Equilíbrio Emocional

Depressão - Mais Informações

14:16


"As pessoas deprimidas pensam que se conhecem a si próprias, mas talvez só conheçam a depressão."
Mark Epstein

Desde há alguns meses que nem pareço eu. Farto-me de chorar, às vezes nem eu sei porquê, e nunca me apetece fazer nada. Não me lembro da última vez em que comi com apetite ou dormi um sono descansado. Parece que, ultimamente, tudo me corre mal…


Sintomas de Depressão 

A depressão é um humor negativo, persistente e prolongado que interfere com vários aspectos da vida da pessoa. Os sintomas variam com a gravidade da depressão. Os mais comuns são os sentimentos de tristeza e ansiedade, um humor instável, por vezes crises de choro sem motivo aparente e sintomas como alterações do apetite e do sono, redução dos níveis de energia, da capacidade de concentração e da autoestima e sentimentos de falta de esperança. Nas depressões mais graves, estes sintomas surgem de forma mais acentuada e acrescidos de uma diminuição clara do prazer em todas ou quase todas as atividades anteriormente consideradas agradáveis, uma alteração do nível de atividade motora (isto é, a pessoa fica ou mais lenta ou mais agitada), sentimentos de desvalorização ou culpa excessiva e pensamentos recorrentes acerca da morte (podem ocorrer pensamentos sobre suicídio, planos concretos de suicídio ou mesmo tentativas de suicídio).

Geralmente tudo se passa gradualmente, não necessariamente com todos os sintomas em simultâneo - aliás, é difícil ver todos os sintomas juntos. A intensidade dos sintomas pode variar com a altura do dia. Em geral, a pessoa sente-se melhor à medida que o dia avança, mas em algumas pessoas os sintomas pioram à noite As flutuações nestes sintomas são comuns - quando a pessoa se sente bem durante alguns dias, isso cria a falsa impressão de que está  melhorando.

Até que se faça o diagnóstico, praticamente todas as pessoas possuem explicações para o que se está a passar com elas, julgando sempre ser um problema passageiro. Contudo, se a depressão não tiver tratamento, os sintomas tornam-se cada vez mais evidentes. A pessoa pode levar à prática as tentativas de suicídio, ou pode retrair-se ao extremo de passar a maior parte do tempo na cama, isolada de tudo e de todos.


Tristeza e Depressão

A palavra depressão é frequentemente usada por muitas pessoas para descrever "fases más" ou períodos em que se sentem "em baixa". Contudo, estes sentimentos de tristeza são normais, sendo que a maior parte das pessoas os experiência como reação adequada e adaptativa a um dado acontecimento, muitas vezes envolvendo uma perda. É o caso da tristeza que acompanha a morte de uma pessoa que nos é querida, o fim de uma relação importante ou o fracasso de um projeto pessoal ou profissional. Quando a causa da tristeza é evidente para o indivíduo, ele pode esperar com algum grau de certeza que ela seja moderada e desapareça gradualmente.

Por outro lado, existe a depressão – causada pelas perdas anteriormente referidas, com outras causas ou sem causa aparente - que se torna demasiado intensa ou que se prolonga há demasiado tempo. Quando não existe uma causa visível, a depressão pode piorar, uma vez que a pessoa não consegue entender o porquê de se sentir desta forma, sendo que a sensação de perda de controlo agrava os sentimentos depressivos. Este segundo caso pode constituir uma forma de depressão mais disfuncional, e precisa muitas vezes de ser abordada diretamente para que possa evoluir e desaparecer.

Uma boa comparação que podemos fazer para esclarecer as diferenças entre a tristeza e a depressão é a seguinte: Tanto numa região com clima tropical como numa região com clima polar, existirão variações no tempo, dias mais quentes e dias mais frios. O clima é o estado de humor e o tempo as variações que existem dentro desse estado. Tanto a pessoa não deprimida como a deprimida terão dias melhores e piores, mas os de uma não se comparam aos de outra.


Por que surge?

Acredita-se que a depressão tenha um substrato bioquímico, ao nível dos mecanismos que controlam o estado de humor, sendo que esta ideia é apoiada pela comprovada eficácia dos antidepressivos, que atuam sobre esses mecanismos. Este substrato bioquímico poderá ser parcialmente genético e parcialmente adquirido ao longo da vida.

Contudo, no desencadear dos episódios depressivos são fundamentais, mais do que os eventuais fatores bioquímicos, os fatores sociais, ambientais e relacionais. As crises depressivas estão muito relacionadas com acontecimentos perturbadores e também com fases críticas do ciclo vital da pessoa (adolescência, maternidade, velhice…). Os acontecimentos perturbadores provavelmente disparam a depressão nas pessoas predispostas, vulneráveis.


Como se mantém? 

Uma vez instalada, a depressão tende a perpetuar-se a si própria. A pessoa desenvolve uma perspectiva negativa de si própria, das suas experiências e do seu futuro, e tudo o que lhe acontece a partir desse momento é distorcido de forma a comprovar estas perspectivas. A pessoa passará a: 1) exagerar os aspectos negativos (por exemplo, fazer equivaler um fracasso numa determinada tarefa a uma total ausência de valor pessoal); 2) deixar de perceber os aspectos positivos (por exemplo, minimizar um sucesso numa determinada área dizendo que foi apenas sorte); 3) interpretar fatos positivos ou neutros a uma luz negativa (por exemplo, assumir que se uma pessoa não correspondeu ao meu cumprimento na rua é porque me odeia e fingiu deliberadamente que não me viu). A pessoa fica prisioneira do seu próprio pessimismo. Não é pois de admirar que a tristeza, a inércia e todos os outros aspectos da depressão tendam a manter-se ou mesmo a agravar-se.

Muito importante é salientar que a depressão não é sinal de preguiça, fraqueza, falha de caráter ou falta de força de vontade. Aliás, a maior parte das pessoas deprimidas têm altíssimos padrões de exigência pessoal o que constitui, isso sim, um dos agravantes dos seus sentimentos de depressão.


