise Junguiana, mesmo que se inicie com a queixa de “depressão”, não traz à tona apenas a cura desta. Quando seguimos o caminho da dor, inevitavelmente encontraremos, no mesmo lugar da matéria negativa a energia capaz de regenerar tudo que foi criado até então. A depressão pode ser profunda, mas o lugar que podemos levar o paciente é mais profundo ainda. E lá tudo é dissolvido. Somente assim poderemos começar uma nova vida, não mais com as ideias herdadas, mas sim com a verdade individual vislumbrada durante o percurso. 

Luciana Sereniski
CRP 12/06912

Autodesenvolvimento

Dia da Mulher: se querem nos presentear, devolvam nosso poder

12:17


Há uma força que atua para despertar o feminino nas mulheres, um modelo arquetípico do qual não há escapatória, que aqui represento pela deusa Inana, deusa Suméria, a primeira das primeiras, a Grande-mãe. Essa potência nasce com a mulher, e a impulsiona durante toda a vida, até que chegue o dia em que ela seja humanizada em cada mulher, tornada amor, uma mulher sábia, iniciada, que está disponível para servir os aspectos luminosos e sombrios de sua própria profundeza, assim como os da deusa. O poder de Inana não é para ser assimilado como deusa, ou seja, que a força atue nela como um Ser, mas, para despertar o Ser individual, humano divinizado que há em cada mulher, que não acontece como busca de um ideal, mas como resultado das vivências individualizadas. No homem essa potência impulsiona sua anima. Mas é na mulher, a representante do feminino que o movimento é mais potente. Vamos conhecer o impulso que há dentro de cada mulher. 

Inana é o modelo de totalidade do feminino, que vai além do aspecto maternal. Combina céu e terra, matéria e espírito, recipiente e luz. Ligada aos grãos, aos silos, é responsável pela fertilidade e pela prosperidade. Como rainha do céu e esposa do antigo sol, é considerada a deusa da estrela da manhã e do entardecer, portanto a que desperta a vida e a faz dormir, a atividade e repouso. Ela representa as regiões limítrofes em nós, com suas energias impossíveis de conter, as quais não se pode ter certeza ou segurança, não estáveis por longo tempo, sempre clamando pelo novo.


Ela reclama o eu: os princípios ordenadores do Ser, as potências, talentos e ritos do mundo civilizado e superior. Enquanto juíza, congrega, chama as forças boas e más para decretar o destino, tripudiando sobre o transgressor, é a força que julga, para que a mudança ocorra. 


Como rainha da terra ela derrama a realeza sobre o mortal, o acolhe. Ao consorte ela dá o trono, o cetro, assessores, o báculo e a coroa, bem como a promessa de boas colheitas, juntamente com as alegrias de sua cama.


Inana também é a deusa da guerra, a batalha é a dança de Inana. Dotada de instintos selvagens, ataca como tempestade agressiva, mostrando um rosto assustador e um coração feroz. Ela canta: O céu é meu, a terra é minha. Eu sou uma guerreira. Haverá um deus que possa enfrentar-me?


É de modo apaixonado que ela representa a deusa do amor sexual, cantando canções de êxtase, enquanto se enfeita e fala do desejo e das delícias de fazer amor, atraindo seu amado para seu colo sagrado, e com isso o arrebata, simplesmente porque quer o amado, o deseja, mas também o destrói, só para depois sofrer e compor canções de lamentação. É seu momento “receptividade ativa”, clama pelo preenchimento do corpo.


Como se não bastasse, essa força também propicia a cura, é a fonte de vida, assim como a desencadeadora das emoções, a que inferniza, insulta, venera; deprime, se magoa, assim como se alegra e se exulta logo em seguida; se apavora, se deslumbra, treme de susto. Tudo isso está sob o domínio de Inana em nós. Acrescente-se a isso: a paixão, o ciúmes, o ressentimento, a ambição,  o exibicionismo, a generosidade.


Segundo o mito é condicionada pela ligação com o pai, mas tem uma ligação próxima e alegre com a mãe, embora Inana não seja de fato maternal, se encontrando na região limiar, entre a maternidade e a virgindade, entre a fecundidade e a animalidade. Não representa a esposa doméstica, a mãe estabilizada. A deusa mantém sua independência e magnetismo como amante, jovem, esposa e viúva. Não é fácil para a mulher ter que ser somente a casada. 


Essa força arquetípica, encontra-se profundamente enraizada no substrato patriarcal, e ainda assim da perspectiva do patriarcado a chamam de volúvel, pouco confiável, a causadora de sofrimentos nos consortes. E por esse julgamento é que o patriarcado se volta contra ela, a insulta tentando usurpar-lhe o poder, e por esse motivo que a deusa atuando na mulher, como filha do patriarcado, a faz constantemente buscar um lar para reencontrar esse poder roubado.

 

O poder que Inana tem, proveniente do mundo superior foi dessacralizado, e suas qualidades assumidas por divindades masculinas, e é por isso que as deusas posteriores, como as gregas, foram engolidas por seus pais, restando às deusas apenas determinados aspectos de poder, fazendo com que muitos dos poderes antes apresentados pela deusa perdessem a conexão com a vida da mulher: o feminino apaixonadamente erótico e lúdico, o feminino multifacetado dotado de vontade própria, ambicioso, real. 


Desde a usurpação, as mulheres têm vivido apenas na periferia, em funções fortemente limitadas, subordinadas a homens, posição social, filhos, ocultando sua necessidade de poder e paixão, numa falsa segurança. 


O que se tornou comportamento coletivamente aceitável para as mulheres, perdeu a conexão com o sagrado, enquanto a estatura da deusa era reduzida. Obrigada a disciplinar as emoções, principalmente as ligadas ao desejo sexual, a energia vital das mulheres foi comprimida. Pela repressão, a alegria do feminino foi rebaixada, como mera frivolidade; sua sensualidade alegre foi diminuída como coisa de prostituta, ou então sentimentalizada e maternalizada; sua vitalidade foi curvada sob o peso das obrigações e da obediência. A força feminina das paixões tornou-se apenas sonhos e ideais. 


Podemos dizer que os homens atuais herdaram a ideia, e que não foram os responsáveis pelo rebaixamento da mulher. A questão é que o lugar de grandeza, heroísmo e poder, apesar de cansativo, é lugar de domínio, e ao contrário do que eles dizem, poucos estão facilitando o retorno ao cetro e a coroa que já lhes pertencia. 


Mas olha que lindo, para compensar temos o dia da mulher, e como prêmio por termos cedido nosso poder recebemos presentinhos, flores, bombons e se nos comportamos bem durante o ano, ainda nos levam para jantar. Devemos agradecer? 


O que eles não sabem é que tem outra força feminina atuando para retomar ao que é seu por direito, enrolada como uma serpente no lugar mais profundo do Ser de uma mulher. E essa não tem a diplomacia de Inana, se é que vocês me entendem. E uma hora ou outra, ela desperta.


Luciana Sereniski

CRP 12/06912