Como manter o amor?

12:09


Ah...o amor, esse milagre de encantamento, feito de encontros inesperados ou acasos favoráveis, é como um choque que eletriza, cega, encanta e também pode matar. Mas no mínimo, deixa-nos perdidos, sem saber como segura-lo. 

Já foi pior, ou melhor, depende do ponto de vista, mas desde a década de 70, numerosas transformações dos costumes e da vida privada vêm ocorrendo. Os contraceptivos e as discussões sobre o aborto, o feminismo, a progressão das uniões livres, os corpos mais expostos na mídia e na propaganda, a liberação de certa forma do sexo. Tudo isso acabou por emancipar os corpos e tentar emancipar a alma. 

O amor parece ter sido liberado sem limites, sem recalques, sem constrangimentos. O rigor e a ética nas relações vêm sendo contestada e as relações livres, não com relação à gênero, mas às diversas maneiras de se vincular ou se desvincular, vem sendo pauta de discussões.

Sexualidade e pecado parece ter sido extirpada e sexo e amor podem se dar as mãos. Mas ao contrário do hino que há percorrendo as redes sociais de que “ninguém solta a mão de ninguém”, em algum momento na relação, as mãos precisam estar livres e isso também não é pecado.

O amor nem sempre foi romântico. Ele, como base do casamento, talvez tenha sido a mais importante mudança na mentalidade, nos últimos dois séculos. Anteriormente casamento, que é o que poderia se chamar de relação, era um negócio e para a vida toda. Ainda é, em algumas culturas. 

Será que o amor romântico chegou tarde demais? Quando as mentes já estavam impregnadas pelas ideias de  necessidade de segurança, para as mulheres e de serem respeitados apenas se tivessem resultados de conquistas, incluindo a quantidade de mulheres, da mesma forma que de dinheiro, no caso dos homens?

Parece que o amor romântico, mal chegou e já está de partida. Foi uma moda que não deu certo, ou é incompatível com a mentalidade humana? Como há certo risco em determinar verdades, já que o amor está mais para filosofia e arte do que para a ciência, onde ele é visto através dos sintomas e substâncias produzidas, que mais parece uma doença do que um sentimento, vou me abster. Embora eu tenha opinião sobre isso.

Apenas como uma torcedora de que o amor romântico permaneça, ao menos mais um tempo conosco, para que possamos conhecê-lo melhor e não vá embora tão rápido, como o visitante de um enfermo que chega trazendo flores, senta de lado na poltrona, com medo de uma contaminação e vai embora rapidinho com a desculpa de que este precisa descansar, quero fechar esse texto com uma dica que pode ajudar aqueles que também querem saber mais desse desconhecido.

O amor só se mantém pelo desejo. Um é o oposto do outro. Mas não é equilibrar os dois, tornando-o cinza, ou café com leite, que faz o amor romântico continuar a existir. E sim, saber o tempo do amor, e, o tempo do desejo.

O amor quer transformar o outro em algo que nada nele seja estranho, o amor quer se fundir e que os dois sejam apenas um. Já o desejo, quer que o outro seja estranho, uma eterna surpresa, o desconhecido constante. 

Só os capazes de amar podem compreender isso, entendendo que sexo e amor soltam as mãos sim. Só os mais conscientes vão saber que essa é a hora do desejo e que essa não é a hora de buscar o desconhecido fora da relação, mas se tornar desconhecido para o outro, para que o outro se torne estranho para nós, e a sedução se faça necessária. Só então se pode voltar novamente ao momento do aconchego, dos abraços, do olhar apaixonado, do beijo demorado, das palavras doces, dos projetos em comum, da admiração, da sensação de eternidade, aquilo que costumeiramente chamamos de amor e que se não está de partida, no mínimo está se tornando fora de moda. 

Luciana Sereniski
CRP 12/06912


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