Autoestima - Sétimo Pilar – Final - O Amor

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Talvez eu não seja a melhor pessoa para falar de amor. Este é um tema melhor abordado pelos poetas, pelos artistas, pelas mães, pelas mulheres de modo geral. Eles sim podem falar com mais propriedade e com maior eloquência do que eu. Mesmo assim, a despeito de minhas limitações, ousarei falar sobre o amor em função de sua implicação à estrutura da autoestima.

Há vários sentidos e aplicações para a palavra amor. Em todos os empregos e usos do termo o significado comum é o de querer bem e agir em favor de algo ou alguém. Tudo que se faz com plenitude de vontade e intensidade de alma, se diz que é feito com amor. Portanto, o mal feito é por si só isento de amor porque não é máximo, não é esforçado, não é bem quisto, antes é feito com má vontade, de qualquer jeito, obrigado e, por isto, livre do significante amor.

A referência filosófica do amor alude aos relatos de Platão quando compara este sentimento com a caça; como algo que se busca a todo esforço até que se obtenha aquilo que acredita não possuir. Daí chamar de amor platônico toda forma de amor que extrapola os limites do bom senso e aproxima-se do patológico.

Em Freud tem-se entendido o amor como a pulsão mais primária, o impulso de vida; também conhecido nos escritos psicanalíticos como Eros. Este alterna com Thanatos, o impulso de morte. Enquanto o primeiro constrói e edifica, o segundo destrói e corrompe. O pai da psicanálise sugeriu várias vezes e em todas as suas obras a força dessas pulsões sobre as atitudes conscientes e inconscientes de nosso viver.

Enfim, são muitas as referências sobre amor e não há espaço e tempo neste singelo texto para abordar todas elas. As que aqui se apresentam são suficientes para referenciar o que pretendo vincular com o tema proposto, ou seja, o sétimo pilar da autoestima.

Desta forma, tanto no âmbito religioso-espiritual, filosófico ou psicanalítico o emprego da palavra amor e suas variações semânticas sugerem tratar de uma força sem limites, intangível, venerável e poderosa ao ponto de fortalecer, revigorar e gerar vida. Em outras palavras, o amor é como as turbinas de um avião ou o motor de um carro. Sem eles nem um nem outro poderiam sair do estado estático.

É neste sentido que o amor se aplica a autoestima como sétimo pilar, pois sem esta força propulsora nada nem ninguém poderão mover-se e muito menos transformar-se. Nenhum dos outros seis pilares poderiam se efetivar sem o sétimo. Só o impulso de vida – amor – é que pode fazer uma pessoa mudar de idéia, se arrumar, tomar atitudes mais condizentes com o autorrespeito, a autoafirmação, a integridade pessoal, a prosperidade e a melhora pessoal em todos os sentidos aplicáveis.

Não se pode ver o amor, mas pode-se percebê-lo atuante quando as pessoas são compelidas a mudar e a fazer mudar qualquer coisa ou pessoa para um estado melhor, mais bem aprimorado.

Autoestima é a tradução literal do amor próprio. Cada qual tem sua autoestima na mesma proporção do amor que sente por si próprio. Assim fica fácil entender porque as pessoas se prejudicam e se matam entre si, pois cada qual ama o próximo como a si mesmo.

Aquilo que se faz ao outro é, em análise, aquilo que se deseja fazer a si mesmo, mas de uma forma velada. E o que se quer fazer veladamente a si mesmo é o límpido reflexo da consideração e amor que cada um nutre e mantém por si mesmo. Ninguém que desonra a si mesmo poderá ter o outro em honra.

Em outra perspectiva desta análise, pode-se entender as pessoas que nos agridem e nos machucam como praticantes de ação proporcional ao ódio e repúdio que elas sentem por elas mesmas. Só quem conhece e experimentou o amor pode amar. Aquele que não sabe e sequer provou desta força chamada amor, jamais poderá desejar ou fazer o bem a si mesmo, quem dirá ao próximo.

Viver sem se sentir amado é uma porta para a angústia e a depressão. Viver sem se sentir amado torna a vida muito mais dolorosa do que normalmente seria. Tudo fica mais difícil. Se relacionar fica mais difícil. Estudar, trabalhar, produzir fica quase impossível e então reina o impulso de morte, tornando as pessoas mais amargas, destrutivas, maldizentes e infelizes. O que esperar dessas pessoas? Não há perspectiva de vida, de sucesso ou mesmo de futuro quando a pessoa não se sente amada, querida, desejada. 

Portanto, não basta dizer a uma pessoa que a ama ou usar sua linguagem de amor para acreditar que o outro está sendo amado. É necessário que o outro se sinta amado para que possa experimentar esta força que transforma e revitaliza qualquer pessoa que é agraciado por ela.

Nada pode ser mais sublime e produtivo para uma pessoa do que sentir-se amada pelo pai, pela mãe, por Deus, por qualquer alguém que lhe importa ou pela sociedade de uma forma geral. Os piores delinquentes, capazes das piores ações destrutivas e práticas antissociais são pessoas incapazes de sentir e experimentar o amor.

Esta incapacidade pode ser congênita, relacionada à micro lesões cerebrais que impedem o processamento de tal sentimento ou mesmo pela experiência do abandono, do descaso e do desprezo elaborados de forma peculiar em suas mentes a partir das ações e palavras de seus entes mais próximos, a partir do nascimento até algum momento de sua vida em que ocorre um insight negativo e passa a crer na ideia de que não é amado o suficiente, antes se sente indesejado e rejeitado. Eis a semente do mal, da criminalidade. 

Ninguém rouba, mata ou destrói por amor, mas por ódio e revolta.

Como é poderosa quando dita com sinceridade a frase “eu te amo”. Experimente dizer mais vezes eu te amo com as pessoas que você quer bem, mas comece dizendo a si mesmo(a) toda vez que se olhar no espelho pela primeira vez no dia. Contudo, nunca repita mais do que três vezes ao dia para não estimular eventual narcisismo!

As ações sociais de contenção da delinquência e repressão ao crime não deveriam se restringir a medidas socioeducativas e penais com base no Código Civil e na Constituição Federal apenas. Nada que se faça com base exclusivamente nas Leis e nas regras sociais poderá transformar o ódio de alguém em amor. Por isto as cadeias estarão sempre lotadas e os índices de criminalidade continuarão aumentando dia após dia. Ninguém pode se sentir amado com a aplicação da Lei.

Também não é o caso de distribuir bíblias aleatoriamente. Pois, ainda que eu falasse as línguas dos anjos se não houver amor, nada adiantará. É preciso se sentir amado e experimentar este sentimento.

E se alguém não se sente amado e, portanto, não experimenta o amor como poderá ter bem consolidado o seu amor próprio? Assim, terá invariavelmente comprometido todos os sete pilares da autoestima.

Leitor(a), a melhor referência teórica de amor que eu conheço está no primeiro livro que o apóstolo Paulo escreveu aos Coríntios, registrado no Capítulo 13, versos 1 a 8 da Bíblia, como se segue:

“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria. O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca falha[...]”.

Prof.Chafic Jbeile

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