Lidar com a depressão 

Primeiro que tudo: a depressão é tratável. Muitas vezes é difícil para uma pessoa deprimida acreditar que poderá algum dia vir a deixar de o estar, e isto deve-se precisamente à desesperança e sensação de falta de controle sobre a vida que são inerentes à própria depressão. Portanto, o que aqui se sugere é que, mesmo mantendo como hipótese a ideia de que isto não vai mudar, a pessoa se dê a si própria a possibilidade de descobrir o contrário.

Posto isto, há que ter em conta que as sugestões que se seguem são ideias muito simples, em alguns casos pouco mais do que senso comum, e não pretendem de forma alguma ser "a fórmula mágica para a cura da depressão" - procuram ser apenas um ponto de partida para começar a abordar o problema.


Abordagem nº1: Cuidar do corpo

O apetite, o sono, o desejo sexual e a capacidade de relaxar são alguns dos aspectos físicos afetados pela depressão. Por este motivo, agir sobre os sintomas físicos é uma forma de agir sobre a depressão. Sugestões:

1) Tente comer mais fruta e vegetais e mais farináceos. Reduza o álcool ( substância com efeito depressor a curto prazo, aumentando a intensidade dos teus sintomas).

2) Durma e descanse mas não exagere (6 a 8 horas por dia é suficiente). Quanto às insônias, não fique acordado na cama mais de 20 minutos - se vê que não está a conseguir adormecer, saia do quarto e faça qualquer coisa que o relaxe: veja televisão, leia … dessa forma, estará também a descansar. Na manhã seguinte acorde à hora habitual, e evite dormir durante o dia para facilitar o sono na próxima noite (quanto mais o seu padrão de sono fica desregulado, mais deprimido se sentirá).

3) É provável que não lhe apeteça ter relações sexuais. Explique isso ao seu parceiro, e faça-lhe ver que continua interessado nele e em partilhar outras coisas com ele até se sentir melhor. Normalmente os outros aceitam melhor os nossos comportamentos quando percebem que não são rejeitados, mas fruto de dificuldades nossas no presente.

4) Faça exercício físico, de preferência diário (apesar de, provavelmente, ser a última coisa que queira). Além do exercício, há procedimentos de relaxamento que pode utilizar para reduzir a sua ansiedade. (já descrito no blog).

5) Tente manter o seu corpo em movimento – aqui, o objetivo é apenas o de contrariar a inércia, que alimenta os ciclos auto derrotistas. Estruture o seu dia, determinando pequenos objetivos diários (que não sejam, nesta fase, nada de extremamente ambicioso). Planeje, para cada dia, atividades de divertimento e de prazer (mas se o prazer não for muito, evite martirizar-se por isso)


Abordagem nº2: Cuidar da mente

Os pensamentos, emoções e a forma como nos comportamos face aos outros, também mudam quando estamos deprimidos. É importante ter consciência disto, e adaptar algumas estratégias face a estes sintomas internos.

1) Face à tendência para ter pensamentos negativos, pode optar por várias abordagens. Faça listas. Das suas qualidades, das coisas boas que lhe aconteceram na vida, das que gostaria que lhe acontecessem no futuro, das pessoas que gostam de si, o que quiser, Face às afirmações derrotistas que lhe surgem com frequência (sobre si, sobre as suas experiências, sobre o futuro…), contraponha afirmações mais racionais (por exemplo hoje estou em baixa, mas sei por experiência própria que isto vai passar e que me sentirei bem novamente, vou esperar que passe). Isto não é pensamento positivo! É pensamento realista, que se opõe ao pensamento pessimista da depressão. E tem impacto em termos emocionais.

2) Envolva-se com as pessoas. Fortaleça os seus laços com as pessoas que lhe são próximas, reate contatos com pessoas que não vê há muito. Peça favores, e faça-os aos outros. Expresse aquilo que sente a quem achar adequado fazê-lo, da forma mais clara possível – seja tristeza, medo ou raiva; eles irão compreendê-lo melhor, e possivelmente, isto vai acalmá-lo.


Para finalizar…

Estas informações e sugestões podem constituir um bom ponto de partida para a mudança. Contudo, há que ter em conta que ler sobre depressão não nos faz sentir melhor - é preciso agir. Também é importante não esquecer que não é de um momento para o outro que se mudam os padrões deprimidos que por vezes no acompanham desde há muito tempo. Se tentou implementar estas sugestões e não obteve resultados, ou se gostaria de ter um acompanhamento mais individualizado contate um profissional de saúde mental. É sempre mais difícil combater a depressão sozinho, principalmente quando a pessoa, provavelmente, já se sente só e sem saídas durante grande parte do tempo. O apoio de um terapeuta pode fazer uma grande diferença.

Autodesenvolvimento

Mulheres Inteligentes, Escolhas Insensatas

13:24


Por que uma mulher bem educada, em boa situação profissional, escolhe um homem agressivo ou infiel? É bem possível que a opção reflita aspectos de sua personalidade reprimidos em uma parte do inconsciente que a psicologia analítica chama de sombra. Ter certa lucidez sobre o que nos motiva ajuda a construir ligações mais equilibradas e felizes.

Porque algumas pessoas inteligentes e, supõe-se, saudáveis emocionalmente, insistem em eleger os piores parceiros? Há quem se relacione com dependentes químicos ( álcool, drogas), infiéis contumazes, gente agressiva ou aproveitadora. Entre alguém sério, fiel, e outro sedutor ou até mau caráter, dão preferência ao segundo. O problema não se localiza no parceiro ou na parceira errados, mas na pessoa que insiste em ligações frustrantes. De acordo com o psicólogo suíço Carl Jung, possuímos um lado consciente e outro inconsciente, desconhecido. A uma parte do inconsciente deu o nome de sombra. Aí se abrigam, em função de um ideal de ego — devemos ser perfeitos, altruístas, bons — os aspectos negativos da personalidade. Contudo, mesquinharia e maldade são próprios do ser humano. Por isso reprimimos a nossa agressividade, a inveja e a maldade, que se alojam em nossa sombra. Quando menos esperamos, mas sempre nos momentos de fraqueza psicológica ou de grande tensão, a sombra aparece e nos ataca.

Perdemos o controle e agimos com raiva e hostilidade, o que não combina com nossas maneiras. Ficamos como que possuídos; de fato, é nossa sombra que nos possui. Por exemplo, uma jovem se casa e todos a consideram calma e delicada. Um dia, em um acesso de ciúmes, bate no marido e diz o que nem ela se imaginava capaz de dizer.

A sombra, ressalve-se, tem também aspectos positivos, reprimidos. Um exemplo é a criatividade, refreada para a pessoa ajustar-se à rotina, à escola, ao trabalho. Pode-se dizer que um homem de talento artístico, esgotado pelo trabalho, ficou com a criatividade na sombra.

De outro lado, como projetamos tudo o que é inconsciente, atribuímos ao outro os aspectos da nossa sombra. Isso talvez ajude a explicar as escolhas negativas. Por exemplo, se uma pessoa muito doce e delicada escolhe um parceiro de mau caráter, agressivo ou infiel sentimos pena dela. É tão boa e abnegada tendo que conviver com tamanho monstro. Mas é provável que as relações sejam complementares: o outro corresponde a um aspecto dela, que reprime a sua agressividade ou a vontade de ser infiel; vive, assim, seus aspectos negativos através do outro, e talvez considere justificado se tornar infiel também, em especial se o parceiro ficar fraco ou doente. No conto de fadas Barba Azul, a heroína se casa com o assassino apesar de saber que todas as suas mulheres anteriores desapareceram. Existe uma atração por esse lado sombrio, negativo, representado por um homem poderoso.

Quanto mais claro e brilhante um aspecto da pessoa — é mansa, controlada — mais forte a sombra agressiva; o oposto, uma pessoa agressiva, descontrolada, pode ter suavidade na sombra, que emerge em momentos de tensão. Quando chora no cinema, por exemplo.

Na paixão idealizamos o outro, que deve corresponder a uma imagem interna que nele projetamos. A interna traz também nossos aspectos negativos, sombrios. Com a proximidade deixamos de idealizar e aspectos negativos aparecem, os da pessoa escolhida e os nossos. E ambos nos tornamos o que verdadeiramente somos. O filme de Roman Polanski, Lua de Fel, é um exemplo de paixão que se torna ritual de humilhação — a história descreve uma relação sadomasoquista.

Essa é uma das maneiras de se tentar explicar o paradoxo: por que sempre queremos o mais difícil, e o impossível nos atrai tanto. O que nos atrai é o diferente, o desconhecido no qual podemos projetar e idealizar nossos desejos. A canção Meu bem, Meu Mal, de Caetano Veloso, o expressa: “Onde o que eu sou se afoga/ meu fumo minha ioga/ você é minha droga/ paixão e carnaval /meu zen, meu bem, meu mal.”

Para evitar escolhas erradas, é importante ter consciência o que nos motiva. A maior lucidez permite que não se siga uma paixão às cegas. E que, ao assumir uma ligação, se consiga equilibrar os aspectos positivos e negativos de um e de outro.

"O eterno adolescente é cativante, pois sintonizou bem muitos aspectos de sua presença interior. Podem apresentar frases que o fazem parecer maravilhoso e levam uma mulher a se sentir maravilhosa. Mas ele é frustrante demais para as mulheres, pois vai se afastando pouco a pouco quando elas, naturalmente querem aprofundar um relacionamento que se desenvolve muito bem. Se ao menos ele fizesse alguma coisa terrível, a mulher ainda poderia se livrar e ficar contente. Mas ele não faz nada de repulsivo, pois seu único defeito é a relutância em crescer".

Do livro: Mulheres Inteligentes, Escolhas Insensatas

Estudos Junguianos

Sonhos ajudam no equilíbrio da mente. Como interpreto?

12:33


"...os sonhos dão informações muito interessantes a quem quiser compreender seu simbolismo..." C.G.Jung

"Para interpretar o próprio sonho o melhor é tomar nota, escrever e tentar associar as palavras e personagens com lembranças e ideias espontâneas"

Carl Gustav Jung nasceu em 1875, numa pequena cidade da Suiça. Na sua biografia Jung conta vários sonhos, os primeiros de quando ainda era criança. Ele sempre valorizou muito o trabalho com os sonhos e tentava interpretá-los.

Por isso analisar sonhos é uma técnica muita usada pelos analistas junguianos.

Neste artigo será apresentada uma breve explicação sobre o trabalho analítico com os sonhos.

Freud escreveu a interpretação dos sonhos em 1900, e sua leitura estimulou Jung a valorizá-los ainda mais e a ampliar o método usado por Freud.

Interpretar sonhos era comum na Antiguidade. Na Bíblia aparecem várias referências aos sonhos e na Grécia Antiga os sonhos eram interpretados por sacerdotes.

Os sonhos, além de revelarem problemas e conflitos, também indicam o potencial criativo da pessoa e contribuem com ideias e soluções.

Nos sonhos o tempo e o espaço são diferentes de nossa vida consciente. Sonhamos com fatos e lugares de nossa infância como se fosse hoje. Uma pessoa pode ser ela mesma ou outra, animais fantásticos e lugares imaginários e personagens desconhecidos fazem parte do mesmo cenário. Perigos imaginários nos ameaçam, atores, celebridades ou assaltantes invadem nossa noite e nossas fantasias.

O sonho fala conosco mostrando conteúdos inconscientes que são revelados por meio dos símbolos, encontrados não somente nos sonhos mas em todos os momentos de nossa vida, via ideias e emoções, em fantasias, nos mitos, nos contos de fadas, na expressão de nosso corpo, em nossa criatividade.


Como interpretar um sonho

Para interpretar o próprio sonho o melhor é tomar nota, escrever e tentar associar as palavras e personagens com lembranças e ideias espontâneas.

Só o fato de escrever e lembrar já ajuda a trazer conteúdos inconscientes para a consciência, o que constitui uma das funções do sonho.

A linguagem do sonho é simbólica, de modo que no sonho um cachorro não é só um cachorro, é tudo o que o sonhador associa a esse animal e que vai depender de suas experiências. Pode representar amizade, fidelidade ou medo, rejeição. Por isso não existe um manual confiável para interpretar, já que cada pessoa tem suas próprias referências.

Ex: "Sonho com cachorros ferozes, presos num cercado e que tentam escapar". Nesse caso aspectos agressivos da personalidade do sonhador são reprimidos mas estão a ponto de escapar.

Algumas pessoas têm sonhos premonitórios que indicam o que ainda vai acontecer. São famosos os casos de desastres, guerras e catástrofes que mesmo antes de acontecer apareceram em sonhos. Mas nunca se sabe se vão acontecer de fato, apenas indicam possibilidades, podem também significar desastres ou guerras internas na psique (mente) do sonhador.

O sonho não diz o que já sabemos, muitas vezes diz o contrário e nos espantamos quando alguém tão bom e amigo aparece em nossos sonhos como um monstro ou bandido. Isso mostra que devemos ficar atentos seja para esse aspecto da personalidade da pessoa que ainda não conhecemos, ou para esse aspecto em nós mesmos, que não percebemos.

Jung referia-se a dois tipos de sonhos; os pequenos que trazem fragmentos do nosso dia a dia e os "grandes sonhos" que se originam no inconsciente mais profundo ou inconsciente coletivo, e que trazem imagens de símbolos religiosos e mitos. Quando temos um sonho assim acordamos emocionados, não conseguimos esquecer e tentamos entendê-lo.

Um exemplo: Sonho que "estou subindo uma montanha e que pessoas ao meu lado falam muitas línguas diferentes e tentam chegar ao topo."

Podemos ver que esse sonho faz uma referência à Torre de Babel. Temos que ver do ponto de vista do sonhador as dificuldades que ele está encontrando para se comunicar durante o caminho de sua vida.


Sonhos compensatórios

Também existem os "sonhos compensatórios" que suprem nossas carências e têm o papel de dar equilíbrio à psique, por exemplo: se estamos pobres sonhamos com dinheiro, e se estamos sozinhos sonhamos com alguém nos acompanhando. O sonho ajuda no equilíbrio da psique, trazendo à consciência conteúdos inconscientes apontando o caminho para o desenvolvimento do ego.

Os dicionários de sonhos não ajudam muito porque neles os símbolos são fixos e as pessoas têm referências e atitudes diferentes, assim como são distintos os momentos nos quais sonham.

Com respeito aos temas, existem sonhos que são básicos, muitas pessoas sonham com temas parecidos, mas ouço sonhos há mais de 30 anos e nunca ouvi dois iguais.

Por exemplo: sonhar que está caindo, sonhar que está voando, sonhar que levou um tiro, que está no banheiro, que está num lugar desconhecido ou que está na casa da infância. Os temas são comuns mas têm significados diferentes para cada pessoa.

Sonhar que se está voando pode significar que a pessoa está fora da realidade, não tem os pés no chão.

Sonhar que está na casa da infância, pode ser uma personalidade que continua numa fase infantil

Sonhar que o mar está bravo e invadindo a cidade pode mostrar que conteúdos inconscientes, emoções sentimentos, estão descontrolados e invadindo a consciência.

O analista junguiano não trabalha somente com sonhos; se eles aparecem são bem-vindos e interpretados, já que trazem conteúdos inconscientes e aspectos desconhecidos, mas fantasias despertas têm o mesmo valor. Deve se levar em conta também que os sonhos na terapia são considerados em série - sequenciais. Ou seja, o sonho seguinte, por exemplo, pode complementar um aspecto do sonho anterior.

Há quem diga que não sonha nunca, mas todos sonhamos; somente alguns não se lembram deles.

Sonhos ajudam a realizar o potencial de vida que existe em todos nós, e mesmo que não sejam interpretados são de grande ajuda para nosso equilíbrio psicológico. Eles possuem uma sabedoria profunda e nos propiciam descobertas reveladoras e remetem ao sentido real de nossas vidas, ajudando a encontrar nosso próprio destino.

Equilíbrio Emocional

Falta de desejo sexual interfere na autoestima

17:25


A Mulher precisa estar de bem com a saúde e com a mente para sentir prazer

Durante muito tempo o prazer feminino nas relações sexuais foi preterido ou simplesmente ignorado. Felizmente o ponto de vista mudou. Além da mulher reconhecer que é tão merecedora do orgasmo quanto o homem, antigos tabus sobre a sexualidade feminina estão sendo revisitados. A frigidez é um deles. O mal não trata-se apenas da falta de prazer feminino sem motivo aparente, como no passado já foi encarado. O problema também não é um inconveniente sem cura. Frigidez é um termo incompleto para definir a inibição do desejo feminino.

O distúrbio sexual se caracteriza pela diminuição da libido e ausência de orgasmo e, pode abalar a autoestima das mulheres que sofrem com a falta de prazer nas relações sexuais.


Entenda como a falta de desejo sexual interfere na autoestima

Existem as mulheres que não conseguem encontrar o ponto máximo de uma relação sexual em situações específicas de incômodo ou cansaço. Por outro lado, há quem já tenha encontrado o clímax durante um período da vida, mas, por algum motivo, parou de sentir ou apresenta dificuldades de se entregar a uma relação. E, por fim, há um grupo de mulheres que nunca vivenciou a experiência do orgasmo.

Há duas causas básicas que impedem a mulher de atingir o orgasmo. A primeira e, de certa forma mais fácil de tratar, é a orgânica. Distúrbios de hormônios podem influenciar durante o momento mais íntimo da relação, o que acontece com a minoria delas. Nestes casos, apenas a reposição destas substâncias no corpo resolvem a ausência do prazer intenso.

O outro fator que atrapalha o desempenho sexual está ligado ao emocional e afetivo. Estes demandam mais tempo para resolver e exigem um estudo aprofundado do histórico da paciente.

Por conta da dificuldade, algumas mulheres ainda resistem a procurar ajuda psicológica. Há ainda a necessidade de aprender a respeitar certos momentos da própria vida, que inibem o apetite sexual. Os primeiros meses de uma gestação, por exemplo e o pós-parto bagunçam a produção de hormônios, o que impedem muitas vezes o desejo de sexo.

No caso das mulheres que se tornaram mães, por exemplo, a produção dessas substâncias acontece de forma diferenciada porque o corpo feminino entende que é o momento de cuidar do bebê e a ovulação - e, assim, os hormônios que estimulam o sexo - passam a ser algo secundário.


Tratamentos para o prazer

Para conseguir apimentar uma relação sexual as mulheres possuem uma arma poderosa e que nem sempre conhecem a fundo: o próprio corpo. Conhecer os pontos mais sensíveis, ajuda a relaxar na hora certa e permite o encontro com orgasmo.

Soluções não faltam para quem quer encontrar o prazer na relação, mas parte da solução pode estar no parceiro. Muitas mulheres não cogitam a possibilidade de pedir para que o parceiro faça mudanças na rotina sexual do casal. Elas sentem tanta vergonha que preferem não falar. A baixa autoestima pode sabotar algo que poderia ser revisto com uma simples conversa entre parceiros. O parceiro também pode ajudar na busca do prazer e ambos, de maneira íntima, têm a chance de encontrar juntos zonas do corpo mais sensíveis.

Mas para isso o primeiro passo é conhecer seu corpo, conhecendo a si mesma.

Luciana Sereniski
CRP 12/06912

Autodesenvolvimento

Dez dicas para motivar-se através das suas emoções

21:27


Medo, raiva, alegria, afeto e tristeza: matérias-primas para a paixão de viver e vencer

As cincos emoções descritas acima são as chamadas “emoções naturais”. Todo mundo tem. Até o meu cachorrinho. Estas emoções estão impregnadas em nosso código genético, e são disparadas por algum acontecimento exterior. Um sorriso de alguém, a aproximação de alguém com quem criamos imediata afinidade, um olhar ameaçador, um grito de socorro, uma porta rangendo, uma criança brincando. Cada um possui a tendência de estar mais aberto para um ou outro tipo de emoção. Mas todos as possuímos. E elas são ótimas, em todos os sentidos.

O medo provoca reações químicas no organismo para reagirmos ou fugirmos a um perigo. A raiva deixa a gente pronto para enfrentar algo muito difícil. A tristeza induz o corpo a parar, a ficar mais lento, a diminuir o ritmo, e isso é fundamental, afinal, o homem não pode viver em alta performance o tempo todo. O afeto nos aproxima dos outros, nos permite criar nossos filhos. A alegria dispara neurotransmissores poderosos, que nos dão prazer e êxtase.

Todas estas cinco emoções básicas possuem o seu próprio tempo de manifestação, e sua energia se esvai em seu próprio tempo, que é sempre rápido e não causa dor ou sofrimento. Saber lidar com estas emoções é extremamente saudável para o seu desenvolvimento pessoal e profissional, pois elas lhe dão energia para agir, reagir, parar, ponderar.

Nossa sociedade moderna ensina, nas escolas, que o conteúdo intelectual é o mais importante para se ter sucesso na vida. Isto é uma grande mentira. Conhecimento não leva ninguém a lugar nenhum. Acredito que você já deve ter visto pessoas com extrema capacidade intelectual e sem sucesso, enquanto que outros, com pouca instrução, mas muita vontade, se dão muito bem. É exatamente este o ponto. Saber se bancar é conhecer a si mesmo, suas emoções, dominá-las a seu favor e… correr pro abraço.

Vou deixar dez dicas abaixo para que você aprenda a utilizar suas emoções com sabedoria e focado no seu desenvolvimento pessoal:

1 – Acostume-se a ver que o seu mundo é criado a partir de “dentro” de si.

2 – Observe suas emoções, sem julgá-las. Não as rotule. Simplesmente perceba: estou com medo, com raiva, com afeto, alegre ou triste. Só isso. 

3 – Não se importe com as emoções que você irá despertar no outro. Coloque uma plaquinha no pescoço: “autoescola de emoções”, e faça suas barbeiragens emocionais. 

4 – Curta suas emoções. Tristeza, medo e raiva não são negativos. Alegria e afeto não são positivos. Isso são conceitos que alguém inventou. 

5 – Perceba qual tipo de emoção o faz ir para frente, o faz agir. 

6 – Então, descubra quais são as situações mais comuns que disparam este tipo de emoção. 

7 – Se for confortável a você, crie mentalmente esta situação, deixe a emoção surgir e aja. O cérebro humano não distingue pensamento criado de situação real: para ele, é tudo a mesma coisa. 

8 – Perceba se suas emoções se esvaem em pouco tempo. Se não, elas estão sendo alimentadas artificialmente pelos seus pensamentos, e é preciso cortar esta alimentação. 

9 – Adote o hábito de meditar, seja parado, ou andando, ou dançando. Perceba-se com todo o corpo, não apenas com a mente racional. 

10 – Descubra as emoções no seu trabalho, na sua carreira. Tanto raiva, como medo, alegria, afeto ou tristeza, na dose certa, sob o seu comando, fazem de você alguém especial e diferenciado. Liberte-as, sempre focado em seu sucesso pessoal. (Possato)

Autodesenvolvimento

Dinheiro é psicológico - Parte 2

14:13


Continua...

Se a problemática envolvendo a dificuldade de lidar com dinheiro é muito profunda, os resultados têm gravidade equivalente, desânimo profundo. Os quadros ligados ao desânimo são muitos. Primeiro, uma atitude pessimista e derrotista contaminando não só o trabalho, mas vários setores da vida. Às vezes essa atitude, principalmente num momento de crise, é acompanhada de baixa resistência orgânica, ficando mais suscetível a gripes e infecções. Mas varia de acordo com o ponto mais vulnerável de cada um: a pele, o estômago, a hipertensão. É importante saber que esse calcanhar de Aquiles não age sozinho. Colaboram para o surgimento dessas e outras enfermidades o sedentarismo, a alimentação inadequada e as tensões da vida diária. Afeta principalmente quem trabalha sem prazer.

Sintomas de somatizações não são as únicas possibilidades. Multiplicam-se os casos de ansiedade aguda(crises de pânico podem estar relacionados a isso), e num ponto mais extremo, o sentimento de descrença total, a perda da esperança, podendo caracterizar uma espécie de morte psíquica. É quando não se acha sentido em nada e se pensa que nunca vai acabar o sofrimento.

Economizar é a tônica de muitas famílias e os filhos vão crescendo com essa sensação de que o dinheiro vai faltar a qualquer momento. Em cursos realizados pela economista Susan Leibig, ela percebeu que pessoas com padrão de vida e ganho semelhantes apresentam rendimentos extremamente diferentes um dos outros. Por que o dinheiro de um rende mais do que o dinheiro do outro? O padrão familiar é mais uma explicação. Por repetição de estratégia as pessoas vão assimilando a relação que devem manter com o dinheiro, e quando repetem o medo da falta constante acabam ganhando apenas para pagar as contas, quando ainda dá para isso. Essas pessoas quando conseguem ganhar mais inevitavelmente aparece algo a mais para pagar. Para Susan, não existe explicação única para isso. A resposta está na psicologia, na física quântica, e na sua opinião, a energia do dinheiro coincide com a junção de dois mundos o da espiritualidade e da materialidade. Em suma, só recebe quem sabe dar, quem é generoso com o outro e doa bem-estar material. Este está pronto não só para ganhar dinheiro, mas para usufruir com prazer da própria riqueza.

Muitos podem não compartilhar dessas ideias, mas não parece restar dúvidas de que as crenças pessoais de cada um, sejam elas de que ordem for, estão de fato na raiz da sua personalidade e de seu comportamento e, em última análise, constituem a estrutura básica que se abre ou se fecha para manipular todos os recursos que um ser humano possui. Inclusive o dinheiro.

Revista Viver Psicologia (Mente e Cérebro)

Autodesenvolvimento

Dinheiro é psicológico

14:02


Aspectos subjetivos que envolvem a administração financeira são determinantes para definir a maior ou menor riqueza de cada um. 

A secretária Márcia, lembra que passou um período em sua vida frequentando consultórios médicos. Problemas recorrentes no estômago exigiam um verdadeiro ritual de peregrinação aos especialistas, exames e remédios. Eventualmente uma alergia misteriosa e fortes dores de cabeça também a incomodavam. Ela não sabe bem se a melhora veio em decorrência do tratamento ou de uma guinada radical em sua vida. Após 11 meses desempregada, Márcia conseguiu um bom emprego em uma multinacional. O certo é que, tão logo voltou a trabalhar, em pouco tempo, sentiu-se livre dos problemas de saúde.

Já o comerciário José ganhou com a aposentadoria aos 52 anos, dois problemas crônicos. Descobriu que sofre de diabetes tipo 2 e hipertensão. Avalia que sua retirada do mercado de trabalho lhe trouxe mais perdas que benefícios. Representou uma perda do poder aquisitivo, em pouco tempo percebeu a dificuldade de uma recolocação profissional, pelo menos no trabalho formal, e os diagnósticos médicos fizeram-no se dar conta de que começa a envelhecer. “O pior momento foi no ano passado, quando minha filha estava se preparando para casar e eu não tinha dinheiro sequer para ajuda-la a pagar o vestido. Nessa época fui parar duas vezes no hospital, com crises de hipertensão.”

Psicólogos neste momento percebem a correlação entre a situação financeira e saúde emocional: “cada pessoa tem seu jeito peculiar de lidar com dinheiro, e ao contrário do que a maioria das pessoas espera, ter dinheiro não significa ter mais paz de espírito. A relação entre uma coisa e outra não é tão direta”, afirma a psicanalista Vera Rita de Mello Ferreira. 

Todo mundo quer ter mais dinheiro, mesmo os mais ricos, mas a forma de lidar com os recursos financeiros e seus objetivos diferem de pessoa para pessoa. Nem todos procuram com o dinheiro, ampliar o acesso aos bens de consumo. Há aqueles para quem a preocupação principal é acumular e guardar. Também, é verdade, há quem prefira não ter muito. O dinheiro pode representar uma ameaça, a pessoa se sente não merecedora, ou teme se tornar alvo de inveja alheia. Em geral, não é uma atitude consciente e o indivíduo pode se dar conta disso apenas no consultório psicológico. Não é o que mais ocorre, mas essa postura é mais comum do que se imagina e pode indicar o temor de se diferenciar do grupo, deixando de ocupar um lugar original e desprendido. “Acontece bastante entre jovens de classe média alta. Eles sentem culpa ou vergonha em ostentar, dizem que nem ligam para isso, mas são os pais quem bancam desde o carro à faculdade”. 

Existe crise econômica no mundo todo, mesmo com nossos avanços brasileiros ainda passamos por elas, mas no nível pessoal, o argumento serve apenas como desculpa para terceiros, não apazigua o espírito de quem se sente culpado ou punido por ser ele o atingido pelo infortúnio do desemprego, da insolvência financeira ou de ambos. Uma investigação mais profunda na estrutura psicológica dessas pessoas não custa a revelar falta de flexibilidade, de jogo de cintura e, muitas vezes, uma dificuldade para interagir socialmente. O diagnóstico não descarta a possibilidade de existirem chefes difíceis de lidar, cortes ou reestruturação na empresa, mas nesse momento cresce a importância de manter uma permanente rede de relacionamentos profissional. Preservar as pontes de contato com antigos empregadores e colegas de trabalho é uma das formas de cultivar essa habilidade.

Em suma, a falta de trabalho, a situação de desemprego, estão mais ligados a fatores emocionais do que conjunturais. E dentre esses fatores, a qualidade das ligações mantidas com outras pessoas tem papel fundamental. Além dos quesitos básicos que hoje são também computação e inglês, está a capacidade de se envolver perante o obstáculo, e ter mais tolerância à frustração. Ganha pontos quem consegue ficar em pé durante a tempestade.

Há pessoas que trabalham muito, mas não conseguem canalizar energia para as atividades de forma produtiva. O trato com o dinheiro revela a mesma personalidade. Para alguns os gastos não resultam da satisfação de necessidades, são encarados como forma de autoafirmação ou de forma a se identificar com o grupo. A motivação pode ser tanto a impulsividade quanto uma necessidade muito grande de se sentir aceita, e por isso começam a adquirir coisas que o grupo tem. A ambição não é ruim, mas tem que estar compatível com os recursos internos. Se a pessoa não é proativa, não exerce a ação para conseguir o que deseja, isso torna-se um problema. Quando essa é a realidade projetar no outro ou nas condições fora de si mesmo constitui a saída mais recorrente. “Eu não tenho sorte queixam-se essas pessoas”. A baixa tolerância à frustração e a inabilidade em lidar com os limites também cria ideais incompatíveis com a possibilidade real e fomenta comportamentos impulsivos. Nesses casos ter um excelente preparo profissional não ajuda a pessoa a suprir essas deficiências. É mais produtivo mexer na estrutura, na essência da pessoa. Para isso além da conscientização, necessita muito empenho de energia. Baixa autoestima e narcisismo são algumas condições mais notadas em indivíduos com a tendência a gastar demais. Necessidade de autoafirmação e comportamento reativo são característicos de quem tem muita dificuldade de mudar.

O avarento ou mesquinho, por exemplo, tem medo de dividir com o outro, de se arriscar, e tem dificuldade de ser proativo. Mas porque precisa economizar tanto? Que medo esconde? Que energia está segurando? As respostas são individuais. Alguns economizam a vida toda, porque temem precisar de dinheiro por alguma fatalidade no futuro. Não é raro somatizarem alguma doença, acabarem mesmo tendo que gastar toda sua poupança em remédios e outros tratamentos. O hábito de reter também pode vir da infância em resposta a um complexo de inferioridade. São pessoas que normalmente não dividem nada, nem com elas mesmas, afirma a psicóloga Luiza Gubitosi de Medeiros. 

Continua... Se a problemática envolvendo a dificuldade de lidar com dinheiro é muito profunda, os resultados têm gravidade equivalente, desânimo profundo...

Matéria da Revista Viver Psicologia(Mente e Cérebro)

Estudos Junguianos

O que diz Jung sobre Religião

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Jung jamais fez afirmações metafísicas sobre a existência de Deus, mas viu na religião uma forma de diálogo do Ego com o Self.

Qual a visão de Jung do fenômeno religioso? Será que ele afirma existir um Deus transcendente? Ou parte de um ponto de vista materialista agnóstico, no que se refere às manifestações do Sagrado?

Existe uma curiosidade muito frequente a respeito do interesse de Jung pela religião. Adiantando a pergunta acima, Jung não fez afirmações metafísicas a respeito de Deus, isto é, não afirmava, nem negava a existência de Deus.

Jung procurou as bases da religião na psique, nos seus aspectos mais profundos e inconscientes. Encontrou na vida psicológica arquetípica os fundamentos do comportamento religioso. Numa carta publicada em “A vida simbólica”, o próprio Jung respondeu:

“Encontramos muitas representações de Deus, mas o original ninguém consegue encontrar. Para mim não há dúvida de que o original se esconde atrás de nossas representações, mas ele nos é inacessível. Jamais estaríamos em condições de perceber o original porque deveria ser antes de mais nada traduzido em categorias psíquicas para tornar-se de alguma forma perceptível. E presumo que a diferença entre o ser humano e o criador de todas as coisas é incomensuravelmente maior que entre um ser humano e uma barata. Por que seríamos tão imodestos a ponto de supor que poderíamos encerrar um ser universal dentro dos estreitos limites da nossa linguagem?”

O mestre da psicologia profunda evitava ultrapassar os limites da sua ciência. Não ousava sair do seu objeto de estudo, que é a psique e suas leis e formas de funcionamento. Tal seriedade garantiu a ele a possibilidade de ser o fundador de um novo paradigma que fecundou as bases seguras de vários ramos da psicologia científica, entre elas a psicologia analítica, a psicologia arquetípica, a psicologia simbólica e também a psicologia transpessoal.

Jung abriu um vasto campo de pesquisa, no que se refere às bases psíquicas do ser humano e buscou a gênese de sua complexidade. Ampliou o entendimento das relações do consciente com o inconsciente, observando empiricamente, por intermédio de sua prática clínica, as manifestações dos arquétipos, aquilatando de forma científica a profunda e determinante influência deles na produção dos sonhos e de todas as formas de comportamento, religiosos ou não. Também observou as produções artísticas, folclóricas e religiosas pelo prisma arquetípico. Assim postulou que os arquétipos são os responsáveis pelas produções das imagens religiosas, tanto individuais quanto coletivas.

A curiosidade por Jung nos remete a um dos seus conceitos mais fascinantes: o inconsciente coletivo. Trata-se do fundamento da vida psíquica, da base que molda todo o comportamento religioso. Para Jung, e depois para seus seguidores, a consciência se desenvolve por influência dos arquétipos. Cada arquétipo corresponde a um tipo de consciência específica. As imagens religiosas são produtos dos arquétipos. Ex. As imagens das madonas seriam imagens arquetípicas referentes ao arquétipo da Grande Mãe. Em cada época ou cultura os arquétipos se expressam criando imagens que são adoradas, divinizadas e cultuadas em ritos e cultos.

A pesquisa de Jung foi marcada pela sua profunda intuição aliada ao seu já citado rigor científico. Seu interesse pelo religioso o distanciou de Freud, que também escreveu textos de grande relevância sobre religião. Porém, discordavam no que tange aos mistérios da fé.

Para Freud, a religião tinha seus dias contados(Futuro de uma ilusão). Ele entendia a religião como um arcaico mecanismo de defesa infantil do homem diante da angústia de um Cosmos indiferente a ele. O pai da psicanálise entendia que, conforme a ciência avançasse, no tempo e na história, e o homem fosse adquirindo o conhecimento necessário para a resolução de seus males, acabaria então, abdicando da ilusão que é a religião. Venceria assim as suas dificuldades pelo princípio da realidade, de mãos dadas com a ciência, a única forma segura de evolução da consciência.

Como vimos, o novo paradigma científico desenvolvido por Jung na psicologia é simbólico e arquetípico. A psicologia profunda busca, tanto na religião oriental, quanto na ocidental, novos níveis de consciência, trazidos pelos arquétipos rumo a consciência da totalidade.

Podemos assim, ao estudar a Bíblia pelo prisma simbólico, observar o desenvolvimento do dinamismo da consciência patriarcal, como também o dinamismo da consciência pós-patriarcal, expressa no Novo Testamento. Assim, Jesus encarna em si uma nova consciência, que a psicologia simbólica denominou de alteridade. Podemos chamá-la de consciência do Outro, ou consciência da compaixão que integra as polaridades em si mesma.

Portanto, as religiões falam da própria psique, são expressões dos arquétipos, que por intermédio de seus símbolos correspondentes expressam e propiciam ao homem novos saltos de consciência.

Diria Jung: “A psique não oferece um ponto de vista objetivo exterior a ela”, como muitas vezes nos fazem acreditar o dogmatismo e o fundamentalismo religiosos. Cabe ao homem buscar em sua interioridade os caminhos que o levam a estados de consciência: Atma, Nirvana, Tao ou Reino de Deus, e assim descobrir o amor que é a expressão mais clara da Divindade dentro de nós.

Na prática clínica se observa um grande distanciamento da maioria dos pacientes em relação a fé cristã. E não só no consultório, mas na sociedade como um todo, há um profundo desconhecimento tanto da mensagem de Cristo quanto da Igreja de uma forma geral. Houve uma distorção da mensagem original de Jesus. Por isso muitas pessoas entendem as igrejas como uma máquina de produzir culpa e acabam se distanciando de suas raízes espirituais sem conhece-las em sua profundidade e beleza. Acabam importando outras religiões, também com seus exageros e pré-conceitos. Assim religiões pessoais são estruturadas com pouca profundidade, com símbolos chineses, japoneses, africanos, fazendo parte do mesmo altar cristão.

Em várias ocasiões, Jung deixou claro a sua opinião de que importar religiões de outras tradições e substituí-las pela original era um perigo psicológico. Para ele tratava de um desenraizamento que colocava a psique em risco de dissociação. Tratava-se também do velho hábito de valorizar mais o que vem de fora. O importado é sempre melhor, dizia ele.

Tal como Freud, Jung fez em diversas ocasiões críticas à religião infantilizada, isto é, defensiva, que projeta nas figuras arquetípicas de pai e mãe as divindades protetoras, denunciando assim a ação dos mecanismos de defesa arcaicos, relacionados aos medos infantis que vivem na interioridade do homem racional.

Mas diferentemente de Freud, Jung encontrou nas religiões seus aspectos positivos. Observou metáforas nelas contidas da ligação do ego com o Self(que também pode ser chamado de Arquétipo Central ou, se preferirmos, de arquétipo regente, por ser o arquétipo responsável por toda a organização dos demais arquétipos que estruturam a personalidade). Para ele a figura de Cristo(centro da mandala cristã) representava simbolicamente o Arquétipo Central. Por este prisma, a mensagem de Jesus é a expressão do Self. O evangelho nos diz que o verbo se fez carne. Não foi a voz do Ego, mas a voz do Self que se expressou no messias Cristão. Jesus, portanto, falou da mais profunda intimidade de seu Ser. Ao escutarmos sua mensagem de coração aberto nos religamos ao nosso próprio Self e nos distanciamos do ponto de vista do ego.

Jung resgatou o sentido do sentimento religioso para o homem moderno, que não se convence com uma fé dissociada da racionalidade.

Marie-Louise von Franz, uma grande colaboradora de Jung, comenta: “Jung preferiu servir ao centro último, mais íntimo, à quantidade desconhecida das profundezas da psique, a que deu o nome de Self, e que hoje se manifesta nos seres humanos como a imagem de um ‘grande ser humano que tudo abarca’, uma ‘natureza divina’, que difere do ego e que só pode ser encontrada no interior da pessoa, quando já não pode ser projetada.

Jung desenvolveu como poucos o entendimento psicológico dos mistérios do sagrado.

Ao dizer que a divindade habita dentro do ser humano, está dizendo que existe um Outro dentro do sujeito que não é o ego, mas que o sustenta do berço ao túmulo em todo processo de individuação. Esse outro podemos entender como o Self, o Grande Eu, o Cristo, no caso da religião Cristã.

Jung viu na religião, portanto, o diálogo, do ego com o Self de uma forma mais protegida. O inconsciente tem o seu aspecto terrível e ameaçador, a religião é uma forma de lidar com essa força transpessoal inconsciente de modo mais seguro. Esse processo de “religação”, ou de comunicação do ego com o Self, podemos chamá-lo de “processo de individuação”.

Na prática clínica, toda a teoria fica bem mais clara. Não é difícil observar no centro da personalidade do indivíduo imaturo um vínculo de dependência psicológica, geralmente simbiótico. O objeto que recebe a projeção da divindade passa a ter a força de um deus na sua psique. O individuo torna-se um satélite desse deus. Teme-o, deseja-o, cultua-o e se submete à ele. Além de render-lhe sacrifícios e rituais. Esse deus pode ser o dinheiro, a própria fama, um homem ou uma mulher idealizada, a lei, pode ser um parente divinizado, ou o próprio ego que se aloja no seu centro, isto é, no lugar do Self.

O fato é que o centro do indivíduo imaturo é sempre representado por uma criatura ou coisa que o subjuga e domina. Assim como a criança diviniza(necessariamente) os pais no desenvolvimento de sua personalidade, o adulto imaturo cria vínculos de profunda dependência com objetos externos que cultua como deuses e a eles fica fixado, às vezes por quase toda existência. É a criança interna ferida e negligenciada, que vive inconscientemente no adulto, que juntamente com os mecanismos de defesa inconscientes , distancia o indivíduo do sentimento religioso autêntico.

São as chamadas fixações narcísicas. No seu aspecto criativo, a verdadeira religião, assim como a psicoterapia, promove a transcendência dos vínculos de dependência infantil que impedem a relação com o Self.

A leitura simbólica do Novo Testamento conduz o indivíduo à ruptura dos vínculos que os distanciam do seu Self e o mantêm cativo à neurose quase sempre inconsciente. A religião pode ser uma grande via de encontro com o Self, na medida em que expõe a sombra ao ego e o convida a abraçar a sua cruz(conflito) rumo ao Self.

É, portanto, o reconhecimento do centro divino e a sua relação com ele a proposta de Jung. Conhecer a própria tradição espiritual é conhecer mais sobre si mesmo. Da mesma forma que se diferenciar de falsos deuses que servimos muitas vezes inconscientemente. O Self parece pedir reconhecimento e busca a diferenciação do sujeito de tudo que é exterior a ele. Encontramos no Evangelho:

“O que ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e o que ama mais o filho ou filha que a mim não é digno de mim. O que não tomar a sua cruz e me seguir não é digno de mim. O que se prende à sua vida perdê-la-á; e o que perder a sua vida por meu amor, achá-la-á. (Mateus)