Mulheres Inteligentes, Escolhas Insensatas
13:24
Por que uma mulher bem educada, em boa situação profissional, escolhe um homem agressivo ou infiel? É bem possível que a opção reflita aspectos de sua personalidade reprimidos em uma parte do inconsciente que a psicologia analítica chama de sombra. Ter certa lucidez sobre o que nos motiva ajuda a construir ligações mais equilibradas e felizes.
Porque algumas pessoas inteligentes e, supõe-se, saudáveis emocionalmente, insistem em eleger os piores parceiros? Há quem se relacione com dependentes químicos ( álcool, drogas), infiéis contumazes, gente agressiva ou aproveitadora. Entre alguém sério, fiel, e outro sedutor ou até mau caráter, dão preferência ao segundo. O problema não se localiza no parceiro ou na parceira errados, mas na pessoa que insiste em ligações frustrantes. De acordo com o psicólogo suíço Carl Jung, possuímos um lado consciente e outro inconsciente, desconhecido. A uma parte do inconsciente deu o nome de sombra. Aí se abrigam, em função de um ideal de ego — devemos ser perfeitos, altruístas, bons — os aspectos negativos da personalidade. Contudo, mesquinharia e maldade são próprios do ser humano. Por isso reprimimos a nossa agressividade, a inveja e a maldade, que se alojam em nossa sombra. Quando menos esperamos, mas sempre nos momentos de fraqueza psicológica ou de grande tensão, a sombra aparece e nos ataca.
Perdemos o controle e agimos com raiva e hostilidade, o que não combina com nossas maneiras. Ficamos como que possuídos; de fato, é nossa sombra que nos possui. Por exemplo, uma jovem se casa e todos a consideram calma e delicada. Um dia, em um acesso de ciúmes, bate no marido e diz o que nem ela se imaginava capaz de dizer.
A sombra, ressalve-se, tem também aspectos positivos, reprimidos. Um exemplo é a criatividade, refreada para a pessoa ajustar-se à rotina, à escola, ao trabalho. Pode-se dizer que um homem de talento artístico, esgotado pelo trabalho, ficou com a criatividade na sombra.
De outro lado, como projetamos tudo o que é inconsciente, atribuímos ao outro os aspectos da nossa sombra. Isso talvez ajude a explicar as escolhas negativas. Por exemplo, se uma pessoa muito doce e delicada escolhe um parceiro de mau caráter, agressivo ou infiel sentimos pena dela. É tão boa e abnegada tendo que conviver com tamanho monstro. Mas é provável que as relações sejam complementares: o outro corresponde a um aspecto dela, que reprime a sua agressividade ou a vontade de ser infiel; vive, assim, seus aspectos negativos através do outro, e talvez considere justificado se tornar infiel também, em especial se o parceiro ficar fraco ou doente. No conto de fadas Barba Azul, a heroína se casa com o assassino apesar de saber que todas as suas mulheres anteriores desapareceram. Existe uma atração por esse lado sombrio, negativo, representado por um homem poderoso.
Quanto mais claro e brilhante um aspecto da pessoa — é mansa, controlada — mais forte a sombra agressiva; o oposto, uma pessoa agressiva, descontrolada, pode ter suavidade na sombra, que emerge em momentos de tensão. Quando chora no cinema, por exemplo.
Na paixão idealizamos o outro, que deve corresponder a uma imagem interna que nele projetamos. A interna traz também nossos aspectos negativos, sombrios. Com a proximidade deixamos de idealizar e aspectos negativos aparecem, os da pessoa escolhida e os nossos. E ambos nos tornamos o que verdadeiramente somos. O filme de Roman Polanski, Lua de Fel, é um exemplo de paixão que se torna ritual de humilhação — a história descreve uma relação sadomasoquista.
Essa é uma das maneiras de se tentar explicar o paradoxo: por que sempre queremos o mais difícil, e o impossível nos atrai tanto. O que nos atrai é o diferente, o desconhecido no qual podemos projetar e idealizar nossos desejos. A canção Meu bem, Meu Mal, de Caetano Veloso, o expressa: “Onde o que eu sou se afoga/ meu fumo minha ioga/ você é minha droga/ paixão e carnaval /meu zen, meu bem, meu mal.”
Para evitar escolhas erradas, é importante ter consciência o que nos motiva. A maior lucidez permite que não se siga uma paixão às cegas. E que, ao assumir uma ligação, se consiga equilibrar os aspectos positivos e negativos de um e de outro.
"O eterno adolescente é cativante, pois sintonizou bem muitos aspectos de sua presença interior. Podem apresentar frases que o fazem parecer maravilhoso e levam uma mulher a se sentir maravilhosa. Mas ele é frustrante demais para as mulheres, pois vai se afastando pouco a pouco quando elas, naturalmente querem aprofundar um relacionamento que se desenvolve muito bem. Se ao menos ele fizesse alguma coisa terrível, a mulher ainda poderia se livrar e ficar contente. Mas ele não faz nada de repulsivo, pois seu único defeito é a relutância em crescer".
Do livro: Mulheres Inteligentes, Escolhas Insensatas
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