O que estou fazendo de errado, já que meus desejos não estão se realizando? Parte 1
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Impossível responder essa questão apontando uma única causa, portanto serão postados alguns textos até esgotar o assunto, levantando hipóteses para que cada qual na sua individualidade possa refletir sobre. Muito provável que algumas ou muitas das hipóteses estejam entrelaçadas impedindo que os desejos se materializem. Vou focar a cada hipótese em como a psicologia trabalharia a questão. Vamos as hipóteses:
1 - Terceirização do Poder e a busca pelo mágico: Recentemente veio à tona relato de muitas mulheres se dizendo abusadas, enganadas, estupradas pelo médium João de Deus. Vou deixar de lado aquilo que não compete à um psicólogo, que é o julgamento, e vou me utilizar não do comportamento dele, mas do comportamento das milhares de pessoas que buscaram ajuda com ele para resolver questões emocionais e mentais. Algumas delas como consequência de desequilíbrios mentais e emocionais já apresentavam doenças físicas. Muitas delas realizavam um esforço desmedido na busca por alguém que elas consideravam mais poderoso do que elas e do que um psicólogo ou psiquiatra (profissionais que estudaram para trabalhar com a psique humana), para que este realizasse seus desejos. Antes de prosseguir nesta situação, quero relatar uma situação que vivenciei dias atrás.
Numa viagem, eu aguardava em determinado lugar para ser atendida, enquanto várias pessoas, na maioria mulheres, trocavam figurinhas em alto e bom tom sobre a ida à uma cartomante, ou algo relacionado, mas era alguém que fez previsões para toda a equipe. Para uma das moças, cerca de vinte e poucos anos, foi dito que neste ano ela encontraria o homem da sua vida e ele era muito rico, o que ia ao encontro do desejo da pessoa que parecia valorizar muito o dinheiro, e esse homem iria realizar todos os desejos dela. Para outra, uma mulher perto dos cinquenta, casada há mais de vinte anos, um homem maravilhoso estava para entrar na sua vida, dando-lhe todo o amor, carinho e paixão que ela sempre desejou. Eles teriam um caso e de tão apaixonada ela deixaria o esposo. Os olhos dela brilhavam ao relatar seu futuro pré-determinado pela cartomante.
No meu íntimo eu pensava, com relação a primeira: “Quando esse homem rico chegar para realizar seus desejos, antes de perguntar o nome lhe pergunte se é corrupto, porque esse é o único tipo de homem que está disposto a realizar os sonhos das mulheres, sem cobrar nada por isso, já que o dinheiro não é dele mesmo”. Com relação a mulher casada, qualquer um que estivesse ali mais de 5 minutos saberia da insatisfação com seu casamento, era nítido que ela queria se sentir amada, valorizada, desejada por um homem. Mas como estava seu preparo para receber um homem “pronto” para dar tudo isso? Agora com a premonição de um príncipe chegando, quem sabe na próxima esquina, tudo estava resolvido. Ela estava alerta para outro, e não mais voltada para resolver as questões de relação dentro do casamento, não especificamente sobre seu casamento, mas sobre si e sua forma de se relacionar. Com os olhos voltados para fora ela seria um alvo muito fácil para atrair mais do mesmo, numa embalagem nova, que não muito tarde se revelaria a mesma coisa. Aqui a mágica ficou nas mãos da cartomante que definiu o futuro delas, o homem rico que salvaria a moça da sua inconsciente sensação de incapacidade de conseguir sozinha realizar seus desejos, e por fim a mágica estava num outro casamento que traria o amor para a mulher já casada, amor esse que nem ela estava conseguindo se dar. E todos esses mágicos seriam responsáveis pela realização dos seus desejos, e dos desejos que lhes foram revelados.
Voltando a questão do João de Deus. Algumas pessoas foram curadas, e hoje se sabe que foram poucas. Mas as que conseguiram, seja lá pelo que mal as afligia, só foram curadas pela sua fé, e não pelo poder de um homem que determinou-se poderoso e as pessoas aceitaram como tal. Eu me pergunto se essas pessoas curadas tomaram consciência do seu próprio poder para realizar o que desejam ou se sentem medo de que algo ruim volte, já que o intercessor não era poderoso. Se for um comportamento viciado algumas pessoas já estão na busca do seu próximo guru, como aquele grupo que eu ouvia que também comentava que já precisavam voltar a cartomante, provavelmente para que ela repetisse todas as revelações, e as fizesse acreditar, porque no fundo nem elas acreditaram realmente naquilo e mais no fundo ainda, não era ser salva por um homem que elas queriam, mas salvas por si mesmas.
Algumas pessoas podem pensar: Ok, mas se a pessoa acredita que uma pedra cura, então essa pedra tem o poder de curar e isso é o que vale, a cura. Só que não, porque se você perder a pedra ou a pessoa que você atribuiu poder vier a morrer, tudo pode se perder. O valor estaria na consciência do seu poder, da sua fé, da sua capacidade de realizar, na consciência da própria divindade. Uma cura inconsciente serve sim para dar mais tempo, mas o problema pode retornar a qualquer momento. Uma cura consciente elimina toda possibilidade daquilo voltar a acontecer e essa cura, a realização disso, só é possível vir de dentro de cada Um, com a consciência do Próprio Poder que vive dentro de cada Ser, denominado de Força, Deus, Guia, Ser Superior, Eu Maior, como quiser.
As pessoas que conseguiram se curar, se tomarem consciência que foi pelo Poder que delas emana, estarão livres do mal que as afligia para sempre. E mais, que elas são seus próprios intercessores. Para quem conhece um pouco de religião cristã sabe que até a vinda de Jesus os intercessores eram necessários. O ensinamento principal de Jesus foi dizer que à partir dali a comunicação entre o homem e o divino era direta, através da fé. O milagre seria possível trancado ali no seu quarto. Desde óbvio, que a pessoa soubesse como domar sua psique, porque é através dela que o impossível ocorre, que o desejo se materializa.
Como a Psicologia pode trabalhar nessa hipótese: Quem define seu presente, seu futuro, independente do que aconteceu no passado é você, que é a única pessoa que sabe qual é seu real desejo. Muitos desejos não se realizam porque não foram desejados por nós. Um psicólogo não é um guru, não se posiciona como um poderoso que vai te passar a receita, ou definir o caminho a seguir. Você escolhe o caminho, te ajudamos a usar sua potencialidade para chegar aonde deseja, ajudamos a que enxergue quais são as sombras que te impedem de caminhar e meios para resolvê-las. E se você resolver ir por outro caminho, voltar, correr, parar, vamos acompanhar, vamos respeitar sua decisão. Gradativamente você começa a perceber que quem manda na sua vida é você, quem define o que quer, o caminho que deseja seguir, a relação que quer viver é você e isso te torna poderoso. Nós olhamos dentro de você e ajudamos a revelar quem você é, um Ser divino. Mas te avisamos que pode ser difícil ainda, que você não está preparado, ou, que agora é um bom momento, que você está firme para o que deseja. Mas respeitamos qualquer escolha. Só não somos capazes de fazer o que um poderoso guru pode te prometer: Fazer por você. Isso nunca. Porque isso seria roubar a sua Vida, e isso por si só, já é um abuso.
Luciana Sereniski
CRP 12/06912
